Coleta de lixo eletrônico no Ceará ainda é reduzida, aponta levantamento

No ano passado foram coletados 338 quilos; dados são da Green Eletron, entidade ligada a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica

14:36 | Jul. 16, 2023

Por: Paloma Vargas
Descartados de forma irregular, material que poderia ser reciclado acaba contaminando solo e água (foto: FÁBIO LIMA)

Os brasileiros ainda não sabem muito bem o que é lixo eletrônico e como descartá-lo corretamente. No Ceará, por exemplo, uma das principais entidades gestoras de logística reversa de produtos eletroeletrônicos e pilhas, a Green Eletron, possui apenas 13 pontos de coletas de eletroeletrônicos de um cenário de 1.161 pontos espalhados por 24 estados e o Distrito Federal.

O pequeno número é por conta da baixa adesão de locais que aceitam colocar o coletor gratuitamente, segundo o gerente executivo da instituição, Ademir Brescansin. Além disso, quando se fala em lixo eletrônico, ele destaca a falta de consciência e conhecimento das pessoas.

A Green Eletron realizou uma pesquisa, em 2021, que revela o nível de conhecimento sobre o assunto e, em um universo de mais de 2 mil pessoas, 33% associa o termo "lixo eletrônico" com spam e informações falsas em redes sociais.

"É assustador ver a quantidade de pessoas que não sabem o que é um equipamento eletroeletrônico e isso é simples, porque qualquer coisa que você liga na tomada ou utiliza pilhas e baterias para funcionar é um eletroeletrônico e precisa ser descartado corretamente."

A organização sem fins lucrativos, fundada em 2016 pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), no Estado, no ano passado, coletou 338 Kg de resíduos eletroeletrônicos. Já pilhas, são 156 pontos coletores e 809,7 Kg. No Brasil, também em 2022, foram coletadas mais de 4,6 mil toneladas de eletroeletrônicos e 141 toneladas de pilhas.

As metas específicas de logística reversa dos eletroeletrônicos começaram a valer no País, em 2021. Por conta disso, as referências ainda são muito recentes. De qualquer forma, vale lembrar que alguns poucos pontos já operavam antes disso, principalmente em São Paulo. Um acordo setorial foi assinado ainda em 2019.

Esse documento virou decreto nacional em 2020, com o prazo de adequação para 2021, sem que se soubesse da pandemia que se avizinhava. Nas metas estavam estabelecidas as quantidades de cidades, estados, pontos de coleta e percentuais a serem atingidos e tudo precisou ser adaptado para aquela realidade da Covid-19.

Brescansin relata a dificuldade de coleta naquele período, com o fechamento de todos os pontos de comércio que serviam de pontos de coleta, tanto para eletroeletrônicos, como para pilhas. Ele lembra que o movimento de logística reversa de pilhas vem desde 2010 e que já havia se tornado presente na cultura de boa parte do consumidor.

"Mas com quase todos os locais que tinham coleta fechados e o receio de sair da população, os números que eram bons de pilhas e baterias despencaram nesse período. Não era uma mudança, um retrocesso no comportamento, era algo da situação. Depois, voltou em pouco tempo e esperamos que aumente mais ainda, porque esse é o processo que as pessoas já estão mais conscientes", diz ele, lembrando que no caso do eletroeletrônico a cultura precisa ser inserida na educação da população.

Destino correto

Outro ponto levantado pelo executivo de logística reversa é a terceirização no descarte de equipamentos. Um aparelho que não serve mais e é doado para um catador, por exemplo, terá qual destino?

"Por desconhecimento dessa pessoa que recebe esse aparelho, ela vai tirar o que tem valor e o resto vai jogar. Aonde? Na beira do rio ou em um lixão. E aí você vai causar uma contaminação do solo, da água. Eu não tô falando que é por maldade, não, é desconhecimento. Por isso, levar essa informação para o consumidor dos riscos que se corre é muito grande."

Ele lembra ainda que não é ilegal aterros sanitários receberem esses materiais, porém, "se você jogar para um aterro, vai estar enterrando um monte de material, de matéria-prima, que vai precisar ser extraída da natureza de novo para a fabricação de novos produtos".

O papel da indústria e do varejo

A lei de responsabilidade com o descarte de lixo eletrônico existe para quem fabrica, importa, comercializa e distribui e para Brescansin, esses quatro elementos precisam ser os primeiros a levar essa informação ao consumidor. E, ele destaca o papel do varejo nesse "meio de campo" entre a indústria e o consumidor, que é quem vai precisar descartar após o uso.

"A pessoa entra na loja para comprar o eletroeletrônico e a mensagem do descarte consciente ainda é bem fraca nesse setor."

Já sobre o uso do material reciclado pela indústria, o gerente executivo da Green Eletron afirma que, atualmente, não há vantagem econômica no seu uso, em comparação ao virgem, já que o percentual de impostos é o mesmo.

"Essa é uma luta nossa bastante grande. Quando se recicla, você deixa de ter um impacto ambiental. Então, como que a gente melhora os custos para incentivar que se recicle mais? Baixando os custos dos impostos. Tira os impostos dessa cadeia de reciclagem, até porque eles já foram pagos quando o material era virgem, para incentivar que se recicle."

Há um outro ponto de desequilíbrio neste mercado, que é a falta de cobrança de se cumprir a lei, lembrando que as marcas que estão cumprindo as metas possuem um custo, que as outras não tem. Porém, o espaço de gôndola no varejo é o mesmo e o preço, às vezes, é mais barato. Porém, o consumidor não sabe identificar e diferenciar quem está regular e cumpre a lei, de quem não está.

"Talvez a gente ainda esteja em um estágio muito atrasado do que foi o processo do selo do Inmetro, por exemplo, que agora o consumidor sabe e exige. Pode ser que daqui uns anos, seja um diferencial no ponto de venda, na escolha do consumidor, empresas que cumpram a lei e que sejam comprometidas com o meio ambiente. Assim, pode ser que tenha mais lógica se gastar mais no processo e seja reconhecido esse esforço."

Brescansin reforça ainda a importância de se ter uma fiscalização efetiva, de órgãos federais para o cumprimento da lei e da fala direta com o cidadão sobre a importância do descarte consciente do eletroeletrônico, que mesmo ainda sendo pouca, é verdade, não é algo totalmente novo.

Atualmente, que se tem conhecimento, apenas cerca de 150 empresas de eletroeletrônicos estão vinculadas a entidades que fazem a logística reversa, em um universo de cerca de 3,4 mil.

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