Não, não foi em Minas Gerais: a história da 1ª mina de ouro do Brasil

Mais de 100 anos antes do Ciclo do Ouro de Minas Gerais, o minério dourado já era explorado em outra região do Brasil

“Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos”, assim escreveu Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, Dom Manuel I, nesta carta de 1º de maio de 1.500, que seria o primeiro documento escrito da história do Brasil.

E, de fato, os desejos de extração dos portugueses tão cedo seriam saciados. Enquanto os espanhóis encontravam prata no Peru já em 1.545, no Brasil os metais preciosos só foram descobertos no final do século XVI. E, diferente do que se pensa, não foi em Minas Gerais. O ouro, na verdade, estava no estado de São Paulo. Ou, como era chamado à época, na capitania de São Vicente.

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Atualmente, o ponto mais alto do município de São Paulo é Pico do Jaraguá, o maior em região metropolitana do País. Hoje, o local é um mirante de onde se pode avistar toda a capital paulista. Mas há quatro séculos, exatamente o mesmo Jaraguá foi a primeira mina de ouro do Brasil. Comparativamente, o ciclo do ouro e do diamante de Minas Gerais só começa no século XVIII.

No início do século XVII, o garimpeiro sertanista Clemente Álvares informou à Câmara da Vila de São Paulo, principal cidade de São Vicente, que vinha explorando ouro na região, pelo menos, desde 1592. Outros pontos da Grande São Paulo também foram área de extração aurífera, como a Serra da Cantareira, Guarulhos e Santana de Parnaíba.

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Em Guarulhos, por sinal, a extração do ouro seguiu até o século XIX, numa prova da extensão das reservas do minério. Conforme o livro As Minas de Ouro e a Formação das Capitanias do Sul (2013), de Nestor Goulart Reis, houve pelo menos 150 minas de ouro, a partir do século XVI, entre São Paulo e o norte de Santa Catarina.

A descoberta precoce do metal dourado levou São Paulo a ter, também, a primeira casa de cunhagem de moeda do Brasil. Aberta em 1.601, na área que corresponde ao centro da cidade de São Paulo, ela antecedeu em mais de 90 anos a Casa da Moeda de Salvador, fundada em 1694, município que era, então, a capital do Brasil colonial. No município de Iguape, litoral paulista, havia tanto ouro que ali foi fundada uma das primeiras casas de fundição do País, onde eram arrecadados os impostos da Coroa portuguesa.

Mesmo com o pioneirismo, os números de São Paulo são tímidos se comparados com Minas Gerais. Entre 1.600 e 1.820, isto é, em 220 anos, São Paulo havia extraído 4.650 arrobas de ouro, cerca de 68 toneladas de ouro. Minas, com a extração iniciada um século mais tarde, ao longo de 120 anos, extraiu 35,8 mil arrobas, mais de 526 mil toneladas de ouro. E os dois números são apenas os oficiais, aqueles contabilizados pelos funcionários da Corte de Portugal.

Mapa antigo aponta alguns pontos de extração de ouro em São Paulo
Mapa antigo aponta alguns pontos de extração de ouro em São Paulo (Foto: Reprodução/Twitter)

A exploração das reservas auríferas estava ligada diretamente ao contato com os indígenas. Primeiro, a própria descoberta do ouro estava relacionada aos nativos. "Onde havia aldeias geralmente havia ouro por perto", explicou o arquiteto e historiador Nestor Goulart Reis ao portal Aventuras na História.

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Em cartas, muitos jesuítas e alguns exploradores, como o corsário britânico Thomas Cavendish, revelavam ter recebido dos indígenas “itaberabas”, palavra tupi que significa “pedra que brilha”. A mão de obra de extração, no início da extração, também era indígena, embora fosse “remunerada”: em troca do trabalho, eles recebiam não dinheiro ou parte do ouro, mas utensílios de ferro, considerados uma novidade trazida pelos invasores.

A partir do século XIX, com o Império, a atividade mineira em São Paulo entra em declínio. Àquela época, o estado já avançava como potência agrícola. As minas, devido a isso, acabaram não sendo exauridas. Por isso, muitos garantem - ainda hoje, é possível achar ouro em São Paulo.

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