Paratleta cearense vence Campeonato Brasileiro de Ava'a e inspira campanha de apoio

Em preparação para competir o Campeonato Cearense de Va'a, Gildário Castro inicia campanha de arrecadação para conseguir os próprios materiais esportivos

10:26 | Abr. 03, 2025

Por: Lara Santos
Cearense Gildário Castro foi campeão brasileiro de Parava'a na categoria VL3. (foto: Tríade Imagens)

Na última semana de março, Salvador foi palco da segunda etapa do Campeonato Brasileiro de Va’a (canoa havaiana), a maior competição da modalidade no país. Durante três dias de disputas, a capital baiana recebeu cerca de 600 atletas e paratletas, entre eles o cearense Gildário Castro, que conquistou o título na categoria VL3, destinada a atletas com deficiência física.

Além de Gildário, outros conterrâneos também subiram ao pódio: Elione de Sousa (categoria VL3) levou a medalha de prata, enquanto Renata Pimentel (categoria VL4) garantiu duas medalhas de ouro. Com isso, o Ceará encerrou a competição nacional com quatro medalhas.

Superação dentro e fora d'água

Competindo na categoria V1 — que utiliza canoas individuais sem leme —, Gildário percorreu 8 quilômetros em 42 minutos e 47 segundos, garantindo o lugar mais alto do pódio. Para o atleta de 31 anos, natural de Fortaleza, a conquista representa bem mais do que o resultado de uma intensa rotina de treinos. A medalha de campeão é o reflexo de uma trajetória marcada por obstinação e resiliência. 

Apaixonado por esportes desde a infância, Gildário sempre esteve envolvido com atividades físicas, especialmente futebol e atletismo, ainda que de forma amadora. No entanto, sua relação com o esporte mudou drasticamente em 2020, durante a pandemia de Covid-19, quando sofreu um acidente de trânsito que resultou na amputação de sua perna direita. Desde então, o cearense passou a utilizar uma prótese transtibial — motivo pelo qual recebeu a alcunha de “Perna de Ferro”.

Assim, sem o mesmo estímulo para retornar aos esportes que praticava antes, Gildário foi incentivado por amigos a experimentar a canoagem em 2022. O que começou como uma tentativa despretensiosa da modalidade até então desconhecida logo se tornou seu principal investimento.

“Comecei treinando na Kayakeria (primeira escola de canoa do Ceará), e lá recebi apoio de amigos e outros atletas para seguir nesse caminho. E, depois de um tempo de treino, participei do meu primeiro Campeonato Cearense e ali vi que teria que continuar fazendo aquilo”, contou ao Esportes O POVO.

Desafios e a busca por apoio

Atualmente, além dos treinos intensivos no Parava’a, Gildário concilia a carreira de atleta com seu próprio negócio no setor automotivo. Sem patrocínio e sem os equipamentos ideais para competir, ele conta com o apoio de amigos e demais atletas da comunidade esportiva.

Aliás, foi utilizando materiais emprestados que o Perna de Ferro conseguiu participar do Campeonato Brasileiro. Tanto a canoa utilizada na competição, quanto acessórios, como colete e remo, foram cedidos por amigos próximos. 

Por isso, ao cruzar a linha de chegada como campeão, Gildário não escondeu a emoção. “Quando olhei para trás e vi que tinha uma certa vantagem sobre o segundo colocado, comecei a me emocionar. Lembrei das dificuldades e dos sacrifícios que precisei fazer para chegar ali. Ser atleta não é fácil”, relata o paratleta. 

Agora, o Perna de Ferro busca apoio para continuar competindo em alto nível e representar o Ceará em futuras competições, inclusive no Campeonato Cearense de Va'a, que ocorre já neste mês de abril. Em busca de conseguir os próprio materiais, Gildário iniciou uma campanha de arrecadação on-line e conta a solidariedade para seguir adiante. A fim de conseguir comprar equipamentos como remo de canoa havaiana, colete de flutuação, entre outros itens, o valor necessário gira em torno de R$ 4 mil.