Matéria do The Intercept Br acusa Flávio Bolsonaro de envolvimento com milícia e esquema de rachadinhas
Filho mais velho do presidente teria lucrado por meio de construções ilegais de repasses feitos pelo seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, ao ex-capitão do Bope, Adriano da Nóbrega, acusado de comandar milícia Escritório do Crime
11:11 | Abr. 25, 2020
De acordo com denúncias publicadas na manhã deste sábado, 25, pelo site The Intercept Brasil, o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, lucrou por meio de construções ilegais realizadas por milícias com o uso de dinheiro público. O esquema, feito com o dinheiro de “rachadinhas” - desvio do salário pré-acordado de funcionários ou de “servidores fantasmas” - envolveria cerca de 86 pessoas e teria sido financiado pelo filho mais velho do presidente, que estaria lucrando com a venda de imóveis.
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Segundo o The Intercept Brasil, que indica ter tido acesso a documentos sigilosos do Ministério Público (RJ), três construtoras do Rio de Janeiro teriam levantado edificações com dinheiro ilegal. Flávio estaria lucrando com repasses feitos pelo ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega - morto em fevereiro deste ano - e pelo ex-assessor Fabrício Queiroz.
As acusações vêm à tona devido ao pedido de demissão do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, que resultou em acusações contra o presidente Jair Bolsonaro de interferências políticas na diretoria da Polícia Federal. Segundo Moro, a saída de Maurício Valeixo do comando da PF teria sido realizada para interferir no andamento de investigações, entre elas, a de Flávio Bolsonaro. Desde 2018, o trabalho dos promotores do MP foi interrompido três vezes e os advogados de Flávio já pediram nove vezes pela suspensão do procedimento.
Adriano da Nóbrega, apontado como chefe do Escritório do Crime, uma milícia especializada em assassinatos por encomenda, foi condecorado por Flávio com a Medalha Tiradentes 2005. O ex-capitão foi morto a tiros em confronto com a polícia da Bahia. Sob Adriano, ainda pesam as suspeitas de envolvimento com o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
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Cerca de 40% dos salários dos servidores de Flávio, pagos com a verba de seu gabinete na Alerj, seriam repassados por Queiróz para Adriano por meio das contas de sua mãe, Raimunda Veras Magalhães, e sua esposa, Danielle da Costa Nóbrega. Ambas ocupavam cargos no gabinete do deputado na Alerj, entre 2016 e 2017, tendo sido nomeadas por Queiroz, amigo do ex-capitão.
A organização Escritório do Crime atuaria nas favelas Rio das Pedras e Muzema, da zona oeste do Rio de Janeiro, regiões que vêm registrando crescimento de construções irregulares.
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Por meio de “laranjas” - transações fraudulentas com nomes emprestados - Adriano e outros dois oficiais da PM – o tenente Maurício da Silva Costa e o major Ronald Paulo Alves Pereira, também condecorado por Flávio em 2004 – teriam registrado as construtoras São Felipe Construção Civil Eireli, São Jorge Construção Civil Eireli e ConstruRioMZ, financiadas pelos repasses ilegais. Tais descobertas foram mote para a Operação Intocáveis, que faz referência aos cargos de chefes de organizações criminosas patenteados na Polícia Militar.
A operação foi coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do MP (Gaeco) em janeiro de 2019, como seguimento das investigações dos assassinos da vereadora do Psol. Na ocasião, foram decretadas as prisões de ex-capitão Adriano e outros 12 suspeitos.
Outros documentos da operação encontrados em um escritório usado como a provável sede do Escritório do Crime indicariam participação do tenente Maurício e do major Ronald, acima mencionados.
Segundo o The Intercept Brasil, o esquema faria alusão à frase dita por Queiroz em áudios de WhatsApp obtidos pelos jornais Folha de S. Paulo e O Globo, em 2019: “O MP está preparando uma pica do tamanho de um cometa para empurrar na gente”. Os esquemas explicariam o crescimento financeiro do filho mais velho do presidente, que, ainda de acordo com o site, teve identificados 438 transferências e depósitos em suas contas, que, entre os anos de 2014 e 2017, totalizaram cerca de R$ 7 milhões.