Golfe nas Olimpíadas: conheça esporte que voltou aos Jogos após um século

Originário da Escócia medieval, o golfe só retornou aos Jogos Olímpicos na edição brasileira, sediada no Rio de Janeiro em 2016; veja história do esporte

21:22 | Ago. 09, 2024

Por: Penélope Menezes
Olimpíadas 2024: conheça o golfe, esporte que voltou às Olimpíadas em 2016 e se mantém em Paris (foto: Mick De Paola/Unsplash)

Quando Nelly Korda nasceu, em 1998, o golfe moderno já era praticado por volta de cinco séculos. Não obstante, quando ganhou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio, a norte-americana se juntou à compatriota Margaret Abbott em uma vitória que conectou gerações 121 anos depois.

Korda, que vem de uma família de atletas, foi a segunda mulher a ganhar no individual feminino desde o retorno do golfe como esporte olímpico, em 2016. Neste feito, a golfista é precedida pela sul-coreana Inbee Park, a dona do ouro nos Jogos do Rio de Janeiro.

Que o País do Futebol fosse o encarregado pelo retorno do golfe na competição, e não os Estados Unidos (EUA) ou a Inglaterra, associados no pensamento popular ao esporte, pode soar curioso.

Atualmente o Brasil possui cerca de 117 campos, segundo a Confederação Brasileira de Golfe. Em comparação, os EUA possuíam, até o final de 2023, 16 mil campos de golfe em 14 mil instalações do esporte, ou seja: mais campos em todo o país do que lojas Starbucks ou McDonald's*.

A seguir, conheça a história do golfe, esporte que retornou ao pódio olímpico nas Olimpíadas do Rio e se mantém nas últimas edições.

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Golfe nas Olimpíadas: origem do esporte

De acordo com a Federação Brasileira de Golfe (CBGolfe), a origem do golfe moderno está na Escócia, mas versões do esporte podem ser encontradas na tradição do jogo romano de Paganica e na China durante a Dinastia Song.

Existem alegações históricas de que a Rainha Mary da Escócia praticava golfe durante o século XVI, quando aprendeu o esporte em seu período na França. O jornal britânico “The Illustrated News” retratou uma imagem da história em 1905.

As primeiras regras do golfe foram registradas em 1744 pela Honourable Company of Edinburgh Golfers, fato que destacou o esporte como um dos primeiros a estruturar suas próprias diretrizes.

No final do século XIX, os primeiros torneios femininos foram disponibilizados por meio da Ladies' Golf Union.

Golfe: chegada ao Brasil

O golfe chegou ao Brasil a partir dos britânicos que viviam ao redor do País, o que permitiu sua popularização e existência no século XX.

O campo mais antigo construído em solo brasileiro, o São Paulo Golf Club, foi desenvolvido em 1901, enquanto o Gavea Golf, fundado em 1921 no Rio de Janeiro, sediou o primeiro Aberto do Brasil em 1945.

Na história do País, o Brasil teve apenas um presidente golfista: Getúlio Vargas. O político começou a jogar no Gávea, mas preferiu praticar no Itanhangá Golf Club, também do Rio de Janeiro.

Golfe nas Olimpíadas: como a partida funciona

No portal oficial das Olimpíadas de Paris 2024, o princípio do esporte é explicado em uma frase: “o jogo de golfe consiste em jogar uma bola com um taco desde a área do tee até o buraco por uma tacada ou tacadas sucessivas de acordo com as regras”.

Na prática, os golfistas devem utilizar tacos diferentes para atingir resultados diversos, baseando-se em critérios como a distância até o buraco e a superfície do campo.

Na competição olímpica, o formato segue o jogo por tacadas, ou seja, é preciso contabilizar o número de tacadas de cada jogador até completar o campo de 18 buracos quatro vezes em quatro dias.

O perfil olímpico destaca que vence o atleta com o menor número de tacadas no final das quatro rodadas do torneio.

Golfe: retorno aos Jogos Olímpicos

O golfe foi considerado uma modalidade das Olimpíadas na segunda edição da era moderna dos Jogos, em 1900. Na época, a competição também foi sediada em Paris, com categorias masculinas e femininas.

A primeira medalha para o esporte foi alcançada por dois estadunidenses, Charles Sands e Margaret Abbott, citada no início da matéria.

Quatro anos depois, em 1904, com sede em Saint Louis (Missouri), nos Estados Unidos, o golfe fez a sua segunda e última aparição nos Jogos Olímpicos.

O retorno só aconteceria depois de 112 anos (mais de um século), na edição do Rio de Janeiro, em 2016.

O golfista Antenor Naspolini, um dos responsáveis pelo Cocó Golfe Clube em Fortaleza, capital do Ceará, admite que “o fato de o golfe ter voltado a ser um esporte olímpico foi muito importante para a sua divulgação e para atrair novos praticantes”.

