Monumentos em São Paulo invisibilizam história de negros e indígenas
Dos mais de 360 monumentos que homenageiam personalidades e fatos históricos na cidade de São Paulo, menos de 3% representam pessoas negras e indígenas. Levantamento realizado pelo Instituto Pólis avaliou 367 monumentos oficiais da capital paulista, com o objetivo de identificar como essa população é representada na história visual da cidade.
Das 367 obras, 200 retratam figuras humanas, mas apenas cinco são de pessoas negras, sendo quatro figuras masculinas e uma feminina. Em relação a representações de indígenas, quatro estátuas trazem a temática, todas de figuras masculinas. Monumentos em homenagens a homens brancos somam 137 obras. O estudo foi feito a partir de dados da plataforma GeoSampa, mapa digital da cidade, e está disponível no site.
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“Além de um número infinitamente menor, os monumentos dedicados a pessoas negras e indígenas têm dimensões reduzidas. As obras erguidas às pessoas brancas são muitas e diversas e garantem complexidade às identidades representadas. Enquanto negros e indígenas têm suas histórias apagadas como um projeto de manutenção do poder e da hegemonia branca”, disse a pesquisadora Cássia Caneco, responsável pelo levantamento junto com Felipe Moreira, ambos do Instituto Pólis.
Para os pesquisadores, a sub-representação de pessoas negras e indígenas nos monumentos da cidade evidencia o racismo estrutural. Além da importância do tamanho e da quantidade dos monumentos, é preciso abrir espaço para suas narrativas.
A escultura da Mãe Preta, a única que representa uma mulher negra na cidade, localizada no Largo da Paissandu, um bairro historicamente negro do centro, retrata uma ama de leite com formas distorcidas, com a cabeça menor do que o resto do corpo. Os pesquisadores avaliam que essa representação condiciona e reforça a ideia de controle e subalternidade das mulheres negras.
Em relação à dimensão, a imagem da Mãe Preta tem 3,6 metros, enquanto a escultura do bandeirante Borba Gato, obra do mesmo artista, tem quase 13 metros de altura. “Controlar a forma, a história e as narrativas são um instrumento poderoso. Não basta apenas termos mais monumentos de negros e indígenas, é preciso que essas obras tragam também seus pontos de vista”, disse Moreira.
O levantamento avaliou ainda os bairros em que estão localizados os monumentos. A maioria deles está localizada na região central e em bairros nobres: Moema, Sé, República, Jardim Paulista e Consolação são os distritos com mais esculturas, sendo 44, 43, 37, 24 e 23 monumentos respectivamente. Por outro lado, 39 distritos - a maioria com localização periférica - não têm nenhum monumento e 21 contam com apenas uma obra. A capital tem um total de 96 distritos.
“Escolher posicionar a maior parte dos monumentos na região central, em áreas já valorizadas da cidade, não é um acaso e sim um projeto. O mesmo que promove despejos, remoções e valores proibitivos de acesso à terra nessas áreas”, segundo avaliação dos pesquisadores sobre a desigualdade existente entre as regiões da capital paulista.
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