Sub-20: Leandro Zago analisa Copinha e projeta Fortaleza dominante na base no Nordeste
O Esportes O POVO entrevistou com exclusividade do técnico Leandro Zago, responsável por comandar o time sub-20 do Leão na Copa São Paulo de Futebol Júnior
19:56 | Dez. 27, 2022
Enquanto os jogos profissionais não retornam, uma boa alternativa para os torcedores no começo do próximo ano é acompanhar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, principal competição de base no Brasil. O Fortaleza será um dos quatro representantes cearenses na competição nacional e estreará contra o Remo-PA, no dia 4 de janeiro, às 15h15min.
Por isso, o Esportes O POVO entrevistou, de forma exclusiva, o técnico Leandro Zago, responsável por comandar a equipe leonina na Copinha. O profissional comentou sobre a competição sub-20, além de projetar o futuro do clube com relação às categorias de base.
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O POVO: Como está sendo esse período inicial no Fortaleza? Já se adaptou bem? E o que tem achado das estruturas do clube?
Leandro Zago - Bom, para mim é um desafio interessante. É um mercado novo para mim. O Fortaleza tem feito um trabalho impressionante nos últimos anos. Achei isso muito atrativo profissionalmente. Um salto na carreira. Chegando aqui, encontrei uma estrutura muito legal para o departamento de formação. É um CT amplo, que está em desenvolvimento e tem oferecido bons campos para a gente poder treinar. Uma boa logística, de material, de pessoas. O departamento de nutrição, psicologia, pedagogia… Hoje o Fortaleza oferece bastante coisa muito importante para a formação dos meninos. Já estou adaptado à cidade, ao dia a dia. Passo o dia no clube. A gente chega muito cedo e saímos no final da tarde.
O POVO: Como está a ansiedade para disputar a Copinha? Você se sente totalmente preparado para comandar o Fortaleza nesta competição tão importante à nível nacional?
Leandro Zago - Eu estou indo para a quinta Copinha. Então eu conheço bem a competição. Sou da região, moro próximo a nossa sede (Mooca). Mas claro que isso não é suficiente para garantir nada, mas ajuda a gente em alguns detalhes, em relação às melhores viagens, aos campos, aos árbitros, ao perfil de jogo de algumas equipes, sobre o formato que define a competição. Tenho falado muito sobre isso. Os nossos treinos nesse mês são preparados para deixar os meninos prontos para jogar a Copa São Paulo. Então a gente faz um tipo de treino que a cada dois ou três dias, a gente simula um jogo, porque a gente vai enfrentar lá jogos a cada três dias no início e depois a cada dois dias. Então nessas características eu já estou meio calejado para poder passar para os jogadores esses detalhes.
O POVO: Como você analisa a preparação do Fortaleza? Os resultados estão sendo conforme você esperava ou acredita que pode melhorar?
Leandro Zago - Ganhamos um jogo-treino, mas acabamos perdendo dois. Os dois que a gente perdeu foram para equipes que vão jogar pré-Copa do Nordeste e estadual profissional. Então existe uma diferença quando joga contra equipes profissionais, com relação a condição física, experiência. A gente está sofrendo com isso, mas foi uma escolha que fizemos. Prefiro ter uma pré-temporada dura, que exponha os erros. Então pode ter certeza que tudo que a gente tinha para corrigir neste mês, a gente está buscando corrigir porque está ficando exposto nesses jogos. Os jogadores têm sofrido uma exigência muito grande nossa.
O POVO: O torcedor pode esperar uma equipe intensa, com pressão na parte defensiva e ofensiva?
Leandro Zago - Claro que tudo isso é uma construção de mesese a gente vai tentar isso dentro de quatro semanas de trabalho. É um processo de formação que o Fortaleza vem melhorando muito nos últimos anos. Geralmente a categoria sub-20 é a que demora mais a dar resultado, porque quando você muda um processo de formação, você muda lá nas categorias menores, e leva alguns anos para esses jogadores poderem chegar na categoria sub-20. Mas como já era um processo, já é uma cultura, a gente vai buscar por isso. Nossa ideia é realmente a de ter um jogo agressivo. A torcida tem que se sentir representada dentro do campo. Acredito que nós vamos ter torcedor lá na Rua Javari torcendo pela gente. E não podemos deixar de criar esse vínculo com o torcedor que tiver lá. E isso vai vir quando ele se sentir representado por aquela atitude em campo. Então a questão de pressionar, competir, buscar fechar espaço, recuperar bola, ser intenso nas transições, que são características que casou muito com a equipe principal com o trabalho do Vojvoda, é algo que vamos buscar.
O POVO: Sobre jogadores que já participaram do processo de amadurecimento dentro do clube, tem vários atletas do sub-17 na lista de convocados para a Copinha. Isso pode ajudar na adaptação ao estilo de jogo? Eles estão prontos para jogar em uma categoria acima da deles?
Leandro Zago - É uma geração talentosa, que teve resultados que colocaram o clube também em evidência na base, em nível nacional. Mas a gente não pode dar para eles essa responsabilidade de serem eles os caras a criarem esse ambiente. Eles podem estar juntos com os caras que vão criar esse ambiente. Sempre penso que os jogadores do sub-20 têm essa responsabilidade, que equivaleria no profissional aos jogadores mais experientes do grupo absorver os mais jovens. Então o mais jovem já traz aquele comportamento e vai ser potencializado pela cultura que está sendo criada. Realmente são jogadores de nível bom, que precisam passar por um processo de sub-20 para amadurecer. Eles estão participando ativamente. Temos uma boa parte, porque para a gente o que importa é o potencial do jogador. Nós não queremos investir em jogadores que a gente não veja potencial. Só é perigoso atribuir a responsabilidade a eles de criar o ambiente. Mas é importante que eles estejam envolvidos no ambiente e se potencializem.
