Assassinatos de mulheres têm aumento no 1º semestre no Brasil; Em média, 10 mulheres morreram por dia

O resultado é que nesses primeiros seis meses de 2020, 1.890 mulheres foram mortas de forma violenta, um aumento de 2% em relação ao mesmo período de 2019

15:34 | Set. 16, 2020

Por: Redação O POVO
33% das mortes são de feminicídio, quando o crime motivado pela condição de gênero. (foto: (Foto: Marcos Santos/USP))

Em um primeiro semestre marcado pela chegada da pandemia de Covid-19, o Brasil teve um aumento de 2% no número de mulheres assassinadas em comparação com o mesmo período do ano passado. Os casos de feminicídio também subiram. Por outro lado, os registros de agressões e estupros, outros crimes relacionados à violência contra a mulher, caíram no País. O contraste pode significar o impacto do isolamento social no contexto de violência, é o que mostra um levantamento parte do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) e com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

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Para a pesquisa, foram usados os dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal. O resultado é que nesses primeiros seis meses de 2020, 1.890 mulheres foram mortas de forma violenta, um aumento de 2% em relação ao mesmo período de 2019, o que, em média, aponta que 10 mulheres morrem por dia no País. Desse total, 631 foram de casos de feminicídio. Nessas ocorrências, o assassinato de uma mulher acontece pelo simples fato de ser mulher, entre as motivações mais comuns estão o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as vítimas.

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Em outro caminho, o número de casos de agressões no âmbito doméstico caíram 11%, bem como as ocorrências de estupros e estupros de vulneráveis, que tiveram uma queda de 21% e 20%, respectivamente.

Mesmo assim, os números ainda assustam. Em seis meses, o país teve 119.546 casos de lesão corporal dolosa em decorrência de violência, o registro de 9.310 estupros e 13.379 estupros de vulnerável. Os especialistas afirmam, porém, que esses registros se tratam de uma subnotificação, isto é, menos denúncias foram feitas em razão das dificuldades impostas pela pandemia. 

Mesmo durante a pandemia, em que foram impostas medidas de isolamento social para diminuir a quantidade de pessoas nas ruas, em todo o Brasil, houve um aumento na tendência registrada de homicídios. O percentual de homens mortos, porém, é um pouco superior. Dados do Monitor da Violência apontam que os assassinatos cresceram 6% nos seis primeiros meses. O salto acabou quebrando as quedas recordes de mortes violentas no Brasil nos últimos dois anos. As informações são do G1.

O que falam os dados:

O Brasil teve 1.890 homicídios dolosos de mulheres no primeiro semestre de 2020 (uma alta de 2% em relação ao mesmo período de 2019).

Desse total, 631 foram de casos de feminicídio, número também maior que o registrado no primeiro semestre do ano passado.

14 estados tiveram alta no número de homicídios de mulheres e 11 estados contabilizaram mais vítimas de feminicídio de um ano para o outro.

Rondônia é o estado com a maior alta (255%) e o maior índice de homicídios de mulheres: 4,4 a cada 100 mil.

Acre é o estado com a maior alta (167%) e a maior taxa de feminicídio: 1,8 a cada 100 mil.

O País teve 119.546 casos de lesão corporal dolosa em decorrência de violência doméstica (11% a menos que no primeiro semestre de 2019), houve o registro de 9.310 estupros (uma redução de 21% em um ano) e foram 13.379 estupros de vulnerável (uma queda de 20% no indicador de um ano para o outro).

O Pará tem a maior alta de casos de lesão corporal (46%).

Rondônia é o único estado do País com alta no número de estupros.

A subnotificação

A pesquisadora da Universidade de São Paulo(USP) Jackeline Romio, explica que os registros de mortes são mais confiáveis porque passam por um “duplo registro”. O casos aparecem nas contagens dos diversos órgãos e instituições envolvidas: nas delegacias, nos dados da saúde e nos sistemas de segurança pública e dos hospitais. “Por isso, ela é mais registrada que outros tipos de crime e acaba se tornando o próprio indicador de violência na sociedade”, diz ressalta ela.

Para ela, a diminuição de outras formas de violência pode apontar para a subnotificação da violência contra a mulher. “O homicídio é a ‘ponta’ da violência. Então, quando você vê que os homicídios aumentaram, espera-se que outros tipos de violência, que são o processo até essa morte, também tenham aumentado”, diz Jackeline Romio.