Ferroviário rompe com empresa de Geraldo Luciano após alertas sobre SAF, diz vice-presidente
A Tricorp, que tem Geraldo Luciano – ex-presidente do Conselho de Administração da SAF do Fortaleza – como um dos sócios, era responsável pela assessoria jurídica do Ferroviário no processo de criação e venda da SAF e apontou irregularidades na proposta antes do rompimento
Às vésperas da assembleia de votação para a venda da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Ferroviário, que acontecerá na sede administrativa do clube, no dia 25 de fevereiro, com sócios e conselheiros, a agremiação coral rescindiu com a Tricorp, empresa que detinha a responsabilidade de fazer a assessoria jurídica do time da Barra do Ceará na transação.
Pedro Bruno, vice-presidente do clube, apontou ao Esportes O POVO a rescisão e afirmou que o rito para a venda segue com vícios jurídicos e não atende ao estatuto do Ferroviário. Em contraste, o presidente do conselho deliberativo, Abdon de Paula Neto, indicou que a Tricorp apenas encerrou a confecção final do documento vinculante, sem grandes problemas.
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À reportagem, um dos sócios da Tricorp, Geraldo Luciano, – que passou pelo Fortaleza –, confirmou que a empresa não tem mais nenhum vínculo com o Tubarão da Barra. O contrato tinha previsão de término apenas após a conclusão da operação, incluindo a criação do estatuto da SAF.
Geraldo acredita que a rescisão foi motivada por "alertas vermelhos" apontados pela assessoria jurídica sobre a proposta dos investidores portugueses. No entanto, ressalta que apenas o clube pode confirmar, já que a decisão partiu da própria diretoria.
O Esportes O POVO teve acesso aos alertas citados pela Tricorp, que sugeriu o adiamento da venda até que os tópicos fossem resolvidos pela Makes, companhia portuguesa que deseja comprar 90% das ações da SAF do clube cearense.
Entre os avisos de segurança, está a composição societária da empresa, que possui Pedro Roxo como único sócio. A Tricorp também alertou sobre a ausência de demonstração da capacidade financeira da Makes e da apresentação de garantias reais documentadas.
Vícios jurídicos são apontados por vice-presidente do Ferroviário
O primeiro vício jurídico, conforme Pedro Bruno, parte da marcação da assembleia de venda sendo tratada como uma movimentação que não alteraria o estatuto. Além disso, o dirigente aponta o modelo da recuperação judicial como principal problema, posto que o não pagamento dos investidores da SAF poderia levar o clube à falência.
"O presidente do conselho [Abdon de Paula Neto] absurdamente diz que a venda de uma SAF não tem mudança estatutária. É esse o maior vício jurídico. Todas as disposições financeiras do clube são passadas agora. O Ferroviário [Associação] não tem mais direito a nada, vai ser da SAF. Cotas de televisão, vendas de direitos federativos de atletas [...] Isso não é mais receita do Ferroviário, então já está alterando o estatuto", explica.
"Além disso, que seria mais grave, um dos benefícios da Lei de SAF é a recuperação judicial, para pagar de maneira mais tranquila. Eles [investidores] exigem que o Ferroviário Associação faça a recuperação e eles bancariam, mas eles não assumiriam. Um dos artigos do nosso estatuto é sobre a dissolução do clube. Se o pagamento da recuperação judicial não for cumprido, o juiz decreta falência de imediato", continua.
Diretor do Ferroviário e presidente do conselho rechaçam rescisão
Outro membro da diretoria do Ferroviário, que preferiu não ser identificado, destacou à reportagem que o rompimento com a Tricorp não foi uma rescisão unilateral e aconteceu apenas pela empresa já ter feito bem o seu trabalho de identificar o que precisava ser melhor definido na proposta, mas que não houve problema algum entre as partes e o clube seguiria o rito bem orientado.
"Não tem nada disso. A Tricorp cumpriu perfeitamente o seu trabalho e agora teremos a votação dia 25 para aprovação de venda da SAF. As 'Red Flags' são observações passadas pela Tricorp. E ela foi contratada exatamente para isso. Nada demais. Já está de posse do Conselho. E o rito segue normalmente", disse ele.
Além do diretor, o presidente do conselho deliberativo, Abdon de Paula Neto, disse que os serviços da Tricorp já foram entregues, por isso não seguem no processo, mas a boa relação segue intacta.
"A assessoria da Tricorp encerrou com a confecção final do documento vinculante, nada impedindo que volte a assessorar na hipótese de deliberação positiva por parte da assembleia geral. Os conselheiros tiveram sim acesso ao conteúdo do documento da Tricorp, que inclusive não apenas foi lido nas reuniões do Conselho Deliberativo como foi exposto em telão, tendo sido discutido amplamente por todos e será assim quantas vezes for necessário", explica.
Presidente Aderson Maia diz já ter tomado sua decisão sobre a SAF e comenta "rompimento"
Ao Esportes O POVO, o presidente Aderson Maia se mostrou triste quanto a situação interna do clube, no qual detalha que muitos membros têm realizado ataques pessoais. Contudo, relatou que o encerramento do contrato com a Tricorp aconteceu apenas pelos serviços terminarem.
"A mesma fez a criação da SAF, elaborou o estatuto, tirou dúvidas quanto a criação de uma SAF no conselho, acompanhou o processo com bastante responsabilidade e excelência e após a conclusão com a assinatura da minuta fizemos uma reunião de encerramento e a mesma enumerou algumas recomendações o que prontamente solicitei por escrito e assim foi feito. Particularmente, o trabalho da Tricorp foi realizado com muito critério e responsabilidade e se for necessário podemos ter novas parcerias, o que fica claro que essa palavra rompimento não existe como foi pensado", detalha.
"No momento meu papel é manter blindagem ao elenco neste momento de decisões importantes em campo com partidas decisivas para o clube até o dia 25. Eu já tomei a minha decisão, e dependendo da decisão das urnas divulgarei os próximos passos do clube e a minha também", complementa
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