O POVO: Você tem conversado com os atletas do sub-20 para eles terem a noção de que são os atletas experientes do grupo e eles que tem que dar exemplo aos mais novos? Eles têm noção do peso da experiência deles dentro da equipe?
Leandro Zago - Tenho reservado uma conversa particular com eles agora mais próximo da competição, para estabelecer metas bem pontuais. Porque nessa idade eles têm que ter metas e objetivos. Ao mesmo tempo que eles podem dar um passo para a equipe principal, eles podem perder espaço e ter que depois sair para um mercado que é muito hostil, em busca de um clube para poder se recolocar e ter que ir para competições de níveis menores. Então toda energia eles têm que gastar agora nessa semana e mais o período competitivo, porque eles estão agora em um momento de corte. É a última competição de base para eles. Então eles têm consciência. Eu tenho uma conversa marcada para mais próximo da competição, justamente para eles entenderem o papel que tem, a maturidade, a inteligência de como eles têm que aproveitar cada minuto do trabalho e competição para fazer a competição ser A competição da vida deles.
O POVO: O Fortaleza busca essa integração de profissional e base, de adotar um mesmo modelo de jogo. Você acredita que pode ser em elo importante para esses atletas entenderem como o profissional joga?
Leandro Zago - A ideia quando eu fui trazido era tentar encurtar isso ao máximo possível, em relação a conceito, ideias. Meu trabalho está à disposição para que esse projeto seja feito. Agora eu entendo que, por mais boa vontade que o treinador da equipe principal tenha, quem vai definir é o atleta. Eu não acredito muito nessa questão de falta de integração ou muita. Eu já trabalhei em vários clubes, com vários formatos, com várias relações entre departamento de formação e departamento principal, e o que sempre foi decisivo foi a qualidade e a capacidade do atleta. Não a capacidade técnica, mas toda a capacidade dele de estar preparado tecnicamente, taticamente, mentalmente, de se preparar para a pressão, para a frustração de não jogar de início ou ser protagonista. Estar preparado envolve tudo isso. Quando um atleta é bom, pode ter certeza que ninguém vai abrir mão, ele vai ser abraçado e o processo dele está guardado pela competência dele.
O POVO: Vai ter dentro da comissão técnica do Fortaleza um psicólogo para acompanhar os atletas durante a Copinha?
Leandro Zago - Nós temos a Sheila, psicóloga da equipe, e ela faz um trabalho com eles de regularidade. Assim como o clube, penso que isso é um trabalho de regularidade, muito mais que um trabalho para a competição. Então eles têm tido esse acompanhamento todo o ano. Ela mantém contato com os atletas para poder trabalhar com eles. Eles recebem esse suporte do clube durante toda a temporada. Como a gente viaja com uma comissão, a gente busca otimizar o máximo possível, porque envolve várias coisas, a questão da viagem, nesse caso a psicóloga acaba não estando com a gente. Mas ela faz parte de toda a preparação.
O POVO: O Fortaleza acabou caindo no grupo 31, ao lado do Remo-PA, São Caetano-SP e Juventus-SP. Como você analisa o grupo? Tem um favoritismo do Leão ou é uma chave mais equilibrada?
Leandro Zago - Acho que é um grupo nivelado, mas pela condição que o clube tem hoje, a gente tem uma responsabilidade sim de classificar. Só que precisamos ter uma responsabilidade inteligente. Isso não significa que a gente vai se lançar de peito aberto em todos os jogos, para ganhar a qualquer custo, e nem por ter esse teórico favoritismo, a gente ter a obrigação de vencer com goleadas. Sabemos que vão ser adversários que vão endurecer muito os jogos. Vão ser jogos duríssimos, eu tenho certeza. Muito equilibrados. Temos que estar preparados, mas sabendo que a expectativa hoje por ser um clube de Série A, com duas Libertadores em sequência, isso com certeza joga uma responsabilidade para nós.
O POVO: Pelo que você pôde acompanhar de dentro do Fortaleza, você acha que o clube está perto de virar um clube formador? Que vai revelar atletas para serem realmente utilizados no time profissional?
Leandro Zago - Isso eu não tenho dúvidas, que o processo é esse, que cada vez isso está se fortalecendo. Ele (clube) está conseguindo atrair bons jogadores para cá, está conseguindo manter seus bons jogadores. O Fortaleza consegue atrair profissionais para desenvolver esses jogadores. Agora tudo demanda um tempo. É um processo de anos. O Endrick é um trabalho de sete anos, indo para oito anos, do João Paulo na base do Palmeiras. Eu sei, eu participei do primeiro ano dele lá. Eu vejo que, o Fortaleza se consolidando como está, ele vai ter sempre esse poder de atração. Ele precisa investir, isso que dá sustentabilidade ao clube. Isso ajuda o clube a fortalecer o próprio elenco. Muitas vezes não pode contratar um jogador de seleção, mas pode formar um jogador de seleção. O ideal é que o torcedor tenha paciência, veja os bons trabalhos, analise com cautela os resultados. Vejo que o Fortaleza tem caminhado muito bem para isso. Vai se consolidar. Tenho certeza que vai, aqui no Nordeste, ser dominante nessa área em poucos anos para poder ter a melhor base, a maior base, a maior formação.