Alimentação saudável vira desafio redobrado em tempos de pandemia

Nessa sexta foi comemorado o Dia Mundial da Alimentação, data que alerta para a fome, para a busca agressiva por padrões de corpo ilusórios e com desafio extra em tempo de pandemia

O Dia Mundial da Alimentação foi comemorado nesta sexta-feira, 16, e busca promover uma reflexão sobre questões como a necessidade de ter hábitos alimentares saudáveis e a fome que atinge milhões de pessoas no planeta. A celebração da data, no entanto, é realizada no momento em que o mundo passa por desafios antigos, mas tensionados por uma pandemia de grandes proporções.

O período comemorativo surgiu em homenagem à criação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em 16 de outubro de 1945. A primeira celebração da data, contudo, foi em 1981, onde teve início o lançamento de temas voltados para que os países começassem a analisar suas condutas em relação ao fator.

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A temática escolhida para esse ano foi: “Mude o futuro da migração, invista em segurança alimentar e desenvolvimento rural”. O intuito é discutir, entre outros, como a fome força pessoas a migrarem, aliadas a conflitos como a falta de acesso a recursos e mudanças climáticas.

Em seu perfil oficial no Twitter, o papa Francisco refletiu sobre a data. “Para a humanidade, a fome não é somente uma tragédia, assim como também uma vergonha. Perante essa realidade, não podemos permanecer insensíveis ou paralisados. Todos somos responsáveis”, escreveu o pontífice.

— Papa Francisco (@Pontifex_es) October 16, 2020

Um vilão chamado fome

De acordo com o Relatório da ONU “O Estado da Insegurança Alimentar e Nutricional no Mundo em 2019”, mais de 800 milhões de pessoas ainda passam fome no planeta. No Brasil, a Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em setembro deste ano, apontou que houve “privação severa de alimentos” em mais de 10 milhões de residências.

Ainda segundo levantamento, o Nordeste  brasileiro teve apenas 49,7% dos seus domicílios constatados em situação de segurança alimentar. De acordo com esses dados, menos da metade da população nordestina tinha acesso pleno ou de forma regular a alimentos no período em que a pesquisa foi realizada.

O Nordeste só ficou abaixo, nesse quesito, da região norte do País - em que a cobertura de segurança alimentar se encontrava em 43%. No geral, a média brasileira de domicílios com acesso à alimentação adequada foi de 63,3%.

Nesse sentido, assim como citou o papa Francisco, a fome segue sendo uma realidade cada vez mais presente no mundo. Por esse motivo, em todos os eventos da data comemorativa, os países são convidados a refletirem acerca de aspectos que a envolvem, como as suas consequências.

O desafio de manter hábitos alimentares saudáveis

Outra questão levantada em eventos da data comemorativa é quanto a relação entre alimentação saudável e qualidade de vida. De acordo com a nutricionista clínica Luana Gomes de Azevedo, uma alimentação equilibrada tem relação direta com o bem estar pois "influencia em todas as relações do corpo", dando energia para o desempenho em atividades físicas e propiciando uma boa função da memória.

Considerando aqueles que têm acesso alimentar e não são vítimas da fome, a especialista destaca que "as pessoas estão buscando ser saudáveis", mas acabam caindo em ideias distorcidas sobre o assunto, vendidas por "charlatões" que operam, principalmente, nas redes sociais.

"O que é saudável é relativo para cada um. Essas pessoas estão em busca do que nunca vão ter porque aquilo não condiz com a realidade", destaca Luana, se referindo aos estilos de "corpos saudáveis" impostos por esses agentes. Ainda segundo a nutricionista, o indivíduo que se baseia nesses padrões acaba se frustrando ao não conseguir atingi-los, o que faz com que ele desista de ter hábitos alimentares melhores.

Gomes ainda pontua que a "alimentação saudável é básica", não sendo preciso atingir um método rigoroso para ter um equilíbrio alimentar. Contudo, a cultura do imediatismo - fomentada pelas questões citadas acima, faz com que as pessoas queiram "emagrecer do dia para a noite" e acabem aderindo a meios mais agressivos.

Mudança responsável

Em contrapartida aqueles que buscam mudar hábitos alimentares para encontrar o "corpo ideal" de forma imediata, existem as pessoas que tentam tornar a alimentação uma aliada da saúde, de forma gradual e com acompanhamento de profissionais. Um deles é o cearense Flavio Mota, 48, que procurou por uma nutricionista depois que percebeu que estava se alimentando de "forma desregrada" e nada saudável.

"Há dois meses o brócolis, tomate, cenoura, repolho, alface fazem parte das minhas refeições. A pizza, pastel, salgados, refrigerante agora só de maneira esporádica", afirma. Como resultado da mudança alimentar, Flávio garante que já perdeu alguns quilos e que já sente que a disposição física está melhor.

Carolina Garrôcho, 25, também vem transformando sua relação com a comida de forma gradual e respeitando suas fases de adaptações. Por conta de uma condição renal, a maquiadora sempre tentou equilibrar sua alimentação, cortando de suas refeições excessos de alimentos processados e diminuindo a ingestão de sódio.

Foi há cerca de dois anos, no entanto, que ela passou a ter acompanhamento de uma profissional. A maquiadora relata que sofria com distenção abdominal, distúrbio do intestino, por conta do consumo de carne cujas proteínas seu organismo não processava bem. 

Por esse motivo e questões ideológicas, ela deu um passo a frente na sua transformação alimentar e virou ovolactovegetariana, cortando carne do seu cardápio e consumindo apenas ovos e derivados do leite. "Meus objetivos com a alimentação sempre foram a saúde", destaca Carolina.

Os impactos da pandemia

No período do isolamento social provocado pela pandemia, a maquiadora passou por um quadro de compulsão alimentar incitada pela ansiedade, aguçada pelos efeitos da crise sanitária. "Comecei a me alimentar mal e isso refletiu na saúde do meu corpo, da minha pele", relembra a maquiadora, que precisou rever novamente os hábitos alimentares e recorrer a mudanças.

Assim como Carolina, muitas pessoas estão sujeitas a passarem por esse distúrbio devido a sensações provocadas pela crise sanitária. De acordo com a nutricionista Luana, a compulsão alimentar é complexa e precisa ser tratada "a fundo", pois pode ser incitada por sentimentos dos quais a pessoa não está sabendo lidar.

A especialista afirma que, além de acompanhamento médico, é necessário buscar um auto conhecimento para entender os motivos que levam a compulsão. "É preciso entender o que te faz ir ate a geladeira e buscar comer qualquer coisa, o que te faz fazer isso, começar a observar os seus sentimentos", orienta Luana.

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Os hábitos alimentares não são os únicos impactados pela pandemia. De acordo com um estudo divulgado pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU), a crise sanitária vem agravando o quadro da fome no mundo.

Segundo relatório, milhões de pessoas ao redor do mundo não têm acesso a uma refeição considerada básica, que dispõe de nutriente necessários para o fornecimento de energia ao corpo. Um dos principais motivos para que isso tenha ocorrido seria a crise financeira causada pela pandemia, que fez com que a renda diária gasta com refeição aumentasse nos países.

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