Duas semanas após assassinato de Marielle, caso segue sem respostas

Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro diz apenas que o inquérito segue sob sigilo

21:11 | Mar. 28, 2018

Placa diz Marielle presente, hoje e sempre! (foto: )

Passados 14 dias do assassinato de Marielle Franco, as autoridades brasileiras seguem sem resposta. A Polícia ainda não identificou os assassinos e nem a motivação do crime. Contatada pelo O POVO Online, a Polícia Civil do Rio de Janeiro diz apenas que o inquérito segue sob sigilo.

 

A Polícia segue ouvindo pessoas ligadas ao gabinete da parlamentar. Na última segunda, três pessoas foram ouvidas. Em um comunicado divulgado na última segunda-feira, 26, a Organização das Nações Unidas (ONU) pediu rápida investigação, considerando o caso como "profundamente alarmante".

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O Jornal Nacional mostrou em vídeo que os assassinos faziam tocaia no Centro do Rio de Janeiro, à espera da vítima. No trecho da execução, contudo, não havia câmeras. A investigação aponta que os criminosos podem ter escolhido um ponto cego. Dois homens se aproximaram do veículo e dispararam 10 tiros. Marielle havia acabado de sair do "Jovens Negras Movendo as Estruturas", evento contra o racismo, na Lapa. Ela seguia para o bairro da Tijuca, onde morava com a noiva. No carro, ela estava com o motorista Anderson Gomes, também assassinado, e a assessora, que sobreviveu.

 

Investigação

 

Duas semanas depois, o que a Polícia Civil descobriu é que a munição usada no crime do último dia 14 é original, o que significa que não foi recarregada. A munição faz parte de um lote vendido para a Polícia Federal de Brasília, em dezembro de 2006. O lote tinha 1.859 milhão de cápsulas. Mais de 200 mil balas foram entregues às superintendências de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, conforme o G1. 

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O mesmo lote foi utilizado em uma chacina em São Paulo, em 2015. A maior chacina do estado deixou 17 mortos em Barueri e Osasco. Outra informação da Polícia é que esse mesmo lote foi usado nos assassinatos de cinco pessoas em guerras de facções de traficantes em São Gonçalo, região metropolitana do Rio. A Delegacia de Homicídios descobriu que um dos carros usados na tocaia era clonada, possibilitando o rastreio do veículo antes e depois do crime.

 

Um dos veículos usados pode ter sido apreendido na madrugada do último domingo, 18, pela Polícia Civil de Minas Gerais. A PC mineira diz que, embora a confirmação dependa da Perícia do Rio de Janeiro, "tudo leva a crer” que o carro seja um dos utilizados no crime.

 

Na sexta-feira, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, comunicou que a munição pertencia à PF e foi roubada da sede dos Correios na Paraíba. Entretanto, um dia depois, os Correios informaram não ter conhecimento do furto de balas no estado. O conflito de informações pode ser um exemplo da dificuldade de rastreamento de uma munição que está há cerca de 12 anos em circulação, um dos principais desafios para os investigadores.  

 

Devido ao complexo contexto criminal do Rio, não é possível apontar uma linha clara de investigação a ser adotada. O promotor do MP-RJ à frente do inquérito, Homero Freitas, ressalta que nenhuma possibilidade deve ser descartada. "Os indícios ainda não permitem apontar para alguém, individualmente, ou qualquer grupo”, acrescenta.

 

A Delegacia de Homicídios investiga, também, a possível participação da milícia no crime. Trata-se de grupos formados em 2005 por policiais, bombeiros e agentes penitenciários que ofereciam ilegalmente serviços de segurança, sinais clandestinos de TV a cabo e fornecimento de gás em regiões pobres e carentes desses serviços.

 

Ele também não descarta o envolvimento de traficantes na ação. "A vereadora contava com a simpatia de ONGs que atuam em comunidades. Se tiver havido mudança de comando em alguma delas, pode ser que o novo grupo tenha se incomodado com a atuação da ONG e resolva fazer alguma coisa contrária. Com tantas possibilidades a ser analisadas, fica difícil seguir uma única linha”, avalia. 

 

Facebook

 

Nesta quarta-feira, 28, a Justiça concedeu 24 horas para o Facebook apagar notícias falsas de conteúdo criminoso sobre a vereadora na rede. O processo foi movido pela irmã e pela viúva da parlamentar.

 

A decisão é do juiz Jorge Jansen Counago Novelle, da 15ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), conforme O Globo. A liminar determina ainda que a empresa de Mark Zuckerberg impeça publicação de novas mensagens ofensivas contra a parlamentar. Em resposta, o Facebook afirma que "respeita a justiça brasileira e removerá os conteúdos específicos indicados nos autos".

 

"Não se há de tolerar, que a morte de Marielle, mártir da História contemporânea do Brasil, se repita, dia-a-dia, como vem ocorrendo, com a conivência, por omissão, especificamente do réu, que se traveste numa rede social e vem permitindo a propagação de crimes como calúnia contra os mortos, ódio, preconceito de raça e gênero e abusos, contra alguém que já não tem como se defender, contra seus parentes, irmã e sua companheira, contra familiares e contra a Sociedade", diz a decisão de Novelle.

 

A Justiça do Rio já havia determinado a suspensão de 16 vídeos com fake news sobre Marielle do YouTube. Desses, 12 continuam disponíveis fora e dentro do Brasil, se acessado em rede particular. Em nota, a Google fala que os vídeos só foram retirados localmente porque a ordem judicial é "fundamentada na legislação brasileira".

 

Redação O POVO Online

Com agências