“Mas isso só ocorreu a partir da Olimpíada do Rio de Janeiro. E as olimpíadas somente são realizadas de quatro em quatro anos. São necessárias outras providências para torná- lo mais popular”, considera.

Golfe além das Olimpíadas: presença em Fortaleza

Naspolini, que sempre gostou de praticar esportes como futebol, vôlei, basquete e futebol de salão, acreditava que o golfe “parecia inexequível”, já que não existiam campos no local em que vivia.

“Ao morar em frente ao Parque do Cocó, descobri um pequeno campo público, aberto desde às cinco horas da manhã até às dez da noite. O golfe é praticado no Parque do Cocó desde 2005, sem interrupção”, explica sobre o espaço.

Atualmente, o campo possui uma escolinha de golfe para alunos da escola pública, com aulas regulares no parque.

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Golfe em Fortaleza e região: onde praticar?

Confira espaços para conhecer a prática do golfe em Fortaleza, capital do Ceará.

  • Cocó Golfe Clube

Onde: Av. Padre Antônio Tomás - Cocó, Fortaleza
Contato (Instagram): @cocogolfe

  • Clube de Golfe Aquiraz Riviera

Onde: Rua Um, Enseada Praia s/n - Curralinho, Aquiraz – CE
Contato: (85) 9. 9710 - 0910 ou @aquirazriviera

  • Minigolfe (Parque Engenhoca)

Onde: Rua Raimundo Coelho 200 – Centro – Aquiraz – CE
Contato: www.parqueengenhoca.com.br/

  • Golfe Ville (Porto das Dunas)

Onde: Av. Oceano Índico, 255 - Aquiraz

Contato (Instagram): @condominiogolfville

Golfe nas Olimpíadas: onde é mais popular?

Na quarta edição do relatório “Golf Around the World”, divulgado pelo coletivo de empresas R&A em 2021, os 20 principais países que praticam golfe foram avaliados de acordo com o número de campos disponíveis.

Nas cinco primeiras posições, os Estados Unidos mantêm a liderança, seguidos pelo Japão, o Reino Unido, o Canadá e a Austrália. Já na América do Sul, a Argentina desponta como uma representante em 16º.

“A América do Norte abriga 50% da oferta mundial; os EUA sozinhos têm 42% do total mundial”, indica a pesquisa.

Golfe nas Olimpíadas: polêmicas no uso de recursos

Em 2008, o escritor esportivo Frank Deford apareceu no programa “Morning Edition” da rede de rádio pública NPR e foi categórico: “um campo de golfe é uma criatura egoísta”. A crítica partia do que Deford considerava um uso extremo da água para a manutenção do espaço.

Citando a organização Audubon International, o autor indicou a estimativa de que um campo americano médio usava 312 mil galões d’água por dia. A quantidade em um lugar como Palm Springs, na Califórnia, seria equivalente ao que uma família americana de quatro pessoas usaria em quatro anos.

Passados 14 anos, uma pesquisa realizada pela Associação de Superintendentes de Campos de Golfe da América (GCSAA) e compartilhada em 2022 indicou que os campos de golfe nos EUA usaram 29% menos água em 2020, em comparação com o seu uso em 2005.

Em outro artigo, publicado no Seattle Journal of Environmental Law em 2019 por Lauren Sewell, os aspectos ambientais positivos e negativos do campo de golfe foram avaliados. Entre os seus pontos de crítica, a construção dos terrenos foi responsável pelo “dano à vida selvagem e aos ecossistemas”.

Em 2016, quando um campo foi construído para o retorno do golfe às Olimpíadas, o terreno estava dentro da Proteção Ambiental de Marapendi. A área era um habitat costeiro para “vegetação nativa de restinga e vida animal, incluindo espécies ameaçadas”.

Por outro lado, Sewell indica que a conservação de aves está crescendo nos campos de golfe. “Os pesquisadores estão descobrindo que os terrenos dos campos de golfe podem, na verdade, imitar habitats naturais”, considera o artigo.

Em Fortaleza, sobre o desenvolvimento do campo de golfe no Parque do Cocó, Naspolini destacou:

“Nas construções de campos de golfe a prática é fazer um projeto para uma grande área e depois adaptar o espaço físico. No Cocó ocorreu o contrário. O campo foi adaptado ao espaço existente, sem sacrificar nenhuma árvore”.

Em sua pesquisa, Sewell também apresentou a opção do restauro de áreas de terra que foram danificadas por aterros e operações de mineração. Nesse caso, a utilização da grama nos campos de golfe se torna “uma ótima maneira de salvar o terreno”.

“Nos últimos quarenta anos, pelo menos setenta campos (de golfe) em todo o país foram construídos a partir de antigos aterros”, indicou a pesquisadora sobre os Estados Unidos, nação em que o esporte é popularmente conhecido.


* Dados da National Golf Foundation

Atualizado em 11/08/24 às 11h08min