Imane Khelif e Angela Carini: entenda a polêmica de gênero no boxe

Angela desistiu da luta contra Khelif aos 46 segundos. Argelina está em meio a discussão sobre os padrões de gênero no esporte e é questionada se é mulher cis

A italiana Angela Carini abandonou o ringue em uma disputa contra a argelina Imane Khelif nesta quinta-feira, 1°. A luta, que durou cerca de 46 segundos, é um dos momentos mais polêmicos dos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Isso porque a desistência reanimou uma discussão sobre os padrões de gênero no esporte. Khelif é mulher cis, mas tem sua identidade questionada supostamente não atender aos critérios de gênero estabelecidos pela Associação Internacional de Boxe (IBA).

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O Comitê Olímpico Internacional (COI) se pronunciou ressaltando que a IBA não é reconhecida pelo comitê devido a problemas envolvendo falta de transparência. Entenda o que aconteceu.

Boxe nas Olimpíadas: por que Angela Carini abandonou a luta?

Após cerca de 30 segundos de luta, a italiana Angela Carini recebeu uma pancada no rosto e foi até o corner, para pedir auxílio ao treinador. Quando a luta recomeçou, Carini decidiu deixar o ringue.

O confronto era válido pelas oitavas de final do peso meio-médio. Carini se pronunciou para a BBC Sport afirmando que desistência não teve qualquer relação com o caso envolvendo questionamento do gênero de Khelif.

Segundo a italiana, o abandono ocorreu devido às dores intensas no nariz após os primeiros golpes sofridos durante a luta. “Não fui capaz de terminar a luta. Senti uma forte dor no nariz”, afirmou.

Sobre Khelif, Carini afirmou: "Desejo que siga até o fim e seja feliz. Sou uma pessoa que não julga ninguém. Não estou aqui para julgar".

Com a desistência, a boxeadora argelina se classificou para as quartas de final na categoria feminina de até 66 quilos. Ela enfrenta a húngara Anna Luca Hamori neste sábado, 3. Se vencer, já terá uma medalha assegurada.

Por que Imane Khelif foi desclassificada no teste de gênero?

Khelif foi desqualificada no ano passado em um campeonato da Associação Internacional de Boxe, depois de um suposto teste mostrar que ela e a taiwanesa Lin Yu-ting não atendiam aos "critérios de elegibilidade".

A Associação não é reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Entenda o que dizem as organizações sobre o "teste de gênero":

O que diz a Associação Internacional de boxe

A associação declarou, em nota publicada no último dia 31, que Imane Khelif e Lin Yu-ting não passaram por um exame de testosterona, mas “foram submetidas a um teste separado e reconhecido, pelo qual os detalhes permanecem confidenciais”.

Este teste teria indicado que elas teriam vantagens competitivas sobre outras competidoras femininas. A IBA destaca que "protege as mulheres e seus direitos de competir no ringue contra rivais iguais".

O que diz o Comitê Olímpico Internacional

O reconhecimento da IBA foi retirado pelo COI em 2023, após sua suspensão em 2019 por corrupção e má gestão. O COI esclareceu em nota que as boxeadoras “foram vítimas de uma decisão repentina e arbitrária da IBA” e “inicialmente tomada somente pelo Secretário Geral e CEO da IBA”. 

O comitê ressaltou ainda que todos os atletas participantes do torneio de boxe dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 cumprem os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, bem como todos os regulamentos médicos.

"O teste de testosterona não é um teste perfeito. Muitas mulheres podem ter níveis de testosterona iguais ou semelhantes aos dos homens, embora ainda sejam mulheres", disse o porta-voz do COI, Mark Adam para a AFP.

A argelina Imane Khelif "nasceu mulher, foi registrada como mulher, vive a sua vida como mulher, luta boxe como mulher", reiterou.

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Boxe nas Olimpíadas 2024: qual o gênero de Imane Khelif?

Imane Khelif não é uma mulher trans. A boxeadora passou a sofrer transfobia nas Olimpíadas de Paris 2024, mesmo sendo uma mulher cisgênero (se identifica com o gênero no qual foi designada no nascimento). O mesmo ocorreu com a taiwanesa Lin Yu-ting.

Imane Khelif e a Lin Yu-ting já participaram dos Jogos Olímpicos, na edição de Tóquio em 2021. Nenhuma subiu ao pódio.

O Comitê Olímpico Argelino (COA) repudiou os ataques que a atleta vem sofrendo nos últimos dias. Em nota divulgada nessa quinta-feira, 1°, os argelinos afirmaram que as “tentativas de difamação, baseadas em mentiras, são completamente injustas, especialmente num momento crucial em que ela se prepara para os Jogos Olímpicos, o auge da sua carreira”.

Na Argélia, país muçulmano onde nasceu Khelif, as pessoas LGBTIQIA+ são frequentemente discriminadas, a homossexualidade é socialmente punida e a mudança de identidade de gênero é ilegal.

Irlandesa que já derrotou Khelif defende a boxeadora

A boxeadora irlandesa Amy Broadhurst, que enfrentou e venceu Khelif no Mundial de 2022, comentou o assunto nas redes sociais e defendeu a argelina. 

"Pessoalmente, não acho que ela tenha feito nada para 'trapacear'. Acho que é a forma como ela nasceu e isso está fora do controle dela. O fato de que ela já foi derrotada por nove mulheres antes diz tudo", disse, ao lado de um vídeo do combate entre elas. Khelif perdeu nove das 50 lutas em sua carreira.

Nascida em Tiaret, na Argélia, em 2 de maio de 1999, Khelif compete desde 2018. Em 2022, ela venceu os campeonatos Africano e Mediterrâneo e chegou à final do Mundial em Istambul, perdendo para Broadhurst.

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