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A força dos pequenos
Economia

A força dos pequenos

Como o microcrédito está mudando a vida das pessoas na periferia de Fortaleza e no Ceará
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Sabe aquele HD que não funciona mais, o fone e o mouse que quebraram e não têm mais jeito? Nas mãos do artista plástico Sérgio Lima, de 48 anos, transformam-se em cofres, porta-chaves, jogos de tabuleiro, jardim vertical e objetos decorativos como joaninhas, caranguejos, robôs e dinossauros.

Todo este material que chama atenção pela estética e durabilidade são feitos no ateliê Resíduos Tecnológicos Sustentável, que funciona nos fundos de uma pequena loja de informática no bairro José Walter, na periferia de Fortaleza.

"Dava dó jogar fora esse material, que leva, muitas vezes, 450 anos para se decompor. Daí veio a ideia de reaproveitar o produto, que normalmente é feito de material nobre, com brilho. Se foi criado para ser um monitor, não é porque parou de funcionar que perdeu a função. Pode virar uma bandeja, um porta-chaves", diz Sérgio.

O leque de possibilidade de reúso é imensa. Mas para começar o negócio, em 2010, o capital inicial era bem limitado. Tampouco dispunha de bens para oferecer de garantia. Foi quando falar do microcrédito por amigos e decidiu arriscar. Conseguiu R$ 700 para comprar seu primeiro lote de sucata. "E foi bem rápido. No Crediamigo (operado pelo Banco do Nordeste do Brasil - BNB), eu tive a liberdade de dizer quanto precisava. Mesmo sendo o valor inicial pouco, tive. Foi tudo sem burocracia, então, vi a oportunidade de crescer e ter o banco como meu apoio", relata.

Outros empréstimos maiores vieram depois. Sempre em conjunto com vizinhos do bairro, no qual um funcionava como avalista do outro. A produção no ateliê que começou pequena, com 15 peças por mês, hoje, está em torno de 300 unidades. E o trabalho que era feito sozinho, agora, é realizado em parceria com mais sete famílias, do próprio bairro, que ele mesmo capacitou, e que agora recebem parte da renda pela venda dos produtos.

O microcrédito, modalidade de crédito implementada no Brasil ainda na década de 1970, tem sido a porta de entrada para muitos pequenos empreendedores de baixa renda que não dispõem de bens, fiador ou até mesmo acesso aos sistema financeiro tradicional.

"Existe um Brasil que, muitas vezes, não é conhecido. Que não teve as mesmas condições de acesso, mas que não deixa de ser trabalhador, aguerrido. E que, em um cenário como o que estamos vivendo de altas taxas de desemprego, só precisa de oportunidade para montar ou continuar seu negócio", observa o mestre em Administração e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Plácido Castelo Neto.

De acordo com dados do Banco Central, só no quarto trimestre de 2018, foram realizadas mais de 2,4 milhões de operações de microcrédito no País. O valor movimentado chegou a R$ 6,2 bilhões em igual período.

O professor pontua que, apesar de o volume de crédito emprestado ser baixo (pode chegar no máximo a R$ 15 mil pelo Programa de Microcrédito Direcionado), este é um tipo de ferramenta que tem um impacto significativo na microeconomia local. "Cada real injetado em atividades empreendedoras em ambientes mais carentes é como se valesse por trinta. Tem um efeito multiplicador fenomenal porque aquele dinheiro, na maioria das vezes, circula e gera emprego na própria mercearia do bairro, no mototáxi, na padaria, diferentemente de uma grande indústria. É um ambiente sedento de oportunidade e ávido para consumir", reforça.

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Pontos de leitura relacionados ao Crediamigo

- Dentro do Crediamigo, mais de 75% da carteira de clientes ativos atua na área do comércio, como ambulantes, vendedores em geral, mercadinhos, papelarias, armarinhos, bazares, farmácias, armazéns, restaurantes, lanchonetes, feirantes, pequenos lojistas, açougueiros, vendedores de cosméticos etc.
- Em seguida, aparece o setor de serviços, que responde por 20% do total, com salões de beleza, oficinas mecânicas, borracharias.
- Já no segmento industrial (com 5%) o destaque são para marcenarias, sapatarias, carpintarias, artesanatos, alfaiatarias, gráficas, padarias, produções de alimentos.

Para quem e como acessar

O microcrédito é uma modalidade de empréstimo destinada a impulsionar pequenos negócios, formais ou informais. Seja para quem está apenas começando ou aqueles que precisam de recursos para investir em estoque, reformas, equipamentos novos ou expansão.

Em geral, são concedidos com menos burocracia, exigências e taxa de juros mais acessíveis que a de outros tipos de crédito do sistema financeiro tradicional. Por outro lado, os valores e o prazo para quitar a dívida também são menores.

Pelo Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), voltado para negócios com receita bruta anual de até R$ 200 mil, é possível conseguir empréstimos
de até R$ 15 mil.

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