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Rock perde espaço para ritmos como sertanejo e funk e fica órfão de novos ídolos
Vida & Arte

Rock perde espaço para ritmos como sertanejo e funk e fica órfão de novos ídolos

Enquanto ritmos como o funk o e sertanejo se fortalecem entre o público, fãs de rock vão, aos poucos, ficando órfãos de novos ídolos
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Nas últimas semanas, o anúncio da possível falência da fábrica de guitarras Gibson causou burburinho no universo rock and roll. Segundo o jornal Nashville Post, a empresa possui uma dívida de US$ 375 milhões desde agosto de 2017, apontando para seu declínio. Fundada em 1894, em Nashvilhe, a marca é conhecida por ser uma lendária fabricante de guitarras elétricas que já foram usadas por ícones do blues, jazz, R&B e, claro do rock and roll.


Apesar do instrumento não ser exclusivo do rock, a repercussão da notícia se deu de forma negativa para os ouvintes do gênero, levantando questionamentos que sentenciam o fim do rock. Partindo de uma lógica mercadológica e diante de inúmeras plataformas de streaming, qual é a relevância do rock no mercado fonográfico atual? Como se explica a falta de representatividade de bandas de rock em listas como, “as músicas mais ouvidas na última semana”? Em tempos de acessão de estilos como funk, sertanejo e pop, para onde vai o “bom e novo” rock and roll?


Irapuan Peixoto, professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e autor da pesquisa Em tudo que eu faço eu procuro ser muito rock and roll: Rock, estilo de vida e rebeldia em Fortaleza, afirma que é inegável que o rock tenha perdido seu poder. Ele explica que até a década de 1990, ele era o principal gênero musical global. E isso não acontece mais hoje, quando outros ritmos ocuparam o lugar e o rock não conseguiu mais se recuperar. O movimento grunge (EUA) e o britpop (Reino Unido) nos anos 1990 foram os dois últimos movimentos de massa no rock. Kurt Cobain efetivamente emerge como a última figura lendária. Dos anos 2000 para cá, o rock virou algo de nicho. “Você teve o movimento indie que foi muito importante. Mas, embora esse movimento possua relevância para o rock, ele não conseguiu massificar para o mundo inteiro”, contextualiza.

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Para Irapuan, o rock vive um movimento comum a muitos artistas e estilos, que é um esgotamento. “A grande questão é que o rock, como um gênero musical, enfrenta um grande dilema entre esgotamento e inovação. Ele é um movimento que se tradicionalizou e isso não é necessariamente um mal, porque todos os gêneros musicais passam por isso, mas a questão é que o rock sempre teve uma bandeira de inovação e hoje em dia ele é avesso a essa própria inovação. Então, ele realmente está num dilema entre inovar ou manter a tradição”, conclui.


Rafael Neutral, guitarrista e produtor do Festival Garage Sounds, diz que estamos vivendo um novo momento e que o rock sempre teve seus altos e baixos. Olhando pelo viés das plataformas digitais, a internet pode ser uma faca de dois gumes. “Ao mesmo tempo em que ela te dá a mão e ajuda a divulgar muita coisa, ela acaba fazendo com que as bandas foquem mais em ter números de seguidores no Instagram, Facebook, interview em streaming, do que realmente passar uma essência. As bandas esqueceram a ação de rua, a atitude. Tem banda que parece mais um grupo de digital influencers. Que para saber o tamanho da sua banda, tomam por base o número de seguidores e não por pessoas que vão ao seu show”, comenta.


Márcio Benevides, doutorando em Sociologia, professor e pesquisador da coletividade da cena rock em Fortaleza, ressalta que no “underground”, o rock ainda continua e todos os estilos estão em atividade, mas com pouca renovação. “O rock começou com algo subversivo e virou algo tradicional. Ao invés de romper paradigmas, está buscando os mesmos princípios do passado”, conta o ex-guitarrista da banda Plastique Noir.


Benevides afirma que as plataformas de streaming, em termos de divulgação, não são consideradas novas tecnologias. “Muito pelo contrário, estão desde o começo dos anos 2000, mas, só agora se tornaram populares. No exterior existe mais essa cultura de comprar música. Aqui no Brasil a gente quer tudo de graça e acaba desvalorizando totalmente o trabalho dos músicos e produtores. É desmotivador”, observa.


Na atualidade, os meios de comunicação estão sendo tomados por ritmos como pop, sertanejo e funk. “Se o rock ecoou na juventude do século 20 e foi durante metade dele o gênero musical por excelência da juventude, aquele que conseguiu expressar seus anseios, ou melhor dizendo, foi por onde a juventude conseguiu expressar melhor os seus anseios, hoje, quem faz isso é o pop”, fala Irapuan.


Márcio Benevides acredita que a música atual é somente um pretexto para a performance. “Esses ritmos entram muito nessa questão do apelo massificado, é uma coisa menos trabalhada do ponto de vista musical, harmônico, rítmico, melodicamente falando. Tudo isso que está em evidência agora, bebeu um pouco do pop e do rock das décadas passadas. São vários ciclos que se cruzam e pouco se misturando, pouco evoluindo e muito se reproduzindo”.


 
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