Corpo de Stuart Angel pode estar enterrado na Base Aérea de Santa Cruz

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), o capitão reformado da Aeronáutica afirmou que um colega havia visto o corpo de Stuart sendo enterrado no local

19:17 | Jun. 09, 2014

O corpo do estudante de economia e professor Stuart Edgar Angel Jones pode ter sido enterrado na Base Aérea de Santa Cruz. Ele era militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro e foi preso irregularmente, torturado e morto em maio de 1971 em uma prisão clandestina na Base Aérea do Galeão, por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa),  que buscavam informações sobre Carlos Lamarca. Não há versão oficial sobre o paradeiro do corpo.

A informação sobre a localização corpo está no relatório preliminar sobre o caso, apresentado nesta segunda-feira, 9, pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) em audiência pública no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. O possível local do enterro foi apontado no depoimento do capitão reformado da Aeronáutica Álvaro Moreira de Oliveira Filho, que ouviu a história do colega José do Nascimento Cabral, já morto.

Cabral era controlador de voo e servia em Santa Cruz. Segundo Moreira, Cabral relatou ter visto da Torre de Controle uma movimentação noturna incomum, com a interdição da pista de pouso a pedido do brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, comandante da base na época,  e um corpo sendo enterrado na cabeceira. Os militares que serviam no local disseram que se tratava de Stuart Angel.

De acordo com o secretário executivo da CNV, André Sabóia, a comissão pretende fazer investigações in loco, mas é precisa da colaboração da Aeronáutica para encontrar o corpo. “Tecnicamente é possível, mas nós precisamos da colaboração intensa da Aeronáutica para ter informações mais precisas sobre esse fato, porque há comandantes da base aérea do Galeão e de Santa Cruz à época vivos, nós temos esses nomes, a Aeronáutica nos informou. Essas pessoas, além de outros militares e civis que serviram nesses locais, poderão dar informações mais precisas para essas buscas, utilizando as tecnologias mais modernas de radar de solo e outras técnicas”.

A CNV vai fazer um pedido formal de informações técnicas sobre o caso. O coordenador da comissão, Pedro Dallari lembra que a versão oficial diz que Stuart é considerado desaparecido, mas dois documentos das Forças Armadas confirmam a morte do estudante.

“Temos comprovação de que Stuart foi morto. Em um documento de 14 de setembro de 1971 e outro de 1975 ele é dado como morto. Documentos das Forças Armadas dão conta de que a morte ocorreu na Base Aérea do Galeão. As informações anteriores falavam que o corpo teria sido jogado no mar ou enterrado em um cemitério clandestino, agora temos essa informação de Santa Cruz. Nós vemos que o padrão de ocultação de cadáver se mantém, como no caso de Rubens Paiva, que teria sido levado para o Alto da Boa Vista. Os corpos são levados para locais ermos”.

Muito emocionada na audiência, a jornalista Hildegard Angel, irmã de Stuart, considerou a informação um alento, depois de tantos anos de negação da verdade.

“Enfim tenho uma informação que me parece objetiva a respeito do paradeiro dos restos mortais do meu irmão. E espero que o ministro da Defesa, embaixador Celso Amorim, e o comandante da Aeronáutica tenham o mesmo espírito colaborativo com o país, porque um país sem história não é um país digno, não é uma pátria. A dignidade só vem através da verdade. Temos que dar aos nossos heróis, aos nossos mártires, a honra da sua verdadeira história”.

A mãe de Stuart, a estilista Zuzu Angel, morreu em um acidente de carro em abril de 1976, depois de fazer uma campanha internacional para encontrar o filho, que constrangeu o governo brasileiro. Em 1998, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos reconheceu que a morte dela foi um atentado político.

A viúva de Stuart, Sonia Maria Lopes de Moraes, se exilou na França em 1970, depois de ser presa e perseguida por atuar no movimento estudantil. Voltou ao Brasil após a prisão de Stuart e se mudou para o Chile. Retornou ao Brasil em 1973 e foi presa com o companheiro de organização Antonio Crlos Bicalo Lana em São Vicente, litoral de São Paulo. Os dois foram torturados, mortos e enterrados no Cemitério de Perus, em São Paulo, ela com nome falso.

Agência Brasil