Armas foram uma das causas ou seriam solução para massacre em escola? Leia argumentos pró e contra

Em meio às informações apuradas, renasce o debate da flexibilização da posse de armas de fogo. Teriam sido as armas de fogo diretamente as responsáveis pelos ataques? Caso algum funcionário estivesse armado, teria conseguido impedir o massacre?

15:36 | Mar. 14, 2019

Por: Izadora Paula e Leonardo Maia
O tiroteio na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, deixou mortos e feridos (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil) (foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Nessa quarta-feira, 13, dois atiradores invadiram uma escola em Suzano, São Paulo, e dispararam contra alunos e funcionários, se suicidando em seguida. Contando com os dois autores, a tragédia conta com dez mortos. Em meio às informações apuradas, renasce o debate da flexibilização da posse de armas de fogo. Teriam sido as armas de fogo diretamente as responsáveis pelos ataques? Caso algum funcionário estivesse armado, teria conseguido impedir o massacre?

O POVO Online ouviu leitores e especialistas e apresenta suas opiniões: as armas foram uma das causas ou seriam a solução para massacre em escola? Leia abaixo, argumentos pró e contra.

Para Edinando Pereira, Guarda Municipal, as armas não representam o problema em si, já que os atiradores provavelmente as conseguiram de forma ilícita. A arma seria apenas o objeto empregado pelos criminosos na ação. “Precisamos aguardar a análise da Polícia Civil para de fato saber o que motivou esse ato bárbaro”, disse.

Atualmente cursando Gestão em Segurança Pública, Edinando acredita que com a flexibilização da posse de armas, haveria uma chance de defesa para as vítimas caso um dos funcionários estivesse armado. Ele fez questão de descartar a possibilidade de algum dos alunos estar portando o armamento. “A presença de forças de segurança é crucial para evitar esse tipo de coisa”.

“Acredito em uma mudança na legislação para garantir que o cidadão tenha a escolha de possuir ou não uma arma, mas isso com critérios específicos. Um cidadão desarmado e um bandido armado é uma balança desigual! Precisamos equilibrar essa força para garantir ao cidadão o direito de defender a si ou a outrem usando de meios moderados”, explanou Edinando.

Para ele, o atentado em Suzano foi uma fatalidade e as armas de fogo não podem ser “demonizadas” por este caso, mas sim quem as operou. Edinando explica que quando as pessoas já têm desejo de praticar atos ilícitos, o instrumento pode ser qualquer um. “A arma na mão de bandido não pode ser analisada pelo mesmo ângulo que a arma na mão do cidadão, pois as motivações para a possuir são diferentes. (...) Um busca a defesa, outro o ataque”.

Algumas pessoas, no entanto, culpam diretamente as armas de fogo, mas entendem que o problema é muito mais complexo. Izabelle Nogueira, técnica em Edificações, se coloca como contrária à flexibilização da posse de armas, mas ressalta a falta de segurança na escola atacada: “Como duas pessoas armadas têm acesso a uma escola tão facilmente?”, questiona.

Para ela, uma melhora na segurança pública no Brasil seria uma resposta adequada para o problema. “Acredito que a grande questão nessa história seja nosso déficit de segurança pública. Se melhorarmos a segurança, ninguém com boas intenções vai ter interesse em possuir uma arma. E quem, ainda assim, conseguir adquirir (ilegalmente), não vai conseguir realizar seus crimes”, pontua Izabelle.

Acompanhando o pensamento da técnica em Edificações, Guilherme Santos também acredita que as armas estão entre as causas do ataque, principalmente por terem sido utilizadas para realizar o atentado. Para o estudante de Jornalismo, as chances de armas de fogo figurarem como uma solução para a violência são baixíssimas.

Assim como Izabelle, Guilherme afirma que a segurança pública é um assunto que deve ser administrado pelo governo, já que nem todos os cidadãos estariam psicologicamente aptos a possuir uma arma. “De nada adianta ter uma arma para uma possível defesa e, mesmo assim, não ser preparado para possui-la. Uma arma pode trazer vários malefícios, principalmente se for porte, visto que existem muitos casos de tiros acidentais, principalmente com crianças”, considerou ele.

Com um planejamento do governo que venha a proteger o cidadão em todos os âmbitos, Guilherme acredita que o argumento pela flexibilização da posse armas seria derrubado.

Para Geovani Jacó, coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas Conflitualidade e Violência (Covio), é preciso combater a ideia da arma de fogo como um instrumento que pode ser usado para defesa pessoal por pessoas que não são treinadas especificamente para isso.

"O cidadão comum não deve estar armado como forma de proteção, a arma não previne, ela vulnerabiliza o sujeito. Quem deve estar armado é a polícia, não se pode haver a quebra desse monopólio estatal."

Em relação ao caso de Suzano, o professor afirmou que se deve ter um foco de combate em relação à violência que acontece todos os dias e passa despercebida, em alguns casos. "Temos que ter ações para trabalhar os conflitos cotidianos, como o bullying nas escolas e a apologia à arma como uma forma de poder. Precisamos trabalhar em vários espaços da sociedade, como em casa, no trânsito e no colégio."

Um maior controle das armas necessita de uma atenção maior do Estado, segundo Geovani. Ele fala que a forma que o Estado tem gerido e administrado as políticas públicas de segurança tem se mostrado ineficiente. O controle deve ser feito desde as fronteiras até os agentes que trabalham com o controle do armamento.

"Elas [as armas] não estão nas favelas, nem nas comunidades, as armas estão nos grandes negócios, com os grandes agentes." Ele citou como exemplo o caso dos 117 fuzis que foram encontrados no condomínio do amigo de um acusado de matar Marielle Franco e Anderson Gomes.

"Nada tem a ver com a liberação ou não das armas, esse episódio está fora da curva". Esse é o ponto defendido por Daniel Maia, professor de Direito Penal da Universidade Federal do Ceará (UFC), em relação ao massacre em Suzano. Para ele, os ex-alunos fariam a mesma coisa independente do nível de liberação das armas.

Daniel ainda afirma que uma maior liberação vai reduzir a violência urbana, colocando no criminoso um sentimento de medo. "A população armada faz com que o bandido tema mais. Quando o bandido sabe que você está desarmado, ele comete um crime, se ele tiver a dúvida ele vai atrás de outra coisa, há uma avaliação do risco."

Entretanto, ele afirma que é preciso um controle para definir quem tem acesso a uma arma de fogo. Isso se baseia em três pré-requisitos: o exame psicotécnico, um curso preparatório e um controle "rígido" dos antecedentes criminais.