Análise: como joga o Estudiantes, adversário do Fortaleza nas oitavas da Libertadores

O Esportes O POVO analisou os últimos jogos da equipe pelo Campeonato Argentino e pela Copa Libertadores e traçou as principais características táticas do time de Ricardo Zielinski

16:14 | Jun. 29, 2022

Por: Pedro Mairton
Elenco titular do Estudiantes na Copa Libertadores 2022. (foto: reprodução/Facebook/Estudiantes de la Plata)

A próxima missão do Fortaleza na Copa Libertadores será contra o Estudiantes nesta quinta-feira, 30, em primeira partida das oitavas de final do torneio. O time argentino ficou em primeiro no Grupo C, com 13 pontos conquistados e apenas uma derrota. O duelo está marcado para as 21h30min, na Arena Castelão.

Treinado pelo experiente Ricardo Zielinski, o futebol do Estudiantes é marcado por movimentações constantes dos atletas e pelo repertório de jogadas por todos os três setores do campo.

O Esportes O POVO analisou os últimos jogos da equipe pelo Campeonato Argentino e pela Copa Libertadores e traçou as principais características táticas.

Sistema tático

O Estudiantes de Ricardo Zielinski atua, na ampla maioria dos jogos, em um 4-4-2, com o meio-campo formado por Rodríguez e Zuqui centralizados e Castro e Pellegrini atuando mais abertos. E apesar de ter dois volantes à frente da dupla de zaga, Jorge Rodríguez atua mais recuado do que Zuqui, tendo a função de distribuir o jogo junto aos zagueiros e laterais.

A equipe joga com dois centroavantes, Mauro Boselli e Leandro Díaz. No entanto, enquanto o camisa 9 é presença constante dentro da área e ao lado dos zagueiros, o atacante ex-Corinthians tem mais liberdade para recuar para servir de opção de passe para os meias e também abrir espaços para as infiltrações de Zuqui, Castro e Pellegrini.

O técnico, porém, não contará mais com o camisa 7, que negocia com outro clube nesta janela de transferências e não encara o Fortaleza. Para a vaga, o jovem Zapiola é uma das opções do treinador. O jogador frequentemente entra na vaga de Pellegrini no segundo tempo para dar continuidade às funções do companheiro em campo.

Saída de bola

A saída de bola do Estudiantes é formada pelos dois zagueiros e os laterais abertos, próximos à linha lateral, criando amplitude. À frente da dupla de zaga, Rodríguez é o responsável por fazer a ligação entre defesa e ataque. Mais adiantado, Zuqui dificilmente faz companhia para o camisa 30 no momento em que a equipe bate o tiro de meta.

O Estudiantes preferencialmente sai trocando passes em busca dos dois laterais, Godoy ou Más, que dão mais velocidade ao time para chegar ao ataque. Porém, por possuir características de passe e visão de jogo, Rodríguez é constantemente acionado por um dos homens de lado da defesa para realizar passes verticais aos meias ou atacantes, o que também permite que um dos dois laterais abandone a posição para procurar espaços na defesa do oponente.

Fase ofensiva

Quando o Estudiantes se livra da pressão na saída de bola e consegue se postar no campo de ataque do adversário, o 4-4-2 da equipe se transforma em um 3-4-3, com Rodríguez entre a dupla de zaga ou posicionado um pouco mais à frente, e os meias Zuqui e Castro, em geral, se alinham com Godoy e Más. Pellegrini formava o trio de ataque como ponta esquerda com Boselli e Díaz.

Canhoto, Rodríguez nem sempre se posiciona entre os zagueiros. O meia pode ficar tanto pela esquerda quanto pela direita. Além disso, não é apenas o camisa 30 que pode realizar essa linha de três com a zaga. O volante pode avançar em caso de um dos laterais realizar essa função.

Como é um time que se movimenta bastante, o 3-4-3 se transforma em um 3-3-4 em diversos momentos da partida, com um dos laterais avançando em profundidade. Quando é Godoy, Castro recua e é opção mais centralizada. Já no caso de Más, Pellegrini costuma sair da ponta e fazer uma espécie de terceiro atacante para criar tabelas e movimentações pela linha de fundo com o defensor esquerdo.

Com é uma equipe onde poucos jogadores guardam posição – somente os dois zagueiros e o centroavante Leandro Díaz –, o Estudiantes varia a forma de atacar e por onde ataca. Um exemplo é quando Boselli recua para servir como opção de passe no meio e Castro ocupa aquele setor central ao lado de Díaz, permitindo que Godoy avance pela direita para preencher a vaga herdada pelo camisa 20.

