Dia da Bandeira: a criação e a ressignificação de um símbolo

Símbolo da nação, a bandeira do Brasil já representou um império, uma república e, agora, é uma vergonha para parte dos brasileiros

A bandeira do Brasil já passou por algumas representações e apresentou vários significados desde sua criação até os dias atuais. Apresentada ao País no dia 19 de novembro de 1889, apenas quatro dias após a Proclamação da República, ela trazia novos ares de revolução.

O Império tinha sido derrubado e substituído por uma República - a República dos Estados Unidos do Brazil (sic) -, ainda governada por um Governo Provisório. Na época, era necessário caracterizar os símbolos nacionais, feito por meio do Decreto 4, de 19 de novembro de 1889. A data marca o Dia da Bandeira.

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Nele, o Governo Provisório considerou que as cores “da nossa antiga bandeira recordam as lutas e as vitórias gloriosas do exército e da armada na defesa da pátria”, e, por isso, “essas cores, independentemente da forma de governo, simbolizam a perpetuidade e integridade da pátria entre as outras nações”.

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Isso porque, já no Império o Brasil era representado pelo verde e amarelo. A primeira versão da bandeira brasileira trazia o brasão da família imperial, além do retângulo verde e o losango amarelo. Por outro lado, diferente do que é aprendido na escola, o significado original das cores estava longe de ser a representação das riquezas naturais do País.

Na verdade, elas foram pessoalmente escolhidas pela imperatriz Leopoldina, esposa de Dom Pedro I. Ela decidiu que o verde representaria os Bragança, a família imperial portuguesa, enquanto o amarelo seria os Habsburgo, família austríaca de Maria Leopoldina.

Veja algumas versões de bandeiras no Brasil:

 

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Símbolo de patriotismo

“A bandeira nacional passa e passou por várias ressignificações. O povo brasileiro vê a bandeira nacional como um símbolo de patriotismo, para firmar que ele é um brasileiro e que quer ir atrás de seus direitos”, explica Fernanda Faria, historiadora especialista em História do Brasil. É por isso, diz, que a bandeira é utilizada principalmente durante manifestações.

Até pouco tempo, era incomum ver alguém carregando ou hasteando a bandeira do Brasil por qualquer motivo. Ela sempre era desengavetada em momentos de levante popular. “[Com essa ação, as pessoas] querem firmar que são brasileiras e estão indo atrás de seus direitos”, descreve. O mesmo ocorre com o hino.

Ninguém canta o Hino Nacional por rotina, mas basta assistir a um vídeo do primeiro jogo da Copa do Mundo de 2014 que o corpo arrepia com as vozes de milhares de brasileiros atestando sua identidade. Infelizmente, foi o mesmo ano do 7 a 1.

Do orgulho à repulsa

Em 2018, a relação de parte dos brasileiros com a bandeira mudou. Nem tão de repente assim, ela passou a identificar os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e, por associação, a representar os valores dele. Assim, os não-apoiadores começaram a fugir da bandeira do Brasil por "repulsa", como define a historiadora: sem emojis nas redes sociais, sem bandeiras hasteadas nas janelas e até mesmo sem roupas verde e amarelo.

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“Nós estamos perdendo a bandeira”, analisa Fernanda. “A bandeira representa o povo brasileiro, não somente um partido ou um presidente”, reforça. E, por mais que seja um símbolo, é justamente por isso que a descaracterização dela é preocupante. Uma nação desconectada de seus símbolos nacionais perde o respeito, orgulho e a própria identidade.

Por outro lado, ainda é possível restaurar o patriotismo genuíno na bandeira, mesmo que o processo seja longo. “Isso poderia começar dentro da escola. É mais fácil educar uma criança do que um adulto, que já está com a cabeça formada”, comenta a historiadora.

Segundo ela, alimentar nas crianças o senso de respeito com os símbolos faz parte de criar cidadãos conscientes. “Os brasileiros sendo conscientes você vai ver como tudo no Brasil vai começar a ficar melhor. Porque, quem queima as matas? Quem manda queimar? É um ser humano. E todos brasileiros. O povo brasileiro está destruindo ele mesmo, e está destruindo os próprios símbolos nacionais”, conclui.

 

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