Embaixada da China no Brasil diz que Eduardo Bolsonaro ameaça a relação entre os países

Publicações desta segunda-feira, 23, do deputado federal teriam provocado reação da Embaixada da China no Itamaraty

22:24 | Nov. 24, 2020

Por: Redação O POVO
A Embaixada da China no Brasil afirma que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) estaria tentando ameaçar a relação os países (foto: Marcello Casal JrAgência Brasil)

A Embaixada da China no Brasil acusa o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente Jair Bolsonaro, de realizar declarações "infames" e de colocar em risco a relação entre os dois países. A reação da embaixada foi provocada, segundo o UOL, após o deputado federal fazer acusações contra Pequim nessa segunda-feira, 23.

Por meio das redes sociais, o deputado federal indicou o Partido Comunista da China como "inimigo da liberdade" e insinuou invasões e violações às informações particulares de cidadãos e empresas.

Conforme explicou a Embaixada, Bolsonaro “acusou o Partido Comunista da China e empresas chinesas de praticar espionagem cibernética e defendeu a iniciativa dos EUA de criar uma aliança que discrimina a tecnologia 5G da China".

"Tais declarações infundadas não são condignas com o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores. da Câmara dos Deputados", ataca Pequim. "Prestam-se a seguir os ditames dos EUA no uso abusivo do conceito de segurança nacional para caluniar a China e cercear as atividades de empresas chinesas", explica o órgão.

De acordo com a embaixada, a manifestação não ocorreu apenas nas redes sociais. Os chineses argumentam que canais diplomáticos foram usados para apresentar uma queixa formal contra a atitude.

"Isso é totalmente inaceitável para o lado chinês e manifestamos forte insatisfação e veemente repúdio a esse comportamento. A parte chinesa já fez gestão formal ao lado brasileiro pelos canais diplomáticos", explica.

"Ao longo dos 46 anos de relações diplomáticas, a parceria sino-brasileira conheceu um rápido desenvolvimento graças aos esforços de ambas as partes. A China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil há 11 anos consecutivos e é também um dos países com mais investimentos no Brasil", disse.

"Na contracorrente da opinião pública brasileira, o deputado. Eduardo Bolsonaro e algumas personalidades têm produzido uma série de declarações infames que, além de desrespeitarem os fatos da cooperação sino-brasileira e do mútuo benefício que ela propicia, solapam a atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil", disse a Embaixada.

"Acreditamos que a sociedade brasileira, em geral, não endossa nem aceita esse tipo de postura [...] Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira, e evitar ir longe demais no caminho equivocado, tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral", alerta.

"Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil", conclui Pequim.

Espionagem seria dos EUA, diz Embaixada

De acordo com a nota publicada, são os americanos quem realizam atos que poderiam ferir os interesses brasileiros. "O governo chinês incentiva empresas chinesas a operar com base em ciência, fatos e leis enquanto se opõe a qualquer tipo de especulação e difamação injustificada contra empresas chinesas. Os EUA têm um histórico indecente em matéria de segurança de dados", argumenta.

"Certos políticos norte-americanos interferem na construção da rede 5G em outros países e fabricam mentiras sobre uma suposta espionagem cibernética chinesa, além de bloquear a Huawei visando alcançar uma hegemonia digital exclusiva", acusa Pequim. "Comportamentos como esses constituem uma verdadeira ameaça à segurança global de dados", alerta.

No texto, o chineses ainda lembraram do peso do país asiático para a economia brasileira. "Entre janeiro e outubro, as exportações brasileiras para a China foram de US$ 58,459 bilhões, respondendo por 33,5% do total de exportações do Brasil", escreveram. "As cooperações na telecomunicação e em outros setores foram construídas sobre bases sólidas e alcançaram avanços a passos largos", indicaram.

Nas redes sociais, Pequim ainda aponta como tem apoiado o Brasil no enfrentamento da pandemia da Covid-19, "assegurando o suprimento de materiais, fornecendo assistência humanitária e compartilhando experiências", diz.

Declaração do porta-voz da Embaixada da China no Brasil sobre comentários difamatórios de um deputado federal brasileiro