Bastidores da Redação - EP1: Rastros Arqueológicos, com Catalina Leite
Mergulhe no processo de construção de uma reportagem especial do O POVO+ e conheça os Bastidores da RedaçãoBastidores da Redação é a nova série do O POVO, que vai compartilhar com você as curiosidades da Redação O POVO+, a partir de bate-papos com os profissionais que vão às ruas (e serras) em busca das notícias.
Para a estreia, convidamos a jornalista Catalina Leite, que nos conta tudo sobre o processo de construção da reportagem seriada “Rastros Arqueológicos”.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Como nascem as reportagens: do tema à pauta
Catalina cresceu em uma família que sempre gostou muito de levá-la a museus. Dessa forma, o contato com a arqueologia surgiu ainda naquela época, mesmo que de maneira superficial. Ela explica que “o mundo da arqueologia a gente conhece da vida”. Seja por meio da cultura pop, filmes ou do ponto de vista museológico, essa ciência fascinante aparece cedo no imaginário dos brasileiros.
Anos mais tarde, agora jornalista, Catalina recebeu um desafio da editora do O POVO+, Fátima Sudário: fazer uma reportagem especial sobre a Serra da Capivara, para falar acerca da arqueologia no Brasil, especificamente no Nordeste.
Adentrando o universo da reportagem: Pesquisa e apuração
Para mergulhar no assunto da reportagem, a repórter Catalina Leite e o fotojornalista Fco Fontenele começaram fazendo uma série de perguntas ao arqueólogo Igor Pedroza, dando início ao processo de apuração. Eles precisavam esclarecer alguns pontos, por exemplo: “Qual o período histórico em questão?”.
Além das entrevistas, também foi necessário realizar um processo de pesquisa bibliográfica. “É literalmente você entrar no Google e ficar ‘fuçando’ desde as páginas mais básicas da Wikipédia (...) ver outras reportagens que já tem produzidas sobre o assunto, e até no Google Acadêmico, ficar procurando pesquisa acadêmica sobre a Serra da Capivara”, explana Catalina.
Toda essa pesquisa, tanto as entrevistas quanto a pesquisa bibliográfica, é de suma importância para o desenvolvimento da reportagem. Catalina explicou que é graças a esse processo que se torna possível definir quais serão os temas de cada episódio na Série. “A gente tem que ir com uma ideia mesmo que base, para saber que perguntas vamos fazer, que pessoas queremos entrevistar”.
Construindo uma reportagem: Cada detalhe importa
Na estreia da Reportagem Seriada “Rastros Arqueológicos”, o leitor é levado em uma viagem no tempo para desvendar a Serra da Capivara. Explorando a formação do Parque, “desde o elevamento das primeiras rochas, até o rascunho das primeiras pinturas rupestres”.
Catalina escolheu narrar esse primeiro episódio da série contextualizando o ambiente: “A gente entende que não tem como falar sobre o ser humano e essa formação, sem a gente parar para olhar o ambiente que ele tá vivendo". Ela explica como a Serra da Capivara é o que é hoje não somente pelas artes rupestres. Mas também por causa dos cânions, da formação rochosa da paisagem, e de toda uma vida muito anterior à nossa, que influencia aquilo que o ser humano enxerga.
Além disso, a repórter ressaltou a importância de abordar o desenvolvimento regional no segundo episódio da Reportagem Seriada. “Dentro do O POVO+, a gente trata a ciência não somente como ‘tecnologias novas’, ou ‘oh, que coisa curiosa’, (...) mas a gente gosta de pegar a ciência e mostrar como é importante para a sociedade”. Ela explica que a ciência não só traz conhecimento, mas também como o investimento na pesquisa, o envolvimento de uma comunidade inteira, faz com que uma região se desenvolva, trazendo um retorno econômico, social e cultural.
Por fim, o terceiro episódio da reportagem seriada aborda o colonialismo científico. Catalina contou que essa foi uma das pautas cujo ângulo sofreu modificações durante a construção da reportagem. Ela chegou à Serra da Capivara com uma percepção prévia a respeito do tema, e como isso mudou. “Não era exatamente o que eu estava pensando que ia ser o ângulo, mas a gente conseguiu continuar falando disso de uma maneira melhor, mais adequada”, explica.
