Aeris Energy: Coordenador do comitê de auditoria renuncia

No início deste mês, Edison havia sido reeleito a um novo mandato; motivo da renúncia não foi divulgado

Fabricante cearense de pás eólicas, a Aeris Energy recebeu a renúncia do coordenador do comitê de auditoria estatutário e membro do conselho de administração, Edison Ticle. Neste mês, a empresa havia divulgado prejuízo de R$ 56,7 milhões no terceiro trimestre.

A instituição tomou conhecimento do assunto na terça-feira, 26. Na data, já entraram em vigor os efeitos do ato, após análise e aprovação do próprio conselho.

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O mesmo conselho havia aprovado, no dia 6 de novembro, a reeleição de Edison a um novo mandato de um ano frente ao comitê.

A Aeris não detalhou sobre os motivos da renúncia e agradeceu o ex-representante pela contribuição e dedicação durante a sua atuação junto aos cargos.

Edison atuava na companhia há mais de 6 anos, desde agosto de 2018, segundo informações do seu LinkedIn.

O executivo exerce, ainda, as funções de diretor financeiro e de relações com investidores na Minerva Foods e de membro do conselho de administração e coordenador do comitê de auditoria estatutária nas companhias Azzas, holding a partir da união da Arezzo e do Grupo Soma, e TC (ex-Traders Club).

A Aeris Energy disse, ademais, que irá oportunamente avaliar a atualização e recomposição dos cargos à luz dos requisitos e critérios previstos na regulamentação aplicável e na sua Política de Indicação.

Prejuízo de R$ 56,7 mi no 3º trimestre

A companhia teve um prejuízo líquido de R$ 56,7 milhões no terceiro trimestre de 2024, 15,5% maior do que o prejuízo de R$ 49 milhões registrado em igual período de 2023. A empresa citou, no balanço, uma desaceleração significativa do setor.

“Em 2023, o setor registrou um crescimento de 4,8 gigawatt (GW) em instalações, enquanto a projeção para 2024 é em torno de 2,5 GW, valor próximo à média de expansão observada nos anos de 2020, 2021 e 2022. Esse cenário evidencia um claro processo de retração”, pontuou.

O trimestre também contou com o descomissionamento de duas linhas de produção e o ramp-up – fase de início da produção – de outras duas novas. O portfólio final conta com dez linhas, em que oito estão maduras e duas em maturação.

Após os dados do terceiro trimestre, a XP Investimentos reiterou uma visão preocupante para a Aeris, sustentada pelas condições desafiadoras da produção eólica no mercado doméstico para a capacidade de produção eólica e níveis elevados de alavancagem.

A Aeris destacou, neste cenário, o interesse de voltar-se estrategicamente ao mercado de exportações de forma consistente, e projeta um crescimento orientado pelo mercado internacional nos próximos cinco anos, a representar 50% da receita total.

Dados operacionais

Com R$ 367,4 milhões no terceiro trimestre, a receita líquida foi 44,1% menor no ano a ano e 13% menor na base trimestral. O montante foi de R$ 1,3 bilhão no acumulado do ano, também com recuo de 38,7%.

Um dos principais indicadores do mercado financeiro, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, em inglês) ajustado ficou em R$ 27,3 milhões, uma redução anual de 49,1%. No indicador sem ajustes, a queda foi de 61,2%.

Os analistas Fernanda Recchia e Lucas Marquiori, do BTG Pactual, veem no Ebitda impactos decorrentes da descontinuação de projetos da Aeris, o início da operação das duas novas linhas e a menor demanda de clientes. Para eles, o resultado foi fraco, mas esperado.

“No geral, vemos a companhia com uma base de custos mais enxuta após os esforços de reestruturação. No entanto, mantemos a recomendação neutra, uma vez que prevemos uma recuperação gradual, dado o cenário desafiador do setor de energia eólica”, indicaram.

Serviços estão positivos

A empresa destacou o segmento de serviços, com alta anual de 37,8%, acumulando receita de R$ 57,7 milhões entre julho e setembro. Resultado de uma estratégia voltada à diversificação das atividades e fortalecimento da manutenção e do suporte técnico especializado.

“Essa evolução reflete o compromisso da Aeris em expandir seu portfólio além da fabricação de pás, consolidando sua posição como um importante player na prestação de serviços no setor eólico”, acrescentou o diretor-presidente da companhia, Alexandre Negrão.

Setor eólico desafiador

De acordo com o consultor de energia da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Jurandir Picanço Jr., a geração de energia eólica brasileira tem se concentrado em projetos de maior porte e na própria geração centralizada, além de contar com restrições na capacidade de transmissão.

FORTALEZA, CE, BRASIL,03.05.2023: Pátio de pás eólicas. Porto do Pecém. (Foto: Fábio Lima/O Povo)
FORTALEZA, CE, BRASIL,03.05.2023: Pátio de pás eólicas. Porto do Pecém. (Foto: Fábio Lima/O Povo) Crédito: FÁBIO LIMA

A eólica era a principal fonte de energia renovável antes, mas hoje compete com a solar, criando uma divisão do mercado. Além de depender de áreas específicas com bom potencial de vento, o que nem sempre coincide com a disponibilidade de sistemas de transmissão, disse.

“Muitas vezes, há locais com excelente potencial eólico, mas sem infraestrutura de transmissão adequada. Já a geração solar permite maior flexibilidade, com parques próximos a regiões com disponibilidade de transmissão”, detalhou o especialista.

Jurandir acredita que a recuperação do setor eólico pode ocorrer com a maior viabilização dos projetos de hidrogênio verde (H2V), o qual demanda energia de fontes renováveis em larga escala. O Ceará é um dos estados mais avançados nesta área de atuação.

“Tanto a energia eólica quanto a solar são as grandes protagonistas do momento no setor energético mundial. Aqui no Nordeste, temos as melhores condições naturais para ambas, o que nos oferece uma oportunidade única de liderança nesse segmento”, complementou.

*Atualizado às 15h58min com correção do tempo de atuação de Edison Ticle na Aeris para o ano de 2018. Antes, informação estava como 2009.

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