Estado registrou oito casos de discriminação homofóbica no futebol no ano passado
Os dados, os mais recentes já consolidados, são referentes ao ano de 2023. Em relação a 2022, houve um aumento significativo nos casos registrados
20:18 | Dez. 20, 2024
O Observatório da LGBTfobia no Futebol, iniciativa do coletivo de torcidas Canarinhos LGBTQ+, divulgou nessa semana o Anuário 2024 sobre episódios de homofobia, racismo e xenofobia registrados no futebol brasileiro, com casos registrados em estádios e na internet no ano passado.
Entre as 78 ocorrências documentadas, as torcidas cearenses tiveram participação em oito — 10% do total. Destes episódios, quatro envolveram adeptos do Ceará, e os outros quatro foram com apoiadores do Fortaleza. O estado está no top-3 de mais casos, estando empatado em números com o Rio de Janeiro e ficando atrás de São Paulo, com 21.
Segundo o levantamento, a manifestação mais frequente foi por meio de cânticos homofóbicos vindos das arquibancadas. No entanto, houve uma exceção: o caso envolvendo Gabriel Lima, influenciador digital e torcedor do Ceará. Ele foi alvo de ataques nas redes sociais após publicar um vídeo dançando para celebrar a vitória do Vovô em uma partida da Copa do Nordeste.
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No caso do Fortaleza, todos os episódios relatados tiveram origem em músicas ofensivas, geralmente entoadas pela maior torcida organizada do clube.
Quando comparados os dados de 2022, houve um aumento expressivo no número de ocorrências registradas de um ano para outro envolvendo o cenário local. No relatório anterior, o Observatório relatou três casos no futebol cearense, com motivações variadas — no Brasil, foram 74. Vale ressaltar que aumento nos registros não necessariamente implica em aumento de casos.
Dois desses episódios, ocorridos em 2022, foram associados à torcida do Leão do Pici. O primeiro aconteceu durante a Copa São Paulo de Futebol Júnior, quando o clube omitiu o número 24 na lista oficial de atletas inscritos, perpetuando um estigma homofóbico — no Jogo do Bicho, o numeral é atribuido ao veado. O segundo foi registrado na final do Campeonato Cearense, contra o Caucaia, ocasião em que cânticos preconceituosos teriam sido entoados nas arquibancadas.
Em relação ao Alvinegro de Porangabuçu, um incidente foi registrado em 2022. A maior torcida organizada do clube divulgou um vídeo com uma música em tom de provocação, após o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) arquivar uma denúncia contra o grupo. Vina, jogador do Alvinegro à época, chegou a compartilhar o conteúdo nas redes sociais, gerando ainda mais repercussão.
Todavia, o lado positivo destacado no Anuário é o posicionamento dos clubes em datas de relevância para a causa. Tanto Ceará quanto Fortaleza utilizaram suas redes sociais para se manifestar em ocasiões importantes, como o Dia Internacional Contra a Homofobia, celebrado em 17 de maio, e o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, em 28 de junho.
Em 2022, o cenário foi diferente. À época, o Vovô optou por não se pronunciar em suas plataformas digitais na data do Orgulho LGBTQIA+.
Onã Rudá, presidente da Canarinhos LGBT destacou o posicionamento das agremiação em datas importantes para a causa. "Existem clubes da Série A que se posicionam e isso é muito importante. Nunca tivemos todos os 20 clubes, sempre fica faltando dois e não tem passado disso".
Além disso, Onã chamou atenção para a origem da maioria das infrações: as torcidas organizadas do clubes. "É importante observar que a maioria dos autores são torcidas organizadas e a maioria das vítimas. Há um crescimento em dois locais: estádios e meios de comunicação (redes sociais)", finalizou.