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A experiência que vai de bicicleta

Eles têm mais de 50 anos e ocupam a Cidade de bicicleta. Em comum, a felicidade do ir e vir pedalando. Para ter lazer e ir ao trabalho (ou cumprir expediente), criam trajetos, afetos e ainda praticam atividade física
23:13 | Jun. 13, 2017
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Basta olhar nas principais vias de Fortaleza no início da manhã ou fim da tarde. Próximas aos carros que se amontoam saindo ou voltando para casa estão as bicicletas que percorrem os mesmos trajetos. Para muitos desses ciclistas, a opção por ir e vir ao trabalho sobre duas rodas é de bem antes da proliferação de ciclovias e ciclofaixas em Fortaleza. Alguns contabilizam décadas de pedaladas cotidianas.

 

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Segundo pesquisa realizada em outubro do ano passado pela Secretaria da Conservação e dos Serviços Públicos (SCSP), 4,6% dos usuários do Bicicletar — sistema de compartilhamento de bicicletas da Capital — têm entre 50 e 57 anos. Para os que estão acima dos 57, a adesão é de 0,3%. O mesmo levantamento aponta que 72% dos usuários retiraram uma bicicleta para ir ao trabalho, voltar para casa, fazer compras ou outras atividades, ou seja, realizar deslocamentos diários.


O POVO esteve na rua João Brígido e nas avenidas Domingos Olímpio e Bezerra de Menezes nos horários de pico para ouvir histórias de pessoas com mais de 50 anos que se deslocam diariamente de bicicleta. Curiosamente, as histórias encontradas para esta reportagem foram, unanimemente, de homens. Dados preliminares da SCSP apontam que o percentual de mulheres pedalando na Cidade é de cerca de 5%.

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Manoel. O artesão Manoel Feitosa, 65, pedala desde os sete. Há 21 anos trabalha como artesão talhando móveis em madeira. Morador do Centro, vai todos os dias à oficina, no Montese, de bicicleta. Leva, em média, 25 minutos para completar o trajeto e o mesmo tempo para voltar para casa. “Até tenho o cartão do idoso para ir de ônibus, mas nunca nem usei. Acho mais rápido de bicicleta, que não tem perigo de assalto nem fica parando o tempo todo. Às vezes, no fim de semana, vou até Maracanaú na bicicleta”, conta.

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Cláudio. A bicicleta sempre foi o meio de transporte preferido de Cláudio Carneiro. Tudo o que o aposentado tem de resolver saindo de casa o faz montado nela. Vai ao Centro e à praia sempre em duas rodas. Reconhece aparentar saúde e vigor físico de quem tem bem menos que 61 anos. “Tá achando que é fácil chegar na minha idade com essa barriga aqui? É muito melhor ficar sentado numa bicicleta do que em um birô no trabalho ou no sofá em casa”, ensina, julgando apenas perigoso pedalar à noite. “É mais escuro e não dá para ver os buracos”.

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José. Lá se vão dez anos desde que José Monteiro, 52, criou o costume de, sempre que pode, ir trabalhar de bicicleta. Do Presidente Kennedy, onde mora, ao Bairro de Fátima, onde trabalha como porteiro, são 40 minutos. Sempre levando na garupa o uniforme. A ciclovia da avenida Bezerra de Menezes integra boa parte do trajeto. “Essa obra ajudou muito e deixou muito mais viável andar de bicicleta. Além disso, é um exercício físico muito bom. Como sou pré-diabético, ajuda muito a controlar a doença”, diz.
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Francisco. A justificativa de Francisco Avonai, 51, para escolher a bicicleta é muito prática: tempo. Melhor do que o aperto do ônibus. Com um chapéu risca de giz cheio de estilo e as ferramentas de trabalho como pedreiro na garupa, ele leva 40 minutos do Quintino Cunha para a obra, no Cocó. “Ônibus é um negócio que enfada muito. Você fica abusadinho com o empurra-empurra”, conta.

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Jorge. O zelador Jorge Rodrigues, 54, não pedala sozinho. No trajeto da Caucaia para o condomínio em que trabalha como zelador, na Aldeota, a música é companheira. Sempre com um radinho a tiracolo, ele faz esse percurso há um ano e cinco meses. “É desde quando eu comecei a trabalhar nesse prédio. Eles só pagam uma passagem pra dentro de Fortaleza, aí eu teria que pagar pra Caucaia. Desse jeito, é melhor assim mesmo. E como sempre gostei de andar de bicicleta, vou tranquilo com meu radinho”.
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Oliveira. Para o mecânico e entregador Oliveira Leitão, 50, pedalar é parte do trabalho. Ele estima que pedala diariamente 40 km, entre as 8 horas e o meio-dia, levando e buscando com os clientes as peças automotivas que conserta. “No fim da tarde, ainda venho aqui na Bezerra pedalar mais um pouco para exercitar. Ainda poupo o dinheiro da academia e me sinto um garotão”, diz, orgulhoso. Além disso, Oliveira elenca como vantagens da bike mais segurança e um bem para o meio ambiente. “A bicicleta não polui, eu não preciso pagar imposto e tem menor risco de acidentes. Perigoso é moto, carro. Só ando de ônibus quando o negócio é sério, como nas vezes que tive de levar minha mãe ao médico”.

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