ONU: mesmo com inúmeras queimadas, Bolsonaro afirma que País é líder em conservação de florestas
Presidente falou sobre o País ser o que mais preserva florestas tropicais. Dados de entidades mostram o contrárioO presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) falou sobre preservação ambiental durante discurso gravado para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira, 22. Mesmo o País enfrentando queimadas constantes desde o ano passado na Amazônia, Bolsonaro afirmou que o Brasil é líder em conservação de florestas tropicais. Entidades de meio ambiente contrariam as informações presentes no discurso do presidente.
De acordo com dados da plataforma Global Forest Watch, o Brasil foi o que mais desmatou florestas tropicais primárias em 2019, totalizando 1 milhão e 361 mil hectares desmatados. Equivale dizer que a cada seis segundos, um campo de futebol era destruído no ano. Em 2018, o País já tinha perdido 1 milhão e 347 mil hectares de florestas tropicais, conforme a plataforma.
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O presidente também disse que o País preserva 66% da vegetação nativa. A informação é verdadeira, porém, incompleta. Como pontua o Observatório do Clima (OC), pelo menos 9% da vegetação preservada é secundária. “Ou seja, são áreas que já foram desmatadas e voltaram a crescer. Não estão, portanto, protegidas nem preservadas”, publica a organização.
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Essas matas secundárias podem surgir após desmatamentos causados por queimadas, mas o processo demanda tempo, explicou em entrevista ao O POVO a doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Magda Maya. “A natureza tem essa resiliência”, afirmou. No entanto, conforme Magda, o solo raramente tem tempo para se recuperar, pois geralmente é invadido por grileiros e utilizado para a agropecuária.
O presidente Bolsonaro também comentou sobre o agronegócio. Parabenizou os produtores rurais por terem “trabalhado como nunca” e afirmou que apenas 27% do território brasileiro são destinados para agricultura e pecuária: “Números que nenhum país possui”, destacou. Segundo o Observatório do Clima, porém, o País tem 30% do território em agropecuária, a média mundial.
Brasil é uma vítima de "campanha internacional escorada em interesses escusos"
— Observatório do Clima (@obsclima) September 22, 2020
MENTIRA - Não há qualquer evidência de ligação entre ONGs e cientistas que denunciam o desmatamento e interesses comerciais. Ao contrário, protecionistas europeus torcem por desmatamento. #ChecaBozo
Desmerecimento das queimadas
O Pantanal já teve 22% (33.078 km²) de seu território consumido pelo fogo, conforme dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A porcentagem equivale a cerca de 106 cidades de Fortaleza. O presidente Bolsonaro indicou que o fogo é normal em razão da temperatura.
Apesar de o Pantanal (bioma caracterizado por grandes áreas alagadas) estar enfrentando período de clima seco, o que favorece a expansão de queimadas, Magda explica que as pessoas se aproveitam das condições para começar incêndios.
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A mesma realidade é constatada na Amazônia. Uma nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), publicada em abril de 2020, afirma que “a temporada de fogo de 2019 na Amazônia teve relação clara com o aumento do desmatamento e não com um clima mais seco”.
Queimadas se dão por "acúmulo de massa orgânica e altas temperaturas".
— Observatório do Clima (@obsclima) September 22, 2020
MENTIRA - Não há queimadas naturais na Amazônia. Elas são causadas por desmatamento ou práticas agropecuárias. #ChecaBozo
Em relação ao fator de ignição das queimadas, o presidente disse que “o caboclo e o índio queimam seus roçados em área desmatada”. A Polícia Federal investiga, entretanto, cinco fazendeiros responsáveis pelas queimadas no Mato Grosso do Sul.
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Em nota, o Observatório do Clima avalia o discurso de Bolsonaro como “calculadamente delirante”, de forma a “mais uma vez expor o País de forma constrangedora”. “Ao negar simultaneamente a crise ambiental e a pandemia, o presidente dá a trilha sonora para o desinvestimento e o cancelamento de acordos comerciais no momento crítico de recuperação econômica pós-Covid”, analisa a organização.