Essa trama cria espaços na defesa adversária, e o Estudiantes ataca com qualidade com passes curtos tanto pelo centro quanto pelo lado do campo.

Com Pellegrini sendo o homem de meio com mais obrigações de realizar a função de ponta, Zuqui e Castro trocam de posições frequentemente pelo meio. Como os homens de frente jogam próximos uns dos outros, torna-se suscetível o jogo fluir pelo meio.

E mesmo sendo uma equipe com boas características de passes curtos, o Estudiantes também opta por realizar lançamentos e bolas longas, que têm o objetivo de explorar o espaço nas costas de defesas com linhas altas ou até mesmo a presença de área dos dois centroavantes.

A estratégia de bolas longas é útil quando o time enfrenta adversários com marcação mais forte e adiantada. Com a aproximação dos homens de frente, o time fica propício a ganhar o rebote da segunda bola e realizar tramas em velocidade no campo de ataque e com o adversário em inferioridade numérica no setor central.

Fase defensiva

Sem a bola, o Estudiantes também se posta em um 4-4-2, com os dois centroavantes pressionando o portador da bola e os dois meias abertos fechando a segunda linha de quatro. Apesar de jogar mais recuado, Rodríguez também se alinha aos demais meias em vez de proteger o espaço entrelinhas.

O Estudiantes se defende com as linhas altas e realiza uma marcação agressiva desde o campo de defesa do adversário. A intenção do time de Ricardo Zielinski é pressionar o oponente e forçá-lo ao erro, recuperando a bola o mais rápido possível para atacar novamente.

Pelo mesmo motivo, durante a saída de bola do oponente, os jogadores do Estudiantes realizam uma marcação por encaixe, diminuindo as opções de passe e obrigando a rifar a bola, com a tarefa de prejudicar o desenvolvimento do jogo de posse do adversário.

Por subir bastante as linhas, o Estudiantes prende os rivais no próprio campo de defesa, encurtando o espaço de jogo. A ideia é manter o time no ataque mesmo enquanto se defende. A estratégia, porém, assume o risco do adversário explorar lançamentos nas costas dos defensores

Os jogadores realizam uma marcação mista agressiva. É comum os atletas do “León” abandonarem o espaço buscando se antecipar ao oponente para realizar um corte ou uma interceptação. O objetivo é não só reduzir o espaço de ações dos rivais, mas também roubar a bola em seguida e dar início ao contra-ataque.

Apesar de em algum momento da partida o time recuar as linhas para um bloco médio, a pressão sobre os jogadores de defesa permanece. A intenção dos argentinos é de evitar ao máximo que zagueiros ou laterais auxiliem na construção do jogo do rival.

Transições

Transição ofensiva

Organizado e perigoso enquanto constrói o jogo, o Estudiantes também é letal nos contra-ataques. Por possuir laterais ofensivos e usufruir da movimentação inteligente dos homens de frente, o time costuma aproveitar bem os espaços deixados pelo adversário e sempre busca explorar a superioridade numérica durante as transições ofensivas.

Outro fator que torna fatal a recuperação de bola do Estudiantes é a aproximação dos homens de meio enquanto o time está construindo o jogo e buscando espaços. Isso porque no momento em que um dos jogadores perde a bola, rapidamente realiza o perde-pressiona, que é facilitado pela quantidade de atletas próximos uns dos outros para agredir o adversário e forçá-lo ao erro, com o objetivo de recuperar a posse e imediatamente avançar ao ataque.

A linha alta de marcação e a aproximação dos jogadores no setor ofensivo favorece que o time roube bolas próximo ao gol, onde o oponente está mais fragilizado, o que eleva as chances de êxito nas conclusões das jogadas.

Transição defensiva

Como citado, o Estudiantes, ao perder a bola, imediatamente realiza a pressão pós-perda com a intenção de se manter no ataque.

No entanto, caso o time não consiga recuperar a bola, os jogadores buscam evitar que o adversário realize o contra-ataque e mantêm a marcação agressiva para induzir aos oponentes a trocarem passes para os lados do campo ou até mesmo recuar a bola. O objetivo é impedir que o rival explore os espaços enquanto cada atleta recompõe para as posições originais.

Entretanto, se o Estudiantes não conseguir evitar que o adversário realize passes verticais que quebrem a marcação pressão, os argentinos se tornam vulneráveis nos contra-ataques. Isso porque além do espaço natural obtido pelos adversários ao superar a pressão, a linha alta da defesa do “León” permite que os rivais infiltrem nas costas da defesa com maior facilidade.

Mesmo que a recomposição seja em velocidade, o fato da equipe estar posicionada muito à frente em diversos momentos da partida a torna vulnerável durante os contra-ataques.