Cearense supera frustração com Tóquio e celebra 60 anos nas Olimpíadas de Paris
Tereza Cristina Tavares, professora quilombola de Caucaia, marca presença nos Jogos Olímpicos ao lado das filhas Cristal e Pérola
21:42 | Ago. 07, 2024
A pandemia do Covid-19, além de toda a tragédia humana, também frustrou planos e sonhos. Um deles era o da cearense Tereza Cristina Tavares, professora quilombola de Caucaia, de vivenciar os Jogos Olímpicos fora do País, já que, em 2016, já havia se voluntariado e trabalhado na edição do Rio de Janeiro.
Aliás, diga-se, evento esportivo é com ela mesmo, especialista em Educação Física. Tereza já trabalhou como voluntária nas edições da Copa das Confederações e Copa do Mundo no Brasil, em 2013 e 2014, respectivamente.
“Eu nunca fui uma grande esportista, mas achei que eu poderia trazer algo de diferente para a minha comunidade. É mais animado, tem dança. Muita gente acha que Educação Física é só bola. Eu consigo dar aula sem bola”, explica a professora, deixando claro, com muito orgulho, que se formou aos 45 anos.
Leia mais
Devido à emergência sanitária que assolava o planeta, o comitê organizador da edição dos Jogos Olímpicos de 2020 (que foi realizada em 2021), em Tóquio, dispensou todos os voluntários estrangeiros que haviam sido selecionados. E lá se foi o sonho de Tereza. Mas mal sabia ela que, na verdade, havia sido um capricho.
Três anos depois, em Paris, o sonho sendo realizado da melhor forma: comemorando os 60 anos de idade, curtindo a tão sonhada Olimpíada no exterior e na companhia das duas filhas, Cristal e Pérola, que vivem na Oceania.
“O simbolismo desta viagem faz todo o sentido para gente. É a nossa primeira vez na Europa e a primeira viagem internacional dela. Além disso, já fazia dois anos que não a via. São vários significados, não apenas vir para as Olimpíadas”, explica a filha caçula Pérola, de 27 anos, que trabalha em hotelaria na Austrália.
Mesmo de férias do ano escolar, Tereza segue no espírito pedagógico. A viagem respira troca de informações e a aprendizagens.
“É a primeira vez da minha mãe fora do País, então a gente mostra muito da cultura e, em troca, ela nos mostra os jogos. Chega a ser até cansativo, tanto fisicamente por andar a cidade toda, como mentalmente pelo volume de informações”, confessa Cristal, de 31 anos, que trabalha com contabilidade e marketing na Nova Zelândia.
Mesmo em solo francês e inserida na atmosfera dos Jogos Olímpicos, a professora quilombola trazia, nas vestes, a cultura de onde veio. Brincante do Reisado dos Irmãos, dos Mestres Antônio e Raimundo Evangelista, Tereza vestia uma corte de características ocidentais, enfeitados de lantejoulas, fitas, tecidos laminados e roupas com as cores da bandeira do Brasil.
E o que o reisado tem a ver com Jogos Olímpicos? Tudo! O reisado é sobre vivenciar ancestralidades, misturas étnicas e multiculturalidades, tudo o que a professora quilombola já planejava compartilhar com os alunos no retorno às aulas.
“Eu levo a diversidade. De gente, de língua, gênero, pessoas, vestes, comportamento. São muito educados. A importância desse monte de gente, dessa Torre de Babel que é isso aqui. Ainda mais em olimpíada que traz ainda mais pessoas de vários lugares diferentes”, completa Tereza.
*Correspondente O POVO em Paris