Bruno Lobo, o nordestino que sonha em representar o kitesurf brasileiro na Olimpíada de Paris
Formado em medicina, o maranhense está em busca de uma das 20 vagas disponíveis para a categoria hydrofoil"É um sonho de infância", foi como o nordestino Bruno Lobo resumiu um dos seus principais objetivos atualmente: representar o Brasil no kitesurf na estreia da modalidade nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Praticante da categoria hydrofoil, o maranhense de 29 anos precisou, nos últimos anos, conciliar a intensa carreira de médico com os treinos nas águas.
"Comecei no kitesurf em 2010, incentivado pelo meu pai, que começou um pouco antes de mim e me convidou a praticar o esporte também. Foi amor à primeira vista. O hydrofoil eu conheci um pouco depois. O kite na verdade era mais uma brincadeira, um lazer. Teve uma competição aqui em São Luís, um Campeonato Brasileiro, e acabei conhecendo atletas de fora, que já praticavam a modalidade de corrida, de regata. Era um outro tipo de prancha, ainda não era o hydrofoil. Ali foi o meu primeiro contato com as competições de mais alto nível"
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Bruno recordou que, a partir daquela competição, passou a levar o esporte mais a sério. Iniciou, então, busca por patrocínios e investiu financeiramente em equipamentos. Em 2015, um tipo diferente de prancha surgiu na Europa, o hydrofoil, trazendo uma nova categoria para a modalidade, que logo se popularizou entre os praticantes.
O hydrofoil é uma adaptação da tradicional prancha de kitesurf. Nela, há um mastro em sua base, no qual estão acopladas duas “asas” - utilizadas como plataformas de sustentação - que auxiliam o atleta a tomar impulso na água e a “planar” sobre ela, elevando a dificuldade do esporte.
A categoria será uma das novidades nos Jogos Olímpicos de Paris, grande sonho de Bruno, desde criança. Ao todo, serão 20 vagas, uma para cada continente, além de outras que podem ser obtidas por meio do Campeonato Mundial, ranking da América do Sul e Jogos Pan-Americanos. Essas três possibilidades, inclusive, serão o foco do maranhense no próximo ano.
"Ir para a Olimpíada é um sonho de infância. Eu digo que é um sonho porque desde criança eu sou atleta, passei por outros esportes, como a natação e o triatlo, onde tive bons resultados, fui da seleção brasileira. E no momento que eu conheci o kitesurf, que começou como uma brincadeira, eu pude dar continuidade a esse sonho", disse.
"Mas para ir à Olimpíada são muitas renúncias, temos que abrir mão de muitas coisas para se dedicar ao esporte. Horas e horas de treino, investimento financeiro, muitas vezes do nosso dinheiro, em busca desse objetivo. Mas o sonho e a vontade de representar o Brasil, de quem sabe trazer uma medalha, faz com que a gente supere todas as adversidades", completou.
Especializado em ortopedia, Bruno tem usado 90% do tempo para se dedicar ao esporte visando potencializar suas chances para obter a vaga nas olimpíadas. Na semana, separa dois turnos para atender pacientes e realizar eventuais cirurgias.
"Eu busco fazer dois treinos por dia dentro da água, muita preparação física na água. É uma rotina puxada, mas é necessário para alcançar o resultado que quero. Então é acreditar no processo, não é fácil, mas a gente planta para colher lá na frente. Dia 14 eu viajo para uma etapa do circuito mundial, em setembro eu tenho um torneio europeu e em outubro novamente o mundial. Espero trazer bons resultados ao Brasil", explicou.
Um fato curioso sobre o maranhense são seus feitos individuais. Desafiado por si mesmo, decidiu sair de São Luís até os lençóis maranhenses velejando contra o vento, percorrendo 280km sem apoio. O trajeto dentro da água durou oito horas e meia. "Meu outro objetivo é ir até Fernando de Noronha, ninguém nunca fez essa travessia", contou.
Relação com Fortaleza e apoio do Surfin Sem Fim
De passagem comprada para Fortaleza, Bruno virá à capital cearense no dia 15 de agosto participar da Copa do Brasil de Vela de Praia, realizada na Praia de Iracema. O atleta também é apaixonado pelo Preá e por Jericoacora, praias que considera entre as melhores do mundo para velejar e pela estrutura de treinamento.
"Preá e Jeri são lugares que eu acho muito lindos, alguns dos melhores lugares que eu já velejei. O vento realmente começa bem cedo e continua pelo dia todo. Para quem gosta de vento forte, velejar e estar dentro da água, é um dos melhores lugares do mundo. Eu gosto dessas condições, de vento forte, e poucos atletas se sentem bem. Também é muito bom para praticar outras modalidades, estar com os amigos", disse.
Outro detalhe importante na jornada de Bruno em busca do sonho olímpico foi a parceria firmada com o "Surfin Sem Fim", projeto que trabalha com experiências em rotas nacionais e internacionais, realizando percursos que podem partir de 40 até mil quilômetros pelo mar por meio do velejo.
"É mais uma parceria que está iniciando. Como eu falo, um sonho que se sonha só, é somente um sonho, mas um sonho que se sonha junto, é uma realidade. Então, quanto mais pessoas acreditam, apoiam, maior a chance de estar lá (nas Olimpíadas) e representar o Brasil. É uma caminhada difícil, árdua, e quanto mais apoio, maiores as chances", exaltou.
Para quem quer se aventurar no esporte, julho está entre os melhores períodos para a prática no Ceará, isso porque o mês marca o início da temporada dos ventos, condição que potencializa o velejo. Para Marcos Dalpozzo, idealizador do "Surfin Sem Fim", começar mais uma nova temporada é a certeza de experiências incríveis por todo trajeto. "Vou deixar o vento me levar", disse.
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