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Alerta vermelho na caatinga
Opinião

Alerta vermelho na caatinga

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Gabriel Lima de Aguiar
Biólogo
 (Foto: Gabriel Lima de Aguiar)
Foto: Gabriel Lima de Aguiar Gabriel Lima de Aguiar Biólogo

Excetuando-se as nossas serras e os 573 km de litoral, 92% do Ceará é coberto pela típica vegetação da caatinga. Nosso principal bioma abriga uma riqueza de espécies de animais que surpreende qualquer desavisado. Dezenas de espécies de mamíferos cruzam as matas do Estado, convivendo com uma diversidade ainda maior de aves e de outras tantas espécies de serpentes, lagartos e sapos. Infelizmente, dados lançados recentemente fizeram os estudiosos e amantes da biodiversidade cearense suspirarem com preocupação.

A nova edição do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), levantou 182 espécies de animais ameaçadas na caatinga. Destas, 46 sendo endêmicas desse bioma (só existem na caatinga), como é o caso da arara-azul-de-lear. Outras espécies ameaçadas são a nossa onça pintada, a onça parda e os gatos selvagens, por exemplo. Além desse número alarmante para os animais da caatinga, algumas espécies ameaçadas também foram identificadas nas serras do Ceará, como é o caso do periquito-cara-suja e do soldadinho-do-araripe, e na nossa costa, como algumas espécies de tartarugas, os peixes-boi e o boto-cinza.

O novo livro aponta as causas do declínio das espécies e destaca o agronegócio liderando o ranking como atividade mais degradante para a fauna da caatinga, já tendo reduzido 46% do território do bioma. A caça e a captura vêm em segundo lugar, ameaçando espécies caçadas para o consumo, como a ave zabelê, o queixada e o tatu-bola, e outras capturadas para fins ornamentais como alguns peixes, aves e invertebrados. A mineração, a expansão urbana, o turismo desordenado e a produção de energia são nessa ordem as próximas atividades mais impactantes.

Aqui no Ceará, precisamos com urgência caminhar com o livro vermelho estadual da fauna ameaçada para elencar as prioridades e direcionar os recursos para a conservação. A conjuntura nacional para o cuidado com a vida se mostra bastante desfavorável e são as iniciativas regionais que precisam garantir que a ciência e o bom senso sejam ouvidos na gestão ambiental. n

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