Em todos os sentidos da palavra: outras formas de apuração
A apuração sensorial e empírica é parte essencial do processo de construção das reportagens de Catalina Leite. A jornalista fala sobre escrever o texto na própria cabeça enquanto vive a experiência: “O barulho das coisas, a sensação do sol na pele… Eu sei que são coisas meio hippies de se contar, mas elas influenciam no resultado final (...) Eu não teria escrito como eu escrevi, se eu não estivesse lá. E são coisas que vão aparecendo enquanto a gente está lá. O meu bloco de notas é todo ‘parágrafos soltos de coisas’ que eu quero adicionar na minha reportagem”.
Aventura arqueológica: viajando em grupo
A oportunidade de fazer uma viagem para a Serra da Capivara aconteceu no Carnaval de 2023. Organizada pelo arqueólogo Igor Pedroza, a 9ª Excursão Patrimonial Parque Nacional Serra da Capivara reuniu um grupo de outras 28 pessoas além da repórter Catalina Leite e do fotojornalista Fco Fontenele.
Catalina destacou como foi valiosa a experiência coletiva dessa viagem: “Foi a primeira vez que eu fiz um especial assim, juntando com uma excursão, e não a gente indo por conta própria. E isso foi muito legal, porque tive essa oportunidade de pegar e falar, ‘espera aí talvez não seja o que eu estou sentindo. Talvez seja como as outras pessoas estão reagindo a isso’. Então era muito legal ver o pessoal caminhando, ver o pessoal perguntando para os guias, tendo dúvidas, interagindo”.
A repórter definiu a experiência como a mais divertida do processo. “Poder ter outro ponto de vista no processo contemplatório de fazer jornalismo”.
Desafios da jornada: escrevendo jornalismo científico
Mas nem só de diversão vivem os jornalistas. Fazer uma matéria, ainda mais uma série de reportagens especiais, é um processo lento e difícil.
Dentre as principais dificuldades de Catalina durante a construção da reportagem, ela destaca o processo de escrita. São inúmeras informações, e é sempre muito árduo organizar tudo para decidir o que entra e o que sai. “As pessoas sentam lá e elas te contam a história de vida delas. (...) E você não usa toda a história de vida delas, às vezes não tem espaço e você fica ‘Cara eu podia fazer uma reportagem para cada uma das pessoas que eu entrevistei, mas eu não tenho como, eu não tenho braços para isso’.”.
Além disso, ela relata um pouco de seu desafio diário em fazer jornalismo científico. “Estou falando de ciência, e às vezes ciência não é tão fácil de ser explicada”. Precisa ser “narrativamente interessante”, compreensível, simplificado, ao mesmo tempo em que deve ser cientificamente correto.
Por isso, Catalina explica que costuma checar com suas fontes depois de escrever a reportagem. Pede que verifiquem detalhes, se foi usada a palavra certa para definir algum conceito, se entendeu tudo corretamente, se não confundiu alguma informação. Dessa forma, ela descreve o processo como cansativo, mas explica que é necessário, pois esse é o certo a se fazer como jornalista.
Spoilers: o que vem aí em Rastros Arqueológicos
A boa notícia é que esses três episódios da Reportagem Seriada sobre a Serra da Capivara foram apenas os primeiros. Rastros Arqueológicos promete ainda mais matérias! Sobre arqueologia mundial, brasileira, nordestina e cearense.
Catalina soltou alguns spoilers a respeito: “A gente já tem algumas pesquisas arqueológicas aqui no Ceará. E eu já fiz uma entrevista inteira sobre isso, ainda vou escrever a reportagem”.
Sobre Rastros Arqueológicos
Rastros Arqueológicos é uma série de reportagens disponível no O POVO+, abordando descobertas arqueológicas pelo olhar científico, cultural e de desenvolvimento socioeconômico pelo Ceará, Nordeste, Brasil e Mundo.
Sobre O POVO+
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Sobre Catalina Leite
É repórter do O POVO+, com interesse em jornalismo científico e ambiental. Bacharela em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Em 2022, ganhou o primeiro lugar no Prêmio ABMES de Jornalismo na categoria Escrito - Nacional, pela reportagem especial "Mulheres na Ciência", além de receber menção honrosa na 5ª edição do Prêmio IMPA de Jornalismo na categoria Divulgação Científica pela série de reportagens "Mundo dos Fósseis". Também foi homenageada na Reunião Anual Regional da Sociedade Brasileira de Paleontologia - Nordeste, em 2022, pelo trabalho na divulgação científica sobre a paleontologia no Cariri.
Amazônida, nasceu em Belém (PA) e foi criada em Manaus (AM) até os 17 anos, quando mudou para Fortaleza para cursar a faculdade. Gosta de ilustrar, ler ficção científica e assistir a animações diversas.
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