Imersão no paraíso: a experiência de uma aula de kitesurfe no pôr do sol do Preá

O céu colorido por pipas e o belo entardecer são fatores convidativos para se aventurar em uma hora de prática do esporte em um dos principais polos do mundo de kitesurfe

As dezenas de pipas que colorem o céu, erguidas pelos praticantes que se aventuram no mar, encantam os turistas que visitam a Praia do Preá, em Cruz, município no litoral Oeste do Ceará, próximo a Jericoacoara. Muitos acabam atraídos pela curiosidade ou pelo desafio de fazer uma aula de kitesurfe no belo cenário. E eu fui um deles.

É bem verdade que já estava disposto a cair na água — mera ilusão — desde que recebi o convite para a viagem. Ao chegar ao Preá, o tema veio à tona com outros colegas jornalistas e percebi que o sentimento era o mesmo. Naturalmente, foi pauta no café da manhã do aguardado dia, também em uma tentativa de angariar novos candidatos para a aventura.

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Fomos ao Rancho do Kite, onde fica uma das principais escolas do mundo, comandada por Alexandre Rolim Ribeiro, o Mosquito, que chegou ao litoral cearense há duas décadas e não saiu mais. Ele foi um dos grandes responsáveis pela transformação do Preá em polo mundial do esportes de vento e mar, formando atletas, professores e alunos ao lado da esposa Vanessa, e investindo em equipamentos de alto padrão de qualidade.

Após almoço com presença da secretaria de Turismo do Estado, Yrwana Albuquerque, eu e uma colega de São Paulo percebemos que talvez exageramos nas delícias da culinária local. Sem muito tempo para arrependimento, fomos convocados por Mariana Bokel, diretora de comunicação do Grupo Carnaúba, para a aula. Além de nós três, uma colega de Brasília também estava escalada para a experiência.

O primeiro passo é o preenchimento de um formulário, com dados pessoais e informações sobre a aula e a prática do kitesurfe, o que não significa qualquer perigo: os instrutores são extremamente capacitados e cautelosos, sobretudo com iniciantes, o que era meu caso. O zelo vai desde à escolha dos equipamentos à imersão completa no esporte durante os 60 minutos de aula.

João Vitor Salles, responsável por ser meu professor, pergunta se é a primeira vez que vou praticar, ouve que sim e retorna instantes depois com todos os equipamentos. De cara, explica que pegou uma pipa de tamanho 6 em razão do meu porte físico e da força do vento naquele dia. Visto o colete enquanto pergunto sobre a trajetória de João e ouço explicações sobre a parte teórica do esporte. Inflamos o kite e partimos para a areia.

A primeira lição importante é como deitar a pipa na areia: frontal à direção do vento. João dá a dica de inclinar a cabeça até sentir o vento bater nas duas orelhas; o kite também deve ficar posicionado desta forma. O próximo passo é amarrar as quatro linhas da barra à pipa. João acopla a barra ao meu colete, explica os procedimentos de segurança e coloco o capacete antes de seguirmos para uma faixa mais afastada.

O professor vai conferir se as linhas não se enrolaram em razão do vento e me avisa para só tirar o kite da areia ao receber o sinal de positivo dele. Ele aproveita para emendar: na volta do mar, os praticantes encostam a palma da mão na parte superior do capacete para sinalizar que precisam de suporte para descer a pipa na areia.

João Vitor conduz até um ponto próximo em que minhas três colegas já estavam. Passo por elas e percebo que há uma espécie de relógio no chão. Sentamos na areia, e João faz o mesmo: desenha uma meia-lua, escreve números e explica posições que podemos deixar a pipa no céu. Meio-dia, por exemplo, significa estar com o kite totalmente reto para cima — como os dois ponteiros do relógio neste horário; 1 hora e 11 horas deixam a pipa a 60 graus, enquanto 2 horas e 10 horas são a posição a 90 graus.

Enfim chega o momento da prática. João dá o comando para nos levantarmos e me entrega o comando da barra. Inicialmente, segura junto comigo; minutos depois, passa a me segurar para o colete enquanto passa orientações. O instrutor explica que não é necessário usar força nos braços, "o segredo é o jeito". A posição da perna de apoio também é importante, sobretudo em momentos de rajadas de ventos mais fortes.

Os primeiros instantes no controle da pipa são importantes para perceber a pressão do vento e os movimentos necessários para deixá-la na posição desejada — "deixa às 11 horas", "agora às 2 horas", instruía João Vitor, por exemplo, para que eu aprendesse a colocar o kite em diversas posições no ar. O desafio, na verdade, é mantê-lo naquele ângulo em meio ao forte vento da região.

À medida que o aluno ganha confiança, os professores aumentam a dificuldade com variações: segurar a barra apenas com uma mão; mudar gradualmente o lado em que a pipa está (da esquerda para a direita) e manter em determinada posição por alguns longos segundos. Vamos à beirinha do mar para conduzir o kite em contato com a água. João explica que são necessárias de oito a dez horas de aula para liberar o aluno a entrar na água com autonomia total munido de prancha e pipa.

O sol, que antes atrapalhava um pouco a visão para enxergar o kite no céu, já estava se pondo. As mãos que não estão ocupadas segurando pipas estão munidas de celulares para registrar fotos e vídeos da cena, que encanta turistas de todo o mundo. João Vitor, que trabalha com Mosquito há cerca de oito anos e virou professor há quase dois, avisa que nosso tempo de aula se encerrou.

Caminhamos de volta para a faixa maior de areia, descemos a pipa, desamarramos as linhas e desmontamos o equipamento. Na caminhada de volta ao Rancho do Kite, João pergunta se vou voltar no dia seguinte e explico que vou retornar a Fortaleza. "Mas vai voltar depois para continuar as aulas, né?", ele reforça. É possível que sim. Em 60 minutos de imersão total, comprovei o que vários apaixonados pelo esporte já tinham me dito: é uma terapia.

O repórter viajou ao Preá a convite do Grupo Carnaúba

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