'Ela assumiu o risco', diz coronel da PM sobre turista piauiense estuprada em Itapuã

"Foi um comportamento de risco. O que uma pessoa vai fazer numa praia deserta das 19h às 23h, quando ocorreu estupro? Vai fazer o quê? Ela assumiu o risco", declarou o coronel Eurico Filho Silva Costa ao CORREIO.
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Atualizada dia 14/01/2020

Para o coronel Eurico Filho Silva Costa, comandante da 15ª Companhia Independente da Polícia Militar (Itapuã), a turista piauiense estuprada na noite desta terça-feira (7), em uma praia de Itapuã, contribuiu para a ocorrência do crime.

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"Foi um comportamento de risco. O que uma pessoa vai fazer numa praia deserta das 19h às 23h, quando ocorreu estupro? Vai fazer o quê? Ela assumiu o risco", declarou ele ao CORREIO, na manhã desta sexta-feira (10).

A turista e o namorado foram surpreendidos por dois criminosos quando caminhavam na praia. O autor do estupro se apresentou na 12ª Delegacia (Itapuã) nesta manhã e foi levado para a Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur), onde está preso. Já o comparsa dele está internado no Hospital Geral do Estado (HGE), após ter sido espancado por populares durante um assalto no bairro de Sussuarana.

Ainda em entrevista, o coronel Eurico Costa pontuou ainda que a Polícia Militar não pode ser responsabilizada pelo que aconteceu com o casal. "Trabalhamos constante na região, mas não temos efetivo para garantir a segurança somente daquelas pessoas que estavam naquele horário, num local onde não havia ninguém", opinou o coronel.

Ainda segundo o militar, o comportamento do casal foi de risco e, portanto, eles devem assumir as consequências.

"O casal teve um tipo de comportamento que não podemos nos responsabilizar. Se um carro trafega a 200 km/h, o motorista assume as consequências, o risco de bater, capotar. Foi a mesma coisa que aconteceu".

Em nota, a Polícia militar afirmou que está tratando "internamente" a fala do comandante. "Em nenhuma circunstância, uma vítima deve ser culpabilizada", diz o texto da instituição. O próprio comandante afirmou que não teve intenção de culpar a turista.

“Peço desculpas se fui mal interpretado pelas minhas declarações. Como policial militar, nunca defendi culpabilização de vítimas. Não seria diferente no caso absurdo envolvendo turistas em Salvador. Meu respeito e total solidariedade às vítimas de uma cruel violência contra as mulheres. Continuarei na trincheira em nome da segurança da sociedade e sendo intolerante contra qualquer tipo de violência”, diz.

Relembre o crime

Dois turistas do Piauí foram abordados e ameaçados por dois criminosos. "Eu só pensava que ia matar a gente. Ele disse que estava doido para matar gente", disse o homem em entrevista à TV Bahia. As identidades das vítimas foram preservadas.

O rapaz relatou ainda que estava andando com a namorada, quando os dois resolveram sentar numa pedra. Nesse momento, foram abordados.

"A praia estava cheia, mas começou a esvaziar. Depois, dois homens chegaram por trás dizendo: 'É assalto, é assalto! Você é polícia, passa tudo'. Ele perguntou onde estava minha carteira e eu disse que estava no hotel. Então, ele mandou que eu fosse no hotel pegar o dinheiro e disse que se eu não voltasse, ele mataria a minha namorada. Quando eu saí, ao invés de ir para o hotel, fui para delegacia", contou o homem, que já tinha visitado Salvador anteriormente.

A moça que pela primeira vez passeava por Salvador, está traumatizada e nunc amais pretende voltar. Ela contou que ainda tentou alertar que estava em período menstrual para evitar o estupro, sem sucesso.

"Ele me levou para trás de uma pedra e me estuprou. Depois, quando viu as luzes da viatura da polícia, ele me puxou pelo braço e disse que era pra eu fingir que éramos um casal e começou a correr. Eu não pude correr porque comecei a ficar com falta de ar, tenho asma. Ele pegou na minha mão e disse que se eu tentasse alguma coisa que iria me matar. Então, ele foi andando, parou em um condomínio e pediu água para mim na portaria", completou.

A jovem só conseguiu fugir após o criminoso deixá-la sozinha em uma rua, com a promessa que retornaria em meia hora para buscar o dinheiro que o namorado dela teria ido buscar. "Aproveitei e fugi. Fui me escondendo atrás dos carros, suspeitava que ele estava me vigiando", disse.

A jovem chegou a retornar ao condomínio onde o bandido pediu água para ela e pediu ajuda ao porteiro, que disse que nada poderia fazer. Depois, caminhou até um hotel, onde uma recepcionista chamou um táxi. "Eu voltei pro meu hotel, encontrei meu namorado e então fomos para delegacia para registrar o caso", relatou.

Após o crime, a mulher foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Itapuã, onde também cuidou de ferimentos nos joelhos, e depois foi levada para o Departamento de Polícia Técnica (DPT) para fazer exame de corpo de delito.

O casal prestou queixa em três delegacias: a de Itapuã, a do Turista, que fica no Centro Histórico de Salvador, e na Central de Flagrantes, na região do Iguatemi.

Suspeito se entrega

Um dos suspeitos de participar do crime se entregou à polícia na manhã desta sexta-feira (10). O homem, que não teve o nome divulgado, se apresentou na 12ª Delegacia Territorial (Itapuã) na companhia de um advogado.

O suspeito de estupro foi levado para a Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur), onde prestará depoimento à delegada Marita Souza. Já o segundo segue sendo procurado pela Polícia Civil, responsável pela investigação do caso.

O nome do suspeito não será divulgado pela polícia. Isso porque a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou nesta sexta-feira (10) que, em cumprimento à Lei13.869/19, não haverá apresentações de presos, assim como a divulgação de nomes e fotos de pessoas capturadas. A lei foi sancionada em setembro do ano passado.

Matéria foi corrigida no dia 14/01/2020. Foi retirada a foto de uma viatura que ilustrava a matéria. 

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