De David para David; a história da pipa que caiu no Castelão

A pipa que caiu dentro do Castelão em meio à partida entre Fortaleza e América-MG, feita para o atacante David, estava prometida ao jogador há algum tempo e quem a fez chegou a avisar que entregaria da forma como aconteceu, descendo em pleno estádio. O camisa 17 do Leão, no entanto, não soube a tempo e ficou surpreso com o presente.

Pode parecer confuso, mas não é. Antes de explicar, no entanto, precisamos falar de David. Não o jogador, mas o artista que fez a pipa. Sim, o nome é o mesmo do atacante tricolor e se você achou essa coincidência interessante, vai se surpreender mais ainda quando souber que ele completou 29 anos ontem (7/7), no dia em que conseguiu entregar a pipa para o xará de forma inusitada.

Morador do bairro Passaré, David Bruno é técnico em pipas de luxo, como ele mesmo se define, no perfil de Instagram chamado Pipa & Arte. Não é desse trabalho, porém, que ele tira o sustento, apesar de ser uma renda extra. A ligação dele com os “papagaios” é bem mais sentimental. “A pipa para mim é emocional, porque o cara que me deu minha primeira não está mais aqui, faleceu há três anos (o primo Leandro Bruno, que foi assassinado no Barroso) e falei que para o resto da vida ia ter isso como um esporte, um hobby”, disse.

Além disso, fabricar pipas serviu de ajuda para David quando ele fez um tratamento para se livrar do uso de drogas. “A pipa para mim foi terapia, eu passava dias e noites com abstinência e tinha que fazer alguma coisa”, conta. Adepto a uma técnica chamada vazado, que faz os desenhos diretamente no papel utilizado, ele acredita que esse trabalho, principalmente agora, com a divulgação que teve, pode, de alguma forma, influenciar pessoas da periferia a “poderem sonhar e não serem vistas apenas em capa de jornal policial”.

Mas vamos voltar à história da pipa que caiu no Castelão. Na temporada passada, David Bruno fez uma em homenagem à TUF, organizada do Fortaleza, e ao publicar nas redes sociais, marcou o atacante David. “Ele pediu uma para mim, eu fiz, mas não tive como mandar. Combinamos (via rede social) de eu descer uma na casa dele, mas não deu certo. Aí eu tive a ideia de descer uma no Castelão, durante um jogo. Mandei áudio avisando, mas, acho que pela correria, ele acabou não visualizando”, contou.

E para cumprir a promessa que o atacante ainda não havia tomado conhecimento, o xará teve muita dificuldade. “Eu já havia perdido umas cinco pipas e um monte de linha”, disse. A que ele entregou, porém, era especial, levou mais de 48 horas para ser concluída e desperdiçá-la não era uma opção. A chance era única. Para evitar erros, David Bruno mudou a posição de onde tentava empinar a "raia" e contou com um “cúmplice” dentro do Castelão.

“Percebi que eu estava ficando no lado do Castelão que o vento atrapalhava, ali perto da Areninha (Av. Alberto Craveiro com Av. do Contorno). Eu tinha que lançar do setor sul e vi no aplicativo que era perto da entrada do estacionamento. Fui para lá e fiquei tentando, até com medo de ser preso (por colocar algo para sobrevoar o estádio). Um amigo lá dentro, o fotógrafo Lucas Emanoel, me ajudou, avisando o momento de largar a linha”, relatou.

A pipa caiu na borda do gramado, foi recolhida e no fim da partida entregue ao jogador, que guardou o presente. “Feliz pelo carinho”, disse David, na entrevista pós-jogo, que seu xará viu de casa, vibrando. Não ficou só nisso, entretanto. O camisa 17 entrou em contato com o técnico em pipas, agradeceu e prometeu uma camisa do Fortaleza, que David Bruno já foi buscar no Pici na tarde desta quinta-feira, 8.