Setor inferior e sem cadeiras: torcidas organizadas mudarão de local no Castelão

Decisão é do Ministério Público do Estado do Ceará, que prevê mudança a partir de setembro e retirada de 5.900 cadeiras. Sesporte diz que "está aguardando os pareceres dos clubes e órgãos públicos para dar o encaminhamento à retirada"

20:13 | Jul. 17, 2023

Por: Victor Barros
FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 31.10.22: Arquibancadas em torcedores. Ceará x Fluminense, Campeonato Brasileiro, Arena Castelão, jogo sem torcida por conta suspensão. (Aurelio Alves/ O POVO) (foto: AURÉLIO ALVES)

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) determinou, por medida de segurança, que as torcidas organizadas de Ceará e Fortaleza ficarão alocadas nos setores inferiores da Arena Castelão. Com isso, no local, serão retiradas, ao todo, 5.900 cadeiras. Serão implementadas barras de ferros entre as fileiras a fim de manter separação e evitar "avalanches".

A previsão é que a partir de setembro o movimento ocorra na praça esportiva. Em contato com o Esportes O POVO, o Promotor de Justiça e Coordenador do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor (Nuditor), Edvando Elias de França, explicou os motivos que levaram o órgão tomar a decisão.

“Foi um alinhamento junto aos Bombeiros, clubes, ao Estado do Ceará, Secretaria do Esportes (Sesporte), onde chegamos ao consenso que seria interessante fazer essa mudança para prevenir violência. É uma medida que já aconteceu em diversos países que possuem problemas com violência no futebol”, destacou.

“Aqui no Brasil, a NeoQuímca Arena (Corinthians) e a Arena do Grêmio já foram retiradas (cadeiras). Então, agora, as organizadas saíram do anel superior e vão para o inferior no cimento. Com isso, vão poder pular à vontade, pois o que quebram as cadeiras não é apenas vandalismo, mas boa parte assistem em cima dos assentos”, ponderou Edvando Elias, usando de exemplos estádios brasileiros que já adotaram esse tipo de providência.

Historicamente, os grupos costumam ocupar a parte superior do Castelão. Porém, o MPCE esclareceu o porquê da escolha do canto para a mudança. “Tecnicamente falando, não dá para retirar (cadeiras do setor superior) porque os degraus são altos e poderiam causar acidentes. Inferior, não. Eles vão ficar atrás do gol, em um espaço de 5.900 lugares. Sem contar que quando tiram as cadeiras, fica maior”, pontuou.

“Foi um consenso. É interesse de todos (clubes, Estado do Ceará, MP, polícia) ter esse controle para evitar danos corporais, arremessos de cadeira. As torcidas estando no setor inferior, a polícia fica mais perto monitorando”, completou.

O promotor também declarou que todas as pessoas que se fizeram presentes na parte destinada às torcidas organizadas serão cadastradas para as autoridades terem um controle.

A Secretaria do Esporte (Sesporte) disse que “está aguardando os pareceres dos clubes e órgãos públicos para dar o encaminhamento à retirada”.

Nos últimos anos, a Arena Castelão foi palco de diversos atritos onde as cadeiras eram usadas como "armas" nas mão dos torcedores. Com isso, a ordem visa evitar que esse tipo de situação continue ocorrendo em jogos, principalmente, de Ceará e Fortaleza.

O que dizem as organizadas

O Esportes O POVO buscou também as organizadas de Ceará e Fortaleza, clubes que utilizam os estádios para os jogos. O presidente da Torcida Organizada Cearamor (TOC), Jeysivan Carlos dos Santos, o Jey, disse que o grupo não compactua com a escolha.

“Nos sentimos primeiramente excluídos. No início houve um diálogo, porém, não participamos da definição final. Em jogos com um público menor, obviamente a Cearamor facilmente conseguiria ocupar o espaço nas arquibancadas da inferior norte, porém, em um jogo de grande apelo, nossa torcida, devido ao grande número de componentes e materiais, ultrapassa a capacidade daquele local, assim tendo que utilizar as arquibancadas da superior norte. Sem contar que, em jogos com grandes públicos, se nós permanecermos no anel inferior haverá com certeza torcedores que irão adquirir ingresso do setor superior e 'pularão' para a parte inferior, episódio que as autoridades sabem que acontece", afirmou.

O responsável pela Torcida Uniformizada do Fortaleza (TUF), João Paulo, conhecido como Bombado, seguiu a mesma linha do dirigente rival. “Há muitos anos estamos lutando por um setor para as organizadas, mas de uma forma que seja bom para nós. Além de sermos torcedores organizados, somos consumidores e precisamos de um canto hábil para continuar fazendo festa. O nosso estádio tem muito a perder nos colocando para o setor inferior, pois é um espaço menor, as grandes festas são na parte superior. Além disso, o Castelão tem uma acústica ruim para a torcida que fica embaixo, pois o som dela não atinge o estádio. Eu acho que deveriam ser feito uns testes antes. coisas que não foram feitas. Eu acho que estão querendo economizar para fazer um setor para nós, mas não estamos de acordo em descer", assegurou.