Caso Bruno Henrique: um problema que vai além do campo e atinge o futebol brasileiro
Indiciado pela Polícia Federal por suspeita de manipulação de apostas esportivas, atacante do Flamengo se torna o nome mais emblemático de um escândalo que levanta dúvidas sobre a integridade do futebol nacional
Mais uma vez, as páginas esportivas se confundem com as policiais. Agora, com um dos casos mais chamativos no histórico recente do futebol brasileiro. Na última segunda-feira, 14, Bruno Henrique, atacante e ídolo do Flamengo, foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de envolvimento em um esquema de fraude para favorecer apostas esportivas.
A investigação aponta que o jogador teria forçado a aplicação de um cartão amarelo durante a partida contra o Santos, válida pela Série A do Campeonato Brasileiro de 2023. A atitude teria sido deliberada e com o objetivo de beneficiar apostas de familiares que previam justamente a advertência ao camisa 27 do Fla.
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Além de Bruno Henrique, outras três pessoas foram indiciadas pela PF: Wander Nunes Pinto Júnior, irmão do jogador; Ludymilla Araújo Lima, esposa de Wander; e Poliana Ester Nunes Cardoso, prima do atleta. Todos teriam feito apostas vinculadas ao acontecimento investigado.
Apesar do indiciamento, a rotina esportiva do jogador segue inalterada até o momento. Bruno Henrique esteve em campo na quarta-feira, 16, na vitória por 6 a 0 sobre o Juventude, no Maracanã. Começou no banco de reservas, entrou na segunda etapa e foi recebido com aplausos pela torcida, que demonstrou apoio mesmo diante da grave acusação.
O técnico Filipe Luís, que assumiu o comando da equipe na temporada passada e foi companheiro de Bruno Henrique em campo por anos, defendeu o jogador e reforçou a necessidade de se respeitar o princípio da presunção de inocência.
“Eu conversei com ele. Está normal, absolutamente normal. Ele se apresentou com todos os companheiros e, como eu falei na outra entrevista no ano passado, repito a mesma coisa. A única coisa que pedimos, que ele deve pedir, mas eu peço por ele é a presunção de inocência”, afirmou o treinador.
A análise jurídica: uma questão que vai além das quatro linhas
O caso de Bruno Henrique levanta uma série de implicações jurídicas e que envolvem legislações recentes, voltadas justamente para regulamentar o mercado de apostas esportivas no Brasil, um setor em franca expansão.
O advogado Felipe Crisafulli, sócio do escritório Ambiel Advogados e membro da Comissão de Direito de Jogos, Apostas e do Jogo Responsável da OAB-SP, explica que a análise do caso pode ser feita sob perspectiva baseada na chamada “Lei das Bets”.
A referida legislação determina, em seu artigo 19, que os operadores de apostas devem adotar mecanismos de segurança e integridade, com o objetivo de mitigar a manipulação de resultados e a corrupção em eventos esportivos. A lei ainda dialoga com o artigo 177 da Lei Geral do Esporte, que trata da integridade das competições e da responsabilidade dos envolvidos.
“E ainda traz a possibilidade de se suspenderem os pagamentos dos prêmios relacionados com apostas investigadas e sobre as quais recaia fundada dúvida quanto à manipulação de resultados ou corrupção nos eventos de temática esportiva”, explica Crisafulli.
Esse tipo de conduta, segundo especialistas, pode configurar não apenas infrações administrativas no âmbito das operadoras de apostas, mas também penas como associação criminosa, fraude e corrupção privada, caso fique comprovado o envolvimento intencional do atleta em favorecimento próprio ou de terceiros.
O advogado Renan Rebouças, auditor do pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva de Futsal e auditor do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol do Ceará (TDJF-CE), explicou que, para ser definida ou não uma possível prisão de Bruno, o ocorrido tem de passar pela Justiça Comum e Desportiva.
A investigação do atacante rubro-negro deverá ocorrer paralelamente em duas searas jurídicas distintas: criminal e desportiva. Na Justiça Comum, o atleta poderá, a depender do entendimento da Promotoria, responder por fraude esportiva, delito tipificado na Lei Geral do Esporte, bem como por estelionato e até mesmo, por integrar organização criminosa.
"Nessa esfera, em restando comprovadas a autoria e materialidade dos delitos, as sanções podem levar, inclusive, à prisão (reclusão) dos envolvidos", completou.
A repercussão do caso de Bruno Henrique é significativa, não apenas pelo peso do nome envolvido, mas também porque reacende o debate sobre a vulnerabilidade do futebol brasileiro diante do crescimento acelerado do setor de apostas esportivas.
Nos últimos meses, outros jogadores de clubes da Série A e B também foram investigados ou punidos por envolvimento com esquemas semelhantes. O aumento das apostas no Brasil, aliado à falta de fiscalização em parte das plataformas, cria um ambiente propício para irregularidades e levanta questionamentos sobre a preparação dos clubes, federações e o próprio governo para lidar com esse novo cenário.
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