Pandemia fez crescer a violência contra mulher no Brasil e provocou a redução de denúncias

Dados fazem parte da 14ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública; Ceará segue tendência de subnotificações

00:09 | Out. 20, 2020

Por: Gabriela Almeida
Estado do Rio registra redução de 12% de feminicídios em 2019 (foto: )

O número de violências praticadas contra mulheres no Brasil aumentou no primeiro semestre de 2020 quando comparado ao mesmo período de 2019, conforme a 14ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta segunda-feira, 19. O levantamento, que tem como um dos pontos avaliados o impacto da pandemia na violência de gênero, revela ainda que a crise sanitária gerou subnotificações desses casos.

De acordo com balanço, o número de casos registrados como feminicídio no Brasil foi 1,9% maior no primeiro semestre deste ano ao que foi percebido no mesmo período do ano passado. Dentro dessa faixa comparativa de tempo, a pesquisa também aponta uma elevação de 3,8% dos chamados de atendimento para violências domésticas.

Apesar do aumento significativo desses índices, o estudo revelou que muitas vítimas não têm registrado ocorrências nas delegacias. Um exemplo disso é o fato de que o número de registros de violência doméstica realizados nessas instituições brasileiras caiu 9,9% nesse mesmo período comparativo de tempo.

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Violência contra mulheres: a outra pandemia

Apresentaram redução também os registros de lesão corporal dolosa (10,9%), ameaças (16,8%), estupros de mulheres (23,5%) e estupros de vulneráveis (22,7%), em relação ao sexo feminino. De acordo com estudo, o isolamento social fez com que as vítimas encontrassem mais dificuldades de denunciarem crimes, o que teria provocado essas subnotificações. 

Ceará segue tendência

De acordo com dados divulgadas pela SSPDS ao O POVO em agosto, O Ceará teve 8.594 ocorrências de violência doméstica contra mulher registradas nos seis primeiros meses deste ano, em contraposição a 11.188 casos desse porte denunciados no mesmo período de 2019. 

Em entrevista concedida a época, a delegada Rena Gomes, diretora do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) da Polícia Civil, afirmou que "a queda no índice mostra que mulheres estão procurando menos os órgãos de segurança", devido ao isolamento social provocado pela pandemia, que a confina com seu agressor.

Os dados levantados pelo Anuário de Segurança apontam que o Estado segue com essa tendência de subnotificação também em outros tipos de violência contra mulher. Os registros de ameaças, por exemplo, são de 6.714 no primeiro semestre deste ano, enquanto no mesmo período do ano passado o número foi contabilizado em 8.708.

Nesse mesmo período comparativo de tempo, é possível perceber 518 registros a menos de violência por lesão dolosa contra mulher. O crime de estupro também foi registrado em menor quantidade, com uma diferença de 158 casos para o que havia sido analisado anteriormente.