"Se ela tivesse paciência, meu filho estaria hoje comigo", diz mãe do menino Miguel, que morreu ao cair de prédio no Recife
"Meu coração está sangrando pela perda da minha vida. Do amor da minha vida", lamentou Mirtes RenataUma dor muito forte no peito. Assim descreveu Mirtes Renata Santana da Silva o sentimento que toma conta da sua vida um dia após velar o corpo do filho Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos. "Dor pela perda do meu filho, e só. Não sinto raiva, ódio, depois que vi os vídeos, não", afirmou, em entrevista à TV Jornal no início da tarde desta quinta-feira, 4. "Meu coração está sangrando pela perda da minha vida. Do amor da minha vida". Ao seu lado, a avó do garoto, que o considerava ao mesmo tempo filho e neto, fez coro ao sofrimento da mãe. "Tudo que eu quero é só justiça", declarou Marta, emocionada.
Mirtes trabalhava como empregada em um apartamento do condomínio de luxo do bairro de São José, área central do Recife, conhecido como Torres Gêmeas — do qual o pequeno Miguel caiu do nono andar nessa terça-feira, 2.
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Após ter visto as imagens que mostram a patroa dentro do elevador com o menino, instantes antes de ele sair quatro andares acima e despencar de uma altura de 35 metros, Mirtes concluiu que faltou paciência por parte da empregadora.
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O garoto chorava com saudade da mãe, que, mesmo em plena pandemia, continuava a trabalhar. Especialmente naquela terça, por sentir falta dela, pediu para acompanhá-la ao trabalho.
Imagens do circuito interno de vigilância divulgadas pela Polícia Civil de Pernambuco na quarta-feira, 3, mostram que, após Mirtes precisar descer para passear com o cachorro, a patroa deixou a criança entrar sozinha no elevador e o enviou quatro andares acima. Perdido, o pequeno Miguel teria entrado no vão de um dos condensadores de ar, e, ao ver a mãe no térreo, teria caído.
A suspeita pelo crime teve a identidade preservada pela Polícia, pagou uma fiança de R$ 20 mil e foi liberada. Ela deve responder em liberdade por homicídio culposo.
"Ontem, quando eu vi o vídeo, entendi o motivo da revolta que houve no velório do meu filho. Antes disso eu não tinha visto nada. Porque quando eu estava na delegacia e os vídeos chegaram, eu não quis ver porque não estava em condições de ver nada", disse Mirtes. "A conclusão que eu tirei é que infelizmente faltou um pouco de paciência dela para tirar meu filho de dentro do elevador. Se ela tivesse tido um pouquinho de paciência, tivesse pegado ele pela mão, antes de ficar só falando, meu filho hoje estaria comigo", lamentou.
Ela lembra Miguel como um menino extrovertido e extremamente feliz. "Como criança ele tinha tudo, eu dava educação, saúde, vestuário, o que fosse necessário para o meu filho, eu dava. Eu deixava faltar para mim, mas para ele não deixava faltar nada", comentou. "Tinha planos para o futuro dele. Infelizmente os planos para o futuro do meu filho foram interrompidos".
Na entrevista, a mãe relembrou os últimos momentos com ele, antes de ter que descer com o cachorro de estimação dos proprietários do imóvel. Mirtes contou que informou a patroa que não levaria ao passeio o garoto e a filha dos patrões, que costumavam brincar juntos, e, em resposta, a suspeita do crime falou que cuidaria das crianças.
"Quando eu saí do apartamento, eu deixei ele dentro do apartamento. Antes de sair, disse para minha patroa que não iria levar as crianças para passear a cadela porque eles aperrearam. Eu disse que, por não terem se comportarem, eu não iria levar. E, se depois eles obedecessem, de tardezinha eu levaria. A menina (a filha dos patrões) se conformou, mas meu filho não se conformou, ficou chorando. Ela disse que eu fosse, que ela ficar com Miguel", relatou.