Pai de Kervin Andrade revela infância do filho e jornada da Venezuela ao Fortaleza

Em conversa exclusiva com o Esportes do POVO, o pai do jovem atleta venezuelano, Mário Andrade, detalhou a infância de Kervin, contou histórias sobre sua trajetória e falou da reação ao receber a proposta do Fortaleza

O início de ano do Fortaleza, entre Copa São Paulo de Futebol Júnior e a estreia no Campeonato Cearense, teve um nome em evidência. O meia-atacante de 18 anos, Kervin Andrade, foi destaque do Tricolor na Copinha e balançou as redes em seu primeiro jogo na equipe profissional, na vitória por 2 a 0 sobre o Horizonte.

Em conversa exclusiva com o Esportes do POVO, o pai do jovem atleta venezuelano, Mário Andrade, detalhou a infância de Kervin, contou histórias sobre sua trajetória e falou da reação ao receber a proposta do Fortaleza.

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“Hoje é uma pessoa muito carismática, humilde e calma, bem humorada e de grande coração. Ele também é muito maduro e disciplinado, apesar da pouca idade. Seu relacionamento com sua família é muito estável. Todos o amam e admiram, sendo que os mais novos o veem como um exemplo a seguir”, conta emocionado Mário Andrade.

Os primeiros passos de um futuro atleta

O jovem venezuelano nasceu em 13 de abril de 2005, na cidade de San Félix, em Bolívar, o maior estado da Venezuela. Cresceu com a bola nos pés em um bairro populoso e humilde chamado Luis Hurtado Higuera. A partir daí nasceu o sonho do “pequeno gigante”, como é carinhosamente chamado pela família.

Segundo o pai, o início de Kervin no esporte foi aos 4 anos, quando ele já exibia o “seu talento natural” para o futebol. A jornada de jogador começou em um torneio infantil Sub-5, representando o Libertad Socialista F.C, no Colégio Loyola, de Puerto Ordaz.

“Desde muito cedo foi perceptível seu talento natural com a bola nos pés, por isso o colocamos para jogar no futebol infantil organizado da cidade aos 4 anos, sempre demonstrando muito entusiasmo e afinidade por esse esporte”, definiu.

Sob a orientação de Mário, que também era o diretor técnico da equipe, Kervin mostrou o potencial ao conquistar o título de vice-artilheiro, marcando 30 gols. Naquela competição, o time alcançou a segunda colocação.

A relação entre eles não era apenas como mentor e jogador. Mário definiu como “cúmplices na paixão pelo futebol”.

Com uma trajetória pessoal no campo e na quadra desde a juventude, o pai de Kervin conta que a tradição esportiva da família Andrade se estende desde jogos amadores e universitários até os campos profissionais.

“Sempre joguei futebol e futsal amador. Atualmente, continuo na ativa com uma equipe para maiores de 45 anos em uma empresa”, finalizou.  

“Soy Tuti”: a inusitada origem do apelido

Com um toque de humor, o pai de Kervin revelou a origem do apelido "Tuti", adotado pelo atleta. Com uma risada que soava saudade, Mário contou que na infância Kervin era uma criança “traquina incorrigível”, lembrando de como seu filho, ainda pequeno, imitava o famoso boneco "Chucky".

A cena pitoresca ganhava vida quando Kervin, com os olhos virados para cima em imitação ao personagem, corria atrás das outras crianças, dizendo com entusiasmo: "Soy Tuti, soy Tuti".

A confusão linguística, já que ainda não dominava a própria fala, ocorria por querer dizer: "Soy Chucky, soy Chucky". No entanto, o encanto do momento fez com que todos ao redor adotassem o apelido "Tuti", utilizado pelo jovem até os dias de hoje.

Ilustrando a lembrança da infância de seu filho, Mário Andrade relata que aquele era o momento onde a inocência se misturava com a imaginação e moldava não só um apelido, mas também uma parte da identidade do jogador venezuelano que, segundo ele, “assusta os adversários”. Um elo entre suas raízes e seu futuro. 

Proposta, ansiedade e viagem para Fortaleza

Todo o processo de receber e, posteriormente, aceitar a proposta do time cearense foi realizado em meados do ano passado, por meio do seu representante esportivo. No Tricolor, o ofensivo possui contrato de empréstimo junto ao Deportivo La Guaira-VEN até julho de 2024, tendo opção de compra ao final, que deve ser executada pelo Fortaleza em breve.

“A notícia [da proposta do Fortaleza] foi recebida com muita satisfação e a reação de todos foi de muita alegria e ansiedade ao assumir esse novo desafio em terras brasileiras, considerada por muitos o berço do futebol mundial. Meu filho logo estava de malas prontas para visitar a terra dos grandes craques”, contou Mário.

Kervin Andrade deixou a Venezuela e partiu rumou a Fortaleza sem a companhia de familiares. O representante esportivo do jogador foi quem esteve com Kervin para finalizar os detalhes do empréstimo e a assinatura de contrato.

“Depois, sua mãe (Yexibel Navarro) viajou para acompanhá-lo, ajudá-lo e apoiá-lo nesta grande experiência. Agora, ele mora com a mãe em um apartamento particular na cidade”, finalizou.

Número da camisa: referências no esporte e homenagem para a mãe

Através da escolha pelo número da camisa no Fortaleza é possível passear por referências no futebol do jovem venezuelano e por uma homenagem à mãe do atleta. 

O pai explica que inicialmente Kervin tinha o desejo de vestir a camiseta com o número 23, repetindo a numeração que usava no La Guaira.  

“Porém, em sua primeira competição pelo Fortaleza Sub-20, eles designaram o número 20, depois jogou com o 11 e, por fim, na Copinha, usou o 7, que uma de suas referências, Cristiano Ronaldo, usa”, revelou Mário.

Entretanto, apesar de gostar do astro português, o verdadeiro ídolo de Tuti é o argentino Lionel Messi.

O camisa 10 da Argentina lhe encanta e lhe faz entender o futebol, mas o português, segundo o pai, se tornou uma referência profissional pela forma como trabalha, sua perseverança e disciplina.

O meia-atacante também admira muito o meia belga Kevin De Bruyne. Entre os venezuelanos, Kervin admira Rómulo Otero, do Santos, e Yeferson Soteldo, do Grêmio.

O número 77, que agora utiliza no profissional, não é por conta de nenhum jogador. A numeração é uma homenagem para a mãe, que nasceu em 1977.  

Pai de Kervin guarda quadro com imagem do filho ao lado de mascote da Copa do Mundo no Brasil, Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo

Um quadro na estante da sala pode guardar, além de memórias, inspirações antigas. Mário Andrade exibe com carinho uma moldura com o título “Mi futebolista Kervin”.

No centro, a imagem de Kervin segurando uma taça de Copa do Mundo ao lado do mascote “Fuleco”, do Mundial de 2014, disputado no Brasil.

Quadro presente na sala da família Andrade
Quadro presente na sala da família Andrade Crédito: Acervo pessoal/Mario Andrade

Ao fundo da imagem, craques do futebol mundial, como Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo. Abaixo do quadro, uma galeria de troféus do pequeno Kervin.

Antes de chegar ao Leão do Pici, Kervin figurou na lista dos 20 jogadores mais promissores do planeta de acordo com o CIES, um observatório de futebol focado nas categorias de base.

O atleta, nascido em 2005, também é tratado como o melhor jogador da próxima geração venezuelana, principalmente após o destaque no Torneio de Toulon de 2023, competição que reúne jogadores entre 17 a 23 anos.

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