Mailson Furtado: o sucesso do futebol cearense como legado para o sentimento de cearensidade

Todos estes fatos trazem o futebol cearense a um outro patamar de sua história, mesmo este com grandes feitos no passado – Fortaleza vice-campeão das Taças Brasil 1960 e 1968, Ceará vice-campeão da Copa do Brasil de 1994

2023 finda e mais um ano do futebol cearense protagonista no cenário do futebol internacional, nacional e regional. O Ceará, tricampeão da Copa do Nordeste, o Ferroviário, bicampeão da série D, o Fortaleza, finalista da Copa Sul-Americana, além de uma campanha sólida na série A, chegando à marca de seis temporadas seguidas – a primeira vez que um clube nordestino consegue tal feito dentro dos pontos corridos. Das últimas sete edições contando já 2024, apenas o estado do Ceará manteve ao menos um representante na elite, tendo por quatro anos consecutivos a dupla Ceará-Fortaleza.

Todos estes fatos trazem o futebol cearense a um outro patamar de sua história, mesmo este com grandes feitos no passado – Fortaleza vice-campeão das Taças Brasil 1960 e 1968, Ceará vice-campeão da Copa do Brasil de 1994; este momento é distinto, e traz o estado cearense como centro inconteste de sua região no futebol, driblando Pernambuco e Bahia, tradicionalmente estados a disputarem esta simbólica “liderança”.

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Entre planejamentos e resultados (quase sempre positivos), esse caminhar cearense já segue pra quase uma década de consolidação, onde ano a ano, uma meta adiante é almejada, colocando, desta e pela primeira vez em toda a história, o futebol aqui praticado como referência nacional, tanto pelo exemplo de gestões esportivas, como pelos resultados e enfrentamento em mesmo nível a qualquer clube da elite nacional e continental.

Dentro desse crescimento, festejado pelas torcidas, e debatido inevitavelmente aqui e por outras praças, inclusive pela imprensa de alcance nacional, sediada no Sudeste, muita coisa se alia a este sucesso dentro do campo, ampliando a importância dessas conquistas que vão muito além dos clubes, cito duas: o já tão citado fortalecimento da economia e visibilidade dos envolvidos direto e indiretamente nos processos, como o próprio estado, a ser palco dos jogos das principais competições nacionais e continentais; e como segunda, que me deterei um pouco mais pelos vários desdobramentos, o aumento de torcida real – aquela que acompanha, compra produtos, vai a jogos, etc., que é de uma importância incomensurável, e da forma e velocidade que os processos caminham, uma transformação ainda mais profunda tende acontecer, alterando o cenário do torcer cearense. Explico.

Muitos daqueles que acompanham futebol no Nordeste, principalmente nos seus interiores, “aprenderam” a torcer ouvindo ou assistindo os times do eixo Rio-São Paulo, por motivos óbvios: as únicas emissoras de alcance nacional ao longo da segunda metade do século XX estavam lá localizadas, e logo, a atenção ali destacada. Logo, os primeiros times a torcer por alguns motivos, eram de longe, apenas e/ou depois como um segundo time, um clube cearense, com exceção quando este estava muito próximo desse torcedor e com resultados consideráveis, caso dos times da capital, do Guarany-Sobral, do Icasa, Guarani-Juazeiro e algum ou outro caso pontual. Como exemplo, trago a minha experiência: eu, criança, na década de 1990, numa pequena cidade interiorana cearense, a primeira lembrança que guardo de futebol surge entre 1997-98, quanto a do futebol local, apenas em 2001, e pela imprensa do Sudeste quando o Fortaleza à época esteve nas quartas-de-final da Copa do Brasil. Deste saber e encontro, me assustei ainda menino a não saber quase nada do que aqui se passava, e para acompanhar, o único meio possível até então – o rádio, já que o sinal da TV local, na então época das parabólicas, não estava inclusa na programação – um grande deserto de notícias. De forma gradual com o passar dos anos isto foi mudando, até a massificação da internet dos dias atuais, com o acesso quase ilimitado de informações em diversas frentes. E dentro de toda essa seara tornei-me o torcedor que sou hoje.

Assim a transformação e o crescimento da torcida cearense pelos times locais, principalmente no interior, já que na capital a dupla Ceará-Fortaleza, correndo por fora o Ferroviário, sempre estiveram no centro do acompanhar futebolístico, é entremeada por todas essas questões históricas e sociais, e neste momento, como talvez em nenhum outro da história, se amplie, trazendo os times daqui por motivos vários, a ser não o time de segunda ou terceira torcida, mas da primeira, quando não, da única. São incontáveis os grupos organizados de torcedores em todo o estado, inclusive fora dele, de Ceará e Fortaleza, que acompanham, consomem, caravanam a jogos, e o que antes era incomum encontrar nas ruas, em muros, em enfeites de bares, camisas e outros adereços desses clubes, em relação a clubes doutras regiões, hoje são marcas do cotidiano como nunca antes em todo o território do estado.

Com o alicerçar desse torcer, aparece o que há de mais amplo em todo esse processo e vai para além do futebol: o fortalecimento do sentir de pertença do lugar. Ter um time mais próximo e portanto real a tantas condições, principalmente da possibilidade do encontro, potencializado através do presente e crescente sucesso de todo o cenário, modificaram a perspectiva de visão, muito além das quatro linhas – o ver da cidade, do estado e de forma mais profunda, o de seu lugar no mundo. Como grande legado de todo esse processo, junto ao mérito esportivo de todo o cenário, tornando-o histórico, vem o fortalecimento da cearensidade, tão necessária para ampliar ainda mais o sentimento de brasilidade, tão convergente em suas diferenças, abrindo oportunidades para crença que o centro de tantas conquistas podem-se iniciar sim (por que não?!) nesta e para esta terra, já que como a gente mesmo diria: só precisava de um pezinho para ver que o mundo é mais feito por cá do que pensamos.

 

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