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Em entrevista ao O POVO, Suassuna falou o que sabe sobre a inquisição

O dramaturgo foi entrevistado em série do O POVO sobre inquisição
18:14 | Jul. 23, 2014
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Em série publicada no O POVO, “Inquisição, no rastro dos amaldiçoados”, em julho de 2010, o escritor Ariano Suassuna foi entrevistado sobre o assunto. O dramaturgo morreu nesta quarta-feira, 23, aos 87 anos . Confira:

Ariano, mestre, bento e castigos

Ariano Suassuna tem na cabeça a história de Bento Teixeira, poeta português que um dia caiu na teia da Inquisição em Olinda, no século XVI, e nunca mais ficou livre. O POVO foi saber se a Inquisição no Brasil já o inspirou em algum personagem. Ariano brincou, chamando os repórteres de “inquisidores”. (Ana Mary C.Cavalcante/Cláudio Ribero/Demitri Túlio)

O POVO -Na pesquisa que faz para construir seus personagens, o senhor, alguma vez, cruzou com a Inquisição?
[SAIBAMAIS 7]

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Ariano - "Sim. Eu li as denunciações e as confissões da Inquisição, no século XVI. Porque existe o personagem foi uma pessoa real e, pra mim, é um personagem por quem tenho grande admiração e fascínio. É o poeta Bento Teixeira. O autor da primeira epopeia escrita no Brasil. Foi escrita no século XVI, publicada depois. Era um cristão novo do Porto e foi preso pela Inquisição, em Olinda. Morou em Olinda, em Igaraçu e no Cabo de Santo Agostinho, três cidades de Pernambuco. Foi preso quando morava em Olinda. Chegou um visitador do Santo Ofício às partes do Estado Brasil, que era um tipo menor de inquisidor. Chamava-se Heitor Furtado de Mendonça. Então, Heitor prendeu Bento Teixeira e remeteu para Lisboa, onde ele foi encarcerado e onde morreu dos maus tratos sofridos nos cárceres da Inquisição. Agora, veja como são as coisas: Bento Teixeira matou a mulher. Ela era cristã velha e, segundo ele, lá no processo, tratava o poeta com grande desprezo. E terminou traindo - Bento Teixeira foi traído pela mulher e ele a matou. Agora, o Inquisidor não deu a menor importância a isso. Um fato fundamental pra condenação de Bento Teixeira foi o seguinte: ele ia passando um dia, numa rua, e um camarada estava tocando viola e cantando umas quadras que diziam: “Uno, solo e trino/ Trino, solo e uno/ no esotro alguno/ sino el Diós divino”. Aí, ele disse: “Isso não está bem”. Foi só o que ele disse. Porque, não sei se você sabe, mas os judeus assacam contra o cristianismo, que o cristianismo foi um pé atrás. Depois que os judeus revelaram a unidade de Deus, aquilo é uma volta à idolatria, ao politeísmo. Repare, como ele diz: “Uno, solo e trino/ trino, solo e uno/ no esotro alguno/ sino el Diós divino”... Aí, Bento Teixeira ainda se defendeu: “Não, eu estava falando que está mal cantado”. Mas o visitador não caiu na conversa dele, não, coitado. Prendeu e ele morreu tuberculoso dos maus tratos, no começo do século XVI. Pronto. O que eu sei sobre a Inquisição é isso!"

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