Sem provas, Bolsonaro afirma que pandemia "está acabando" e acusa Doria de autoritarismo
A fala do chefe de Estado foi feita para apoiadores do Governo e transmitida em site bolsonarista, nesta sexta-feira, 30
20:48 | Out. 30, 2020
O presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que a pandemia da Covid-19 "está acabando" no Brasil e voltou a alfinetar o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), acusando o tucano de ser autoritário por querer obrigar a imunização no estado paulista. A fala do chefe de Estado foi feita para apoiadores do Governo Federal e transmitida em site bolsonarista, nesta sexta-feira, 30, conforme informações do jornal A Folha de S.Paulo.
Segundo reportagem, Bolsonaro conversava com os adeptos de seu mandato quando afirmou que a pandemia está chegando ao fim no País e que, por esse motivo, Doria estaria tentando "imunizar logo" a população em São Paulo. O mandatário alegou que o governador quer aproveitar o momento para vacinar populares e garantir que o gesto seja visto como o responsável pelo término da crise sanitária.
Na ocasião, o chefe do Executivo federal não apresentou dados que comprovassem o fim da pandemia no Brasil. De acordo com último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde (MS), o País registrou 26.106 novos diagnósticos positivos e 513 óbitos somente entre quarta-feira, 28, e quinta-feira, 29. A Europa, que foi foco da Covid-19 antes do Brasil, enfrenta atualmente uma segunda onda de casos e estima-se que o País também enfrente agravamento nos próximos meses.
| LEIA MAIS |
> Doria: Recomendo ao presidente Bolsonaro parar de me atacar e começar a trabalhar
> Bolsonaro acusa Doria de aumentar impostos na pandemia; governador reage
“Vocês têm um governador um tanto quanto autoritário, né? Quer até dar vacina na marra na galera, né? Que que eu vejo na questão da pandemia? Ela está indo embora, isso já aconteceu, a gente vê em livros de história", teria destacado o presidente.
Entenda a "briga política"
As trocas de farpas entre o presidente e o governador sobre a Coronavac, chamada por Bolsonaro como "vacina chinesa" e produzida pelo paulista Instituto Butantã, tiveram inicio na última semana, quando o Ministério da Saúde divulgou a intenção de comprar doses do imunizante e, em menos de 24 horas depois, teve de voltar atrás por ordem de Bolsonaro.
Utilizando suas redes sociais, Bolsonaro justificou ação alegando que a vacina precisava ser certificada pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de ser destinada à população e afirmou que o Governo Federal não gastaria com a compra em represália à origem do material. Dias após o ocorrido, a entidade sanitária deu autorização para que o Brasil importasse doses do antídoto.
João Doria comemorou a autorização em suas redes sociais e classificou o imunizante chinês como sendo " a vacina do Brasil". O governo paulista pleiteia junto ao Governo Federal o financiamento para a produção das doses e aplicação dentro do Plano Nacional de Imunização (PNI) sob responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS).
O presidente é ainda contra a vacinação obrigatória — prerrogativa constitucional brasileira — enquanto o governador é a favor. A divergência inflamou ainda mais os ataques que ambos se direcionavam. Em "lados opostos", Bolsonaro e Doria passaram a soltar indiretas com mais frequência.
Para atingir o "rival", Bolsonaro tem criticado a gestão do governador de São Paulo, falando que o estado tem aumentado impostos na pandemia e alegando que Doria só não "quebrou" o estado porque teve ajuda financeira. Em resposta, o chefe estadual chegou a chamar o líder nacional de "desinformado" e a pedir para que ele parasse com os ataques e que "começasse a trabalhar".
Em meio à rivalidade protagonizada pelos dois governantes, o vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão, veio a público, há uma semana, reforçar que a vacina será produzida no Butantã e que apenas os insumos viriam da China. Na ocasião, a autoridade destacou que todos os estados poderiam comprar doses do imunizante após autorização da Anvisa, desde que tivessem recursos.
Na tarde desta sexta-feira, no entanto, uma entrevista concedida por Hamilton à revista Veja mostrou que o vice-presidente difere da opinião do presidente- postura diferente a que havia insinuado adotar. Na conversa com jornalistas do veículo, Mourão garantiu que o Governo Federal vai comprar doses do imunizante e classificou ainda a polêmica sobre o assunto como sendo uma "briga política" entre Bolsonaro e João Doria. O presidente da República retrucou que "quem tem a caneta Bic" é ele, indicando que o poder de decretar a realização do negócio é dele.