Atleta cearense de basquete em cadeira de rodas sonha com as Paralimpíadas de Paris

A modalidade é a mais antiga do País, oferecida por 110 clubes nacionais a atletas com deficiências físico-motoras

Aos 17 anos, Laura Nauderer já sabe o que quer para o futuro. “Estou treinando para os Jogos de Paris, em 2024. É lá que eu quero chegar”, disse ela em entrevista concedida ao Esportes O POVO, enquanto compete nas Paralimpíadas Escolares 2021, em São Paulo. A paratleta começou sua história no esporte em 2009, aos cinco anos de idade, quando a mãe a matriculou na natação, como forma de fortalecer o corpo à medida que crescia.

Nadou até os dez anos, quando foi apresentada a outro esporte que mudaria a trajetória: o basquete. Questionada sobre o porquê de ter sentido vontade de trocar de modalidade, ela responde de forma objetiva: “Desde pequena sempre gostei de jogos que envolvessem bolas, então quando conheci o basquete e vi que poderia praticar na cadeira de rodas, comecei e nunca mais parei.”

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Laura começou a treinar no Centro de Profissionalização Inclusiva para a Pessoa com Deficiência (Cepid), na Barra do Ceará. Logo passou a praticar o basquete no Hospital Sarah Kubitschek, conhecido como Centro de Neurorreabilitação Sarah Fortaleza, no Passaré, que promove atividades educativas e esportivas, com suporte psicopedagógico e acompanhamento escolar para os pacientes.

Hoje, ela é atleta da Associação D’eficiência Superando Limites (Adesul), jogando pelo time Adesul/Fortaleza, parceiro do Fortaleza Esporte Clube, na modalidade de basquete em cadeira de rodas. Laura e as colegas de time competiram na última edição do Campeonato Feminino Brasileiro, em Guarapari (ES), no qual ficaram com a quarta, quinta e sexta posições. 

Rede de apoio

Joelisa de Souza Nauderer, mãe da Laurinha e acompanhante nas viagens que faz pelo Brasil para competir, diz que ela e o marido, Paulo Fernando Nauderer, levaram um susto ao descobrir que a filha nasceria com uma lesão na medula óssea. “Eu era mãe de primeira viagem, né, então foi um choque. No começo foi bem difícil, ela teve que fazer muita fisioterapia, mas essa situação só nos uniu mais ainda. A Laura é nosso presente.”

Oito meses após o nascimento da filha, no Rio Grande do Sul, terra natal do marido, Joelisa decidiu trazê-la de volta ao Ceará, por achar que a primogênita se desenvolveria melhor em um clima mais ameno. A natação, que trabalha o tônus muscular e a respiração, assim como a autonomia corporal, foi a modalidade escolhida para a introdução ao esporte. Laura ainda lembra do nome de quem lhe acompanhava durante as aulas: a professora Heloísa.

“Ela nada muito bem as quatro modalidades. Mas, depois de um tempo, apareceu o basquete. E ele mudou a vida da Laurinha. Ela era tímida, calada, e depois de começar a praticar, se tornou mais aberta, fez amigos. Agora ela sai de casa sozinha, faz coisas por si mesma, tem uma vida que é só dela. E tudo isso foi ela que conquistou, com a própria força.”

As vantagens físicas que a prática do esporte traz para a vida dos atletas são conhecidas, mas o aprendizado e as experiências vão muito além. A disciplina dos treinos, a persistência por objetivos e a fé de que é possível chegar onde se almeja são lições que Laura carrega em todos os momentos, guiada pelo treinador Lídio Andrade, da Adesul.

“Ele briga quando a gente erra, mas incentiva muito também. Ele acredita na gente, sempre diz que somos capazes, que vamos conseguir. E ele cuida também da nossa educação, diz que é importante que a gente estude, que tenha sempre um plano B. A vida de atleta é curta, então precisamos ficar preparadas”, explica Laura.

Os momentos difíceis dos últimos dois anos, quando o mundo se viu em meio à pandemia de Covid-19, também foram vividos pela família de Laura, a qual ficou mais de um ano parada, sem praticar basquete. A atleta chegou a testar positivo para o novo coronavírus, mas seus sintomas foram leves, e a recuperação, rápida. De acordo com mãe e filha, a presença da espiritualidade se sobrepôs ao desespero: “Assim como no esporte, quando se treina e na vida real, é preciso ter fé que as coisas vão melhorar.”

Entre seus pais, amigos e treinadores, a rede de apoio de Laurinha é essencial para uma atleta rumo ao alto rendimento. Sobre as vantagens e desvantagens de ser filha única, ela diz, rindo: “É bom porque eu sou o centro das atenções, né? Então tudo é pra mim. Mas também, quando é pra levar carão, levo tudo sozinha, não tem com quem dividir!”

Mesmo tendo sido convocada para a Seleção Brasileira feminina sub-25 de basquete em cadeira de rodas, ela afirma: quer fazer faculdade de Educação Física e passar adiante o conhecimento que adquiriu em tantos anos de prática esportiva. Para ela, todos deveriam fazer esportes pelas lições impostas, como a perseverança. “Não se deve desistir de um sonho. Pra quem tem dificuldade, quem acha que não consegue, continue. Nunca se sabe até onde é possível chegar.”

Laura Nauderer é patrocinada pela FTrade, que contribuiu com um valor para a compra da nova cadeira de rodas adaptada para a atleta. A empresa fornece soluções em comércio exterior, e patrocina times infantis de diversas modalidades, como o time sub-10 de futebol de campo Golden Boys, que jogará a Rio Cup em 2022.

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