Sociedade Brasileira de Pediatria afirma que proposta de abstinência sexual não é eficaz
A entidade ressalta ainda que a única ferramenta comprovadamente eficaz para lidar com a questão é o amplo acesso à educação e à informação, associado à disponibilidade de serviços de saúde qualificados
10:20 | Jan. 29, 2020
Após a proposta do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos de indicar a abstinência sexual como método eletivo para prevenção da gravidez na adolescência e outras situações de risco à saúde reprodutiva e sexual, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou, nesta terça-feira, 28, um documento científico com considerações a respeito do tema.
No texto, a SBP enfatiza que embora teoricamente protetoras, as intenções de abstinência geralmente falham, pois esses programas não são eficazes para retardar o início das relações sexuais ou alterar comportamentos de risco. Além disso, a entidade ressalta ainda que a única ferramenta comprovadamente eficaz para lidar com a questão é o amplo acesso à educação e à informação, associado à disponibilidade de serviços de saúde qualificados.
Nos documentos já produzidos pelos ministérios do Governo Federal, consta a experiência dos Estados Unidos como exemplo positivo da política de abstinência sexual entre os jovens; A SBP, no entanto, contesta o dado. “O que ensina a experiência americana? Os resultados evidenciam que estratégias combinadas são mais efetivas do que aquelas isoladas. Várias críticas têm sido feitas ao programa americano que estimula unicamente a abstinência sexual entre os adolescentes até o casamento, principalmente pela baixa eficácia de resultados e alto custo”, informa a publicação.
Conforme destaca o texto, a abordagem de abstinência sexual exclusiva exclui da política de prevenção uma série de grupos, incluindo os adolescentes sexualmente ativos, aqueles que já são pais, os que não se consideram heterossexuais e as vítimas de abuso sexual.
A SBP enviou ofício ao Ministério da Saúde, no qual apresenta as evidências científicas sobre o tema e aponta recomendações para reduzir o número de casos de gestações precoces na população com até 19 anos. No texto, a entidade solicita a análise dos argumentos apresentados e se coloca à disposição para contribuir com a formatação de ações que tragam aos jovens brasileiros acesso à saúde e à qualidade de vida, o que implica, inclusive, em contar com condições de fazer seu planejamento familiar e de se proteger de Infecções Sexualmente Transmissíveis.