Covid-19: médico de Manaus relata desespero nos hospitais e falha de "tratamentos precoces"
Com relatos de mortes, o supervisor da Unidade de Terapia Intensivo (UTI), frisa que todos os seus pacientes realizaram "tratamento precoce" e ainda assim desenvolveram casos graves da doençaDiante da crescente reprodução de críticas à atuação dos profissionais de saúde de Manaus, o médico cardiologista Anfremon Neto, coordenador da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Getúlio, foi até as redes sociais para rebater tais argumentos. Para ele, a afirmação de que o colapso do sistema de saúde poderia ter sido evitado caso os médicos do Amazonas tivessem receitado “tratamentos precoces” para pacientes com Covid-19 é um absurdo, principalmente pelo fato de que a maior parte dos pacientes em estado grave atendidos por ele possui histórico de uso de tais tratamentos.
“Sacanagem com a gente, profissional da área de saúde, que estamos ali todos os dias. Vejo pelo menos 50 doentes, e eu sei, todos eles fizeram tratamento precoce”, declarou ao frisar que todos os pacientes que atendia em estado grave na UTI possuíam histórico de automedicação.
LEIA MAIS | "Oxigênio acabou e hospitais de Manaus viraram câmara de asfixia", diz pesquisador da Fiocruz-Amazônia
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Entre os usos: azitromicina, ivermectina, cloroquina e entre outros remédios difundidos erroneamente, inclusive pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, com a promessa falsa de evitar a Covid-19, apesar de sua completa ineficácia contra a doença. Em live na quinta-feira, 14, desta semana, Bolsonaro defendeu o uso de tais medicamentos como forma de “evitar situações como a de Manaus”.
Anfremon pontua ainda que todas as medidas possíveis foram tomadas pelos profissionais de saúde na tentativa de salvar a vida dos pacientes. Ele, que já foi um completo apoiador do governo Bolsonaro, teceu críticas ao negacionismo do presidente. “Acho que ao invés do governo ficar tentando dizer que está tudo bem, tem que preparar o país para a segunda onda. Se preparem, porque ela é devastadora e cruel, e ela vai levar muitas vidas”, afirmou o médico.
Em seu relato, o médico destaca ainda momentos de desespero onde se viu obrigado a orientar a equipe de profissionais de saúde a avaliar quais pacientes tinham mais chances de sobreviver, para escolher aqueles que iriam poder receber assistência com uso de oxigênio. "Foi uma sensação de impotência, você saber que a única coisa que o paciente precisa é o oxigênio e era a única coisa que não podíamos ofertar", descreveu.
LEIA TAMBÉM | Desabastecimento de oxigênio em Manaus foi agravado por falha da FAB
“Nós estamos, de fato, vivendo uma segunda onda. Ela é devastadora, é destruidora e tudo está diferente de antes”, comentou ao dizer que se sentia assustado diante do atual cenário. Anfremon expressou preocupação ainda diante das implicações das novas variantes do vírus causador da Covid-19 e pediu para que, independente da porcentagem ou de questões políticas, a vacinação seja iniciada em caráter de urgência.
O vídeo desabafo do médico acabou viralizando nas redes sociais, diante da repercussão, ele utilizou a ferramenta story de seu perfil no instagram para afirmar que não concederia entrevistas. “Considero que meu desabafo em vídeo seja tudo que eu precise falar no momento. Por ora não darei entrevistas para nenhum outro meio de comunicação”, escreveu.