Ex-presidente do Ferroviário desabafa e acusa Diá de ter "plantado crise"
O ex-dirigente do Ferroviário concedeu entrevista na última terça-feira, 9, e falou sobre a saída da presidência e os bastidores da instabilidade política do clubeO ex-presidente do Ferroviário, Newton Filho, desabafou sobre a situação do clube, rebaixado para a Série D do Brasileirão no último fim de semana. Ele renunciou ao cargo no início de julho, junto com o então diretor de futebol e investidor Arthur Boin.
Em entrevista ao Canal do Ferrão, na última terça-feira, 9, o ex-dirigente falou sobre a saída do time, de onde afirma ter sido “expulso” pelo Conselho Deliberativo, o reconhecimento da parcela de culpa no rebaixamento e a instabilidade política que o Tubarão da Barra sofreu ao longo da temporada.
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Instabilidade política
Newton apontou que o Ferroviário “não começou a cair agora”, uma vez que a instabilidade política teve início desde 2020, no período da pandemia.
O ex-dirigente disse que a pressão interna foi determinante para a renúncia. Ele falou que o ex-presidente do Conselho sugeriu que o atual dono do cargo solicitasse a destituição de Newton da presidência e que recebeu até orientações de um conselheiro para sair. Desta forma, acredita ter sido “expulso” e “assassinado politicamente” da instituição.
O antigo mandatário disparou contra o até então vice e atual presidente do Ferrão, Francisco Barros Machado Neto, a respeito da situação política do clube. Segundo ele, Neto falou ao presidente do Conselho que queria tomar conta da diretoria de futebol do Tubarão até o fim da Série C, e que isso criou ainda mais instabilidade, uma vez que Arthur Boin havia se demonstrado descontente pois tinha investido mais de R$ 2 milhões.
Tentativas de agressões
Newton Filho relatou que, além da pressão do Conselho e da perseguição política que sofreu, as tentativas de agressão contra ele foram determinantes para decidir renunciar.
“Queriam quebrar meu carro, tentaram me agredir em Teresina e também no meu último jogo, contra o Floresta. Depois de um cenário desses, de perseguição, pedidos de renúncia de conselheiros, de uma turma da torcida pedindo minha saída e eu não sairia?”, questionou.
“Tem um áudio da minha esposa chorando pedindo que eu saísse do Ferroviário, dizendo que o clube acabou com a nossa vida. E aí quando eu escuto um pedido desses com a minha esposa chorando, como eu não sairia nessa cobrança toda?”, disparou.
O ex-presidente ainda reclamou que as próprias pessoas de dentro do clube que queriam que ele saísse o acusaram de “abandonar o barco” e que foi responsabilizado pela má fase do time devido à renúncia.
Descontentamento com Francisco Diá
Newton também disparou contra o atual técnico do Ferroviário, Francisco Diá, que, segundo o ex-presidente, havia "plantado crise" ainda no início da temporada ao declarar que voltaria a treinar o Tubarão da Barra, mesmo com Paulinho Kobayashi no comando, que acabou se desligando do clube por esse motivo.
Ainda segundo o dirigente, Diá mantinha contato com Francisco Neto e solicitou a Arthur Boim a saída de Newton da presidência, pedindo que Neto assumisse para “salvar o time”. Esse episódio foi o estopim para a renúncia.
O antigo mandatário coral afirmou que o treinador, a princípio, não viria para o Ferroviário. Em suposto áudio do técnico para Felipe Boim, um dos investidores do clube, ele afirma que não vai assinar com o time por falta de dinheiro.
Em outro áudio, o vice-presidente supostamente havia pedido para o técnico fizesse “um esforço” para se juntar à equipe até o final do campeonato e que se o Ferroviário fosse rebaixado a culpa não seria deles.
“A que ponto nós chegamos de ter que implorar para o Diá vir treinar o Ferroviário? E olha que no áudio, para quem ouviu, fica claro lá qual é o plano: 'Venham, que se a gente cair a culpa não é nossa’. Então esse é o discurso agora. De quem é a culpa? É do Newton. O Newton derrubou o time. E aí a coisa dá errado, mas se desse certo eram heróis porque salvaram, aí como deu errado a culpa não eram deles?”, disparou o ex-presidente.
Contratações
Newton Filho falou que o Tubarão estava realizando contratações momentos antes da renúncia e revelou que, em conversa com Arthur Boim, o clube poderia comprar um time inteiro se fosse necessário para evitar o rebaixamento.
Ele ainda criticou alguns reforços, como Reinaldo e um outro jogador, cujo nome não foi citado, que não poderia atuar na Série C por motivos burocráticos. Segundo ele, a diretoria não tinha consciência sobre a indisponibilidade do atleta para a disputa da competição. O clube só teria ficado ciente devido ao setor de marketing, que descobriu o imