Precarização do ensino: pai constrói barraco em lavoura para filho ter aulas à distância no RS

Estudante usa celular com plano de dados de R$ 40 para acessar as aulas, mas sinal de internet não chega à casa da família

08:05 | Ago. 25, 2020

Por: Bemfica de Oliva
As aulas presenciais estão suspensas por conta da pandemia do novo coronavírus (foto: OP DOC)

O estudante Alan Somavilla, de 11 anos, é mais um dos milhares de alunos no Rio Grande do Sul que está sem aulas presenciais. Durante o período de ensino à distância, a solução encontrada para a família, que não tinha condições de comprar um notebook, foi adquirir um celular usado e um plano de dados limitado, de R$ 40 mensais. As informações são do portal G1 RS.

O sinal da internet, no entanto, não chega à casa da família, em Estrelha Velha, na região central do Rio Grande do Sul. A área é conhecida pelos problemas de cobertura celular devido ao relevo montanhoso.

A solução encontrada pelos pai de Alan, Odilésio e Dejanira, veio do emprego de ambos. Agricultores, perceberam que a lavoura de soja onde trabalham recebia sinal de celular. Decidiram, então, construir uma "mini sala de aula" para o filho próximo à plantação.

Odilésio ergueu um barraco com estrutura em galhos de árvores, coberto com lona. Dentro, uma única mesa com cadeira para o filho estudar. Ele recebe o material das tarefas impresso pela escola, mas as explicações dos professores são oferecidas somente pela plataforma online Google Classroom.

A paralisação das aulas presenciais ocorre devido à pandemia de coronavírus, que já contaminou mais de 3,6 milhões de pessoas e levou mais de 115 mil a óbito somente no Brasil. O Rio Grande do Sul chegou a propôr o retorno às atividades nas escolas a partir de 31 de agosto, mas a medida não foi aceita por entidades que representam os professores.

Ensino remoto amplia desigualdades

No Ceará, é possível que as escolas voltem às aulas presenciais em setembro, embora ainda não exista uma data definida. O governador Camilo Santana (PT) informou na última sexta-feira, 21, que faria reuniões ao longo desta semana com entidades dos setores que ainda não podem funcionar, como escolas e bares, para traçar as diretrizes de reabertura. O anúncio vem após semanas de pressões realizadas por entidades que representam o ensino particular no Estado.

O caso de Alan, no Rio Grande do Sul, não é isolado nem em seu estado, nem no País. Conforme mostrado em reportagem de O POVO em julho, as dificuldade de acesso à internet, por falta de conexão ou de equipamentos, é comum entre estudantes da rede pública do Ceará. Em Roraima, um professor de escola indígena percorre 30 quilômetros quinzenalmente para levar as tarefas escolares a seus estudantes.

Pesquisa realizada em junho pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mostra que a adoção do ensino à distância de forma online aprofunda desigualdades sociais, promovendo a exclusão escolar, pela baixa penetração do acesso à internet entre as camadas mais pobres da população. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), esse problema pode levar cerca de 12 mil crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social a abandonarem definitivamente os estudos.