Mulher é resgatada após viver 38 anos em condições análogas à escravidão
O caso aconteceu em Minas Gerais e segue investigado pelo Ministério Público do Trabalho
12:04 | Dez. 21, 2020
Madalena Gordiano, 46 anos, trabalhava desde criança em uma casa de classe média alta em Minas Gerais. Sem receber salário fixo, e com condições trabalhistas ilegais, Madalena foi resgatada em novembro pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), após denúncias de vizinhos que recebiam bilhetes escondidos da moça pedindo produtos de higiene pessoal. O caso foi ao ar na edição do Fantástico, na TV Globo, do último domingo, 20.
Segundo a reportagem, aos 8 anos, Madalena Gordiano foi entregue pela própria mãe, após bater na porta da professora Maria das Graças Milagres para pedir comida. A “mãe adotiva” teria pedido para ficar com a criança, a mãe biológica concedeu, após explicar que não tinha como criar nove filhos.
A adoção nunca foi oficializada, e logo que chegou na nova casa, Madalena foi retirada da escola, e aos poucos perdeu o contato com a família biológica. Desde de o início, a menina realizava serviços domésticos como arrumar a casa, cozinhar, lavar o banheiro, passar pano e cuidar dos filhos da patroa.
Depois de 24 anos na residência, o marido de Maria das Graças passou a se incomodar com a presença da moça. Madalena foi então entregue para o filho do casal, Dalton Cezar Milagres. No entanto, a rotina dela continuou a mesma: acordando às 4h da manhã para realizar atividades domésticas.
Madalena não recebia salário fixo. Contou na reportagem que recebia as vezes 200 ou 300 reais por mês, o que é equivalente a menos de 20% de um salário mínimo. Vizinhos da casa de Dalton Cezar, que não quiseram se identificar, contaram que a mulher tinha medo de falar com outras pessoas, e que, discretamente, entregava bilhetes a eles pedindo produtos de higiene pessoal. Os recados foram entregues para o MPT, que iniciaram uma investigação.
Dalton Cezar Milagres segue sendo investigado por submeter uma pessoa a condições análogas à escravidão e por tráfico de pessoas. O caso também pode penalizar Maria das Graças Milagres.
Humberto Monteiro Camasmie, auditor fiscal do MPT, explicou os motivos da penalidade: “[Onde Madalena dormia] Era um quarto bem pequeno, não devia ter 3 metros de comprimento por 2 de largura, e não havia janela. Ela não tinha registro em carteira, [nem] o salário mínimo garantido e férias, ela também não tinha descanso semanal remunerado". Madalena agora vive em um abrigo para mulheres vítimas de violência.