Olimpíadas: diretor de abertura nega sátira à Santa Ceia; entenda polêmica
Ele também explicou a referência a deuses do Olimpo. Trecho polêmico da cerimônia motivou série de críticas por parte de cristãos pelo mundo
20:19 | Jul. 28, 2024
Um trecho polêmico durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, na última sexta-feira, 26, gerou controvérsias depois de supostamente satirizar a última ceia de Jesus Cristo com uma performance protagonizada por . A cena "Festividade" motivou uma série de críticas por parte de cristãos e membros da extrema-direita pelo mundo, que repudiaram a tida referência ao quadro "A Última Ceia", obra de .
Durante a transmissão da cerimônia, que foi acompanhada por milhares de brasileiros, o termo "blasfêmia" chegou a figurar entre os tópicos mais comentados do X (ex-Twitter).
Entidades da Igreja Católica e líderes religiosos globais se manifestaram e cristãos foram às ruas da capital francesa protestar contra o que classificaram como "zombaria". A Conferência dos Bispos da Igreja Católica Francesa disse, em comunicado: "infelizmente, esta cerimônia apresentou cenas de escárnio e zombaria do Cristianismo, que deploramos profundamente".
"Nossos pensamentos estão com todos os cristãos de todos os continentes que foram feridos pela ofensa e provocação de certas cenas. Esperamos que eles entendam que a celebração olímpica se estende muito além das preferências ideológicas de alguns artistas", declarou o coletivo de bispos em nota.
A deputada Marion Marechal, líder da direita francesa, fez coro às críticas: "Para todos os cristãos do mundo que estão assistindo à cerimônia #Paris2024 e se sentiram insultados por esta paródia drag queen da Última Ceia, saibam que não é a França que está falando, mas uma minoria de esquerda pronta para qualquer provocação".
E acrescentou, em um post no X: "Este acontecimento, que deveria ser um trunfo diplomático, tornou-se uma vergonha internacional devido às provocações egocêntricas de uma minoria de ativistas de esquerda que tomaram a cerimônia como refém ideologicamente".
No sábado, 27, a Conferência Episcopal Francesa (CEF) condenou as chamadas "cenas de mofa e zombaria do cristianismo", mas reconheceu "momentos maravilhosos de beleza, de alegria, ricos em emoções e universalmente aclamados", o que confirma o que a imprensa francesa tem noticiado: a abertura, de modo geral, foi bem-recebida pelos franceses.
O bisco Andrew Cozzens, presidente do Comitê Episcopal dos Estados Unidos para Evangelização e Catequese, emitiu uma declaração e pediu aos católicos que "respondam ao incidente de Paris com oração e jejum".
"Será que o deboche a partir da última ceia não reproduz e reforça os preconceitos que se querem combater, fazem sofrer… levaram a violências?", questionou o cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, em publicação nas redes sociais.
Santa Ceia na abertura das Olimpíadas: Olimpismo em vez de Cristianismo
O espetáculo de performances artísticas marcadas pela diversidade ao longo do rio Sena foi dirigido por Thomas Jolly, um renomado ator e diretor francês. Em entrevista à rede de televisão BFM TV, Jolly negou ter zombado da famosa cena bíblica de Jesus Cristo e seus doze apóstolos.
"Nunca encontrará da minha parte nenhum desejo de zombar, de denegrir nada. Quis fazer uma cerimônia que reparasse, que reconciliasse e que reafirmasse os valores da nossa república", disse.
"Não foi minha inspiração", afirmou o diretor sobre a suposta referência à santa ceia. E continuou: "Acho que ficou bem claro, lá está Dionísio, deus do vinho (...) e pai de Sequana, deusa ligada ao rio. A ideia era mais fazer um grande festival pagão conectado com os deuses do Olimpo. Olympus, Olimpismo".
A inspiração teria origem no quadro "Le festin des dieux" (A festa dos deuses, em tradução livre), de Jan Harmensz van Bijlert, obra de 1635 que retrata os deuses do Olimpo — cultura que rege as Olimpíadas.
Santa Ceia na abertura das Olimpíadas: comitê e perfil oficial dos Jogos se pronunciam
O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos declarou neste domingo, 28, que não houve a intenção de desrespeitar religiosos.
"Nunca houve qualquer intenção de desrespeitar qualquer grupo religioso", disse Anne Descamps, diretora de comunicações do COJO, em entrevista coletiva. "Se alguém ficou ofendido, lamentamos muito", acrescentou.
Na cobertura do evento, o perfil oficial dos Jogos Olímpicos no X apontou a referência à Grécia antiga. "A interpretação do deus grego Dionísio nos conscientiza do absurdo da violência entre os seres humanos", diz a publicação. No centro, pintado de azul e seminu, o ator Philippe Katerine interpreta o deus grego Dionísio (ou Baco).
The interpretation of the Greek God Dionysus makes us aware of the absurdity of violence between human beings. #Paris2024 #OpeningCeremony pic.twitter.com/FBlQNNUmvV
— The Olympic Games (@Olympics) July 26, 2024"Não seria divertido se não houvesse polêmica. Não seria chato se todos concordassem neste planeta?”, disse Philippe Katerine à BFM TV um dia após a abertura.