De atentado à briga por título na Série A: Bruno Costa detalha volta por cima do Fortaleza

Dirigente tricolor relembra momentos difíceis do Fortaleza na temporada, entre eles o atentado sofrido no Recife, e detalha o que o clube fez para dar a volta por cima e brigar pelo título da Série A

Com o bom momento do Fortaleza na temporada, na qual figura na segunda colocação do Brasileirão Série A e disputará as quartas de final da Copa Sul-Americana, o diretor de futebol do clube, Bruno Costa, contou ao Esportes O POVO sobre as viradas de chaves e dificuldades que o time teve que enfrentar em 2024.

O dirigente debruçou-se ainda sobre o atentado sofrido pela delegação do Fortaleza em Pernambuco, em fevereiro deste ano, por membros de uma torcida organizada do Sport, detalhando o momento de medo. Ao relembrar os percalços desde sua chegada, Bruno falou sobre as derrotas que mais levaram ensinamentos aos jogadores e a importância do departamento de psicologia do clube na retomada após cada episódio.

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“Tivemos a final do estadual [ida], bombas [atentado sofrido em Pernambuco], final do estadual [volta], vitória sobre o Sport e a derrota de 5 a 0 para o Cuiabá. Isso mostra a personalidade e o caráter do clube na recuperação, das pessoas que comandam o Fortaleza em todas as áreas”, ressaltou.

Goleada sofrida para o Cuiabá e volta por cima

No dia 16 de junho, o Fortaleza sofreu uma das mais dolorosas derrotas na temporada. Jogando fora de casa, o Tricolor foi goleado por 5 a 0 pelo Cuiabá. Naquele momento, atuações abaixo do esperado que já vinham acontecendo antes mesmo do duro revés, apesar do título da Copa do Nordeste, geravam insegurança na torcida.

“A gente já chegou no vestiário, no intervalo, com três expulsões [Emanuel Brítez, Renato Kayzer e um membro da comissão técnica]. O time não vinha fazendo um bom jogo. O que você pode fazer é manter a dignidade do grupo e terminar a partida da melhor forma, sem sofrer mais gols”, contou, detalhando o abalo sofrido pelo time, ainda na primeira etapa.

“A partir daquele momento, tivemos que saber que aquilo foi algo atípico, que acontece dentro do futebol de alto rendimento. A gente tem o exemplo do que aconteceu com a seleção brasileira em 2014: você vai fazer 100 jogos daquele e não vai acontecer. Viramos a chave muito rápido”, ressaltou.

“Foi uma semana atípica em todos os sentidos, mas o time demonstrou personalidade, da mesma forma que tinha demonstrado personalidade durante os dez jogos sem vitória na temporada de 2023 ou após a final da Copa Sul-Americana [...] Parte do caráter do clube, de usar uma adversidade que aconteceu como um combustível, um trampolim para resultados positivos futuros, que foi o que acabou acontecendo. Logo depois, o Fortaleza teve uma sequência positiva, chegando à liderança do Campeonato Brasileira”, completou.

Após a derrota para o Cuiabá, o Fortaleza emendou uma sequência com apenas três derrotas em 18 jogos e passou a disputar o título da competição nacional. Com um jogo a menos que o líder, o Tricolor está na segunda colocação com 48 pontos.

Atentado sofrido em Pernambuco e os jogos marcantes da Copa do Nordeste

Era uma madrugada de quinta-feira, mais precisamente a do dia 22 de fevereiro, quando o futebol nordestino presenciou um de seus episódios mais violentos. Acompanhado de uma trilha de desespero, estilhaços e apreensão, a delegação do Fortaleza sofreu um atentado quando retornava da Arena Pernambuco, logo após jogar contra o Sport pela Copa do Nordeste.

Pedras, bombas e rojões atingiram o ônibus que levava a comissão tricolor. Dentro do veículo, muito medo, sangue e dúvidas.

Naquele dia, torcedores do Sport atingiram os jogadores, quebraram as janelas e levaram “cenas de guerra”, como descrito por membros da delegação. Seis atletas ficaram feridos e foram encaminhados ao Real Hospital Português, em Recife, onde foram atendidos. A parte superior de uma das laterais do veículo teve praticamente todos os vidros quebrados, o que dá a dimensão do ataque.

“Estourou atrás de mim. Estávamos eu e Marcelo Paz, era um ônibus de dois andares. A comissão do Vojvoda estava em baixo, em cima estávamos eu, Marcelo, Daniel e Júlio Manso, além do resto dos jogadores. Foi um divisor de águas, naquele momento, a gente ter tido o discernimento e a liderança de ter equilíbrio”, contou Bruno Costa.

Com João Ricardo, Gonzalo Escobar, Dudu, Brítez, Lucas Sasha e Titi feridos, além de estilhaços por todo lado, os integrantes da delegação tentavam se comunicar e socorrer os companheiros junto ao médico Glay Maranhão. Escobar, por exemplo, foi atingido por uma pedra.

“Quando a bomba estourou, foi uma gritaria. O Sasha veio para o meu lado e do Marcelo todo ensanguentado, o Dudu parecia que, realmente, tinha sido muito sério com ele. No momento, o paz, daquele jeito dele, teve a tranquilidade de conduzir naquela hora da noite”, contou.

O dirigente revelou ainda diálogos que aconteceram no momento: “Falamos: Júlio [Manso], vai com os jogadores para um hotel; Daniel [advogado], vai para a delegacia abrir um boletim de ocorrência; enquanto eu e o Marcelo fomos para o hospital, junto com a comissão técnica, com os feridos. O Escobar estava em uma situação gritante”.

“Os jogadores não queriam continuar a competição, mas o grupo foi muito forte. À princípio, a gente nem voltaria a jogar, mas acabou campeão. Tivemos um jogo que também foi divisor de águas técnico, aquela derrota por 3 a 2 contra o Maranhão. Depois, um novo divisor, dessa vez positivo, contra o Sport [quando a equipe venceu por 4 a 1], na semifinal no mesmo local que aconteceu o atentado”, completou.

Trabalho de psicologia do clube

Após a chegada da comissão técnica argentina comandada por Juan Pablo Vojvoda, em 2021, o Fortaleza voltou a contar com um psicólogo no estafe do elenco profissional. A função existiu entre 2016 e 2017, mas foi deixada de lado a partir de 2018 por opção do técnico da época, Rogério Ceni.

Hoje, o Fortaleza conta com um psicólogo voltado para o futebol profissional (Christian Rodriguez), uma psicóloga nas categorias de base (Sheyla Gomes) e uma assistente social (Williana Medeiros), que também trabalha com a base do Tricolor.

Enquanto discorria sobre as viradas de chave ao decorrer da temporada, Bruno Costa apontou a importância do trabalho de psicologia do clube. Para ele, é algo essencial e que fez total diferença no sucesso do Leão do Pici nos últimos anos.

“Temos que exaltar o trabalho do Christian [psicólogo do time profissional]. A gente lida com seres humanos, jogadores de futebol não são máquinas”, disse.

Ainda em 2022, o mexicano Christian Rodriguez desembarcou no Pici e é tratado, até hoje, como um importante personagem na retomada da equipe naquele Campeonato Brasileiro, quando o Leão saiu da última posição, evitou o rebaixamento e conseguiu uma vaga para a frase prévia da Libertadores do ano seguinte.

Christian é especialista em ciência do esporte para atletas de alto rendimento e já havia trabalhado em clubes da Argentina e da Costa Rica, além de ter atuado na seleção do México por muitos anos. Ele costuma acompanhar os treinos dentro do campo e também está presente em todos os jogos, mantendo contato com os atletas e repassando feedbacks para Vojvoda. O psicólogo faz palestras para todo o grupo e também tem reuniões individuais com os jogadores.

Resistência como DNA do clube

Para o dirigente, as decisões do clube sempre reforçaram a própria perseverança. Como exemplos, citou a campanha de recuperação em 2022, especialmente pela permanência de Vojvoda – que citou como um dos motivos de seu aceite na proposta do Fortaleza, pela garantia de confiança no trabalho – e as dificuldades passadas pelo clube desde a Série C.

“2022 vai ser sempre o melhor exemplo. Quando o time estava na zona de rebaixamento, com todo mundo sacramentando uma demissão do Vojvoda. Aquilo ali [a manutenção do técnico por parte da diretoria], criou até uma sintonia muito grande do Vojvoda com a instituição [...] O Fortaleza foi um clube que, durante os oito anos de Série C, passou por muito sofrimento. Um sofrimento em tudo. Me contam muito que em 2017 [ano do acesso à Série B] não foi o melhor time que foi montado”, contou.

Finalizando, Bruno Costa ressaltou que o trabalho é difícil, mas a adaptação ao Fortaleza acontece a cada dia, assim como foi com Vojvoda. Para ele, o treinador é parte importante na mentalidade do clube, em todas as áreas.

“Não foi fácil para o Fortaleza chegar onde chegou. Parece fácil para quem está de fora, mas foram vários percalços que o clube teve que passar, muita dificuldade para chegar nesse momento. Eu, estando no clube há 10 meses, já consegui entender um pouco disso. O Vojvoda entendeu muito isso. Dificuldades acontecerão, você não vai ganhar sempre”, finalizou.

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