Polícia investiga a presença de símbolo neonazista em protesto na Avenida Paulista
De acordo com secretário executivo da Polícia Militar (PM) de São Paulo, se forem identificadas pessoas com bandeira neonazistas como foi falado, "pessoas atentando contra a democracia, os responsáveis vão responder por isso"A Polícia está investigando se uma bandeira utilizada na manifestação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no último domingo, 31, na Avenida Paulista, teria associação com neonazismo. A bandeira rubro-negra com um tridente no centro foi ostentada em um trio elétrico durante ato. O símbolo é associado a um grupo nacionalista ucraniano de extrema-direita. As informações são do O GLOBO.
O próprio secretário executivo da Polícia Militar (PM) de São Paulo, Coronel Camilo, chegou a dizer, em entrevista à CNN Brasil, que um dos apoiadores de Bolsonaro portando uma “bandeira neonazista” teria sido um dos causadores do conflito no domingo, ao se dirigir até o grupo de manifestantes antifascistas para fazer provocações.
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Mais tarde, em entrevista ao GLOBO, Camilo disse que três participantes do ato pró-Bolsonaro foram até o grupo formado por torcedores antifascistas organizados para fazer provocações: "Quando chegou a primeira informação disseram que eles também estavam com bandeiras. Isso eu não consegui confirmar. Confirmei que essas pessoas foram lá, teve provocação e, além de bate-boca, essas pessoas se envolveram em agressões físicas". O secretário recuou sobre o fato do episódio ter sido o estopim da confusão, mas não confirmou a associação com a bandeira.
Em seguida, ainda nas palavras do coronel, essas pessoas foram retiradas do local por intervenção da Polícia, mas não houve prisão. Os ânimos começaram a se acirrar entre os dois grupos que passaram a tentar avançar sobre a linha de divisão montada pela PM.
O grupo a favor de Bolsonaro teria recuado diante do reforço policial. Já os que se opunham ao Governo começaram, segundo o secretário executivo da PM, a atirar pedras, levando os policiais a regirem com bombas de efeito moral e gás lacrimogênio.
Camilo disse que serão analisadas imagens para tentar identificar se bandeiras neonazistas realmente foram levadas para a manifestação. "Se forem identificadas pessoas com bandeira neonazistas como foi falado, pessoas atentando contra a democracia, os responsáveis vão responder por isso", disse ao jornal.
O símbolo
Derivado de símbolos usados na mitologia grega, e posteriormente convertido na imagem da santíssima trindade para os cristãos, o tridente presente na bandeira rubro-negra passou a ser usado pelos habitantes da Ucrânia durante a Idade Média, em um período de conversão da população ao cristianismo.
De acordo a embaixada da Ucrânia no Brasil, a bandeira rubro-negra simboliza "a nossa terra e o sangue de nossos heróis derramado por Liberdade, Independência e Soberania da Ucrânia".
Em nota, a embaixada explica que a bandeira "foi usada desde o século XVI pelos cossacos ucranianos nas lutas contra invasores estrangeiros". O tridente é o brasão oficial do Estado ucraniano com a conversão do país ao Cristianismo pelas mãos do Príncipe Vladimir, no ano 988.
Conforma O GLOBO, ao longo dos séculos, o tridente agregado à bandeira vermelha e negra ganhou a conotação de liberdade aos ucranianos em meio às inúmeras guerras pela soberania daquele território.
A associação com grupos de extrema-direita ficou mais clara a partir da Segunda Guerra, quando a bandeira virou símbolo do Exército Insurgente da Ucrânia, um movimento nacionalista e militar formado em 1941.
O grupo aliou-se com a Alemanha nazista até a invasão da Ucrânia por tropas nazistas, dois anos mais tarde. Ao fim da guerra, a bandeira rubro-negra foi usada por tropas ucranianas em lutas contra União Soviética e Polônia. Com a incorporação da Ucrânia à União Soviética, o símbolo perdeu força.
O prestígio voltou décadas mais tarde, já num contexto de Ucrânia independente após o fim da União Soviética. Em 2013, com a fundação do partido de extrema-direita Pravyi Sektor ("setor direito" em português) no contexto de insatisfação com o governo de Viktor Yanukovytch, presidente ucraniano alinhado com o colega russo Vladimir Putin.
A revolta popular ao governo de Yanukovytch, acusado de corrupção, levou à queda do governo em 2014.
Embora seja comparado a um grupo neonazista por cientistas políticos fora da Ucrânia, os líderes do Pravyi Sektor negam afiliação com nazismo ou fascismo.
Atualmente o partido comanda um braço paramilitar com operações na fronteira da Ucrânia com a Rússia. Na última eleição parlamentar da Ucrânia, em 2019, o partido teve 2% dos votos e ficou de fora do Parlamento.