Após investigações contra fake news, Facebook desativa contas do MBL
O Facebook removeu ontem 196 páginas e 87 perfis no Brasil. O principal argumento utilizado pela empresa é que as contas violavam “políticas de autenticidade” da rede social. Em claro recado de combate às fake news, a rede social alegou que a ação é oriunda de uma rigorosa investigação que teve como objetivo reunir “esforços contínuos para evitar abusos”.
Nota oficial da empresa afirma também que “essas páginas e perfis faziam parte de uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”.
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A maioria das páginas excluídas era ligada ao Movimento Brasil Livre (MBL), que encabeçou as manifestações que reivindicavam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.
Também através de nota, o MBL alegou que “muitas dessas contas possuíam dados biográficos estritos, tais como: endereço profissional, telefones pessoais, contatos familiares, entre outros, informações verificáveis tornando, portanto, absurda a acusação de que se tratavam de contas falsas”.
Criticando a decisão da empresa, o movimento alegou que o Facebook “tem sido alvo de atenção internacional por conta do viés político e ideológico da empresa manifestado ao perseguir, coibir, manipular dados e inventar alegações esdrúxulas contra grupos, instituições e líderes de direita ao redor do mundo”.
A nota finaliza prometendo que o grupo pretende utilizar “todos os recursos” para recuperar as páginas perdidas na rede social.
Ainda ontem, o procurador da República, Aílton Benedito de Souza, de Goiás, emitiu ofício à empresa pedindo resposta em um prazo de até 48 horas para explicações.
Entre os pontos, o procurador-chefe da Procuradoria da República em Goiás pede a relação de todas as páginas e perfis removidos e a justificativa “fática específica sobre essa providência” para cada página/perfil excluído.
Para o doutor em comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diógenes Lycarião, a ação do Facebook é uma tentativa de a empresa restabelecer credibilidade após o escândalo envolvendo a Cambridge Analytica.
A tentativa, segundo o pesquisador, é “minimizar esse fenômeno de atores políticos que têm produzido propaganda política muitas vezes a partir de falsas informações”.
Lycarião, por outro lado, se mostra preocupado com o poder que uma empresa tem para definir “quem tem voz e quem não tem” em uma democracia, nas vésperas de uma eleição presidencial.
O professor defende que a população esteja atenta para que a rede social não seja um mecanismo de intervenção no processo eleitoral dos países.
Um dos aspectos positivos que cita o pesquisador é a identificação de conteúdo promovido através da publicidade na rede social. O internauta poderá, assim, identificar que o conteúdo ao qual está tendo acesso é parte de uma estratégia de marketing para o candidato A ou B. “As pessoas vão saber que aquela informação é publicidade e vão saber quem está pagando”, explicou.
POLÊMICA
A empresa Cambridge Analytica se envolveu em escândalo após investigação revelar que dados de até 50 milhões de pessoas tinham sido vazados irregularmente do Facebook e usados indevido para fins eleitorais.
PERFIL
AÍLTON BENEDITO DE SOUZA
“Yahveh é meu pastor, nada me falta. Brasil. Cidadão de bem. Procurador da República”. É com essa biografia que o procurador da República, Aílton Benedito, responsável pelo questionamento ao Facebook, se apresenta em sua conta pessoal no Twitter. Ele foi empossado pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, no cargo de procurador-chefe da Procuradoria da República em Goiás (PR-GO). Ativo nas redes sociais, não esconde críticas à esquerda e aproximação com movimentos de cunho conservador. Em 2014, o procurador suspendeu campanha publicitária do governo Dilma Rousseff (PT).
Wagner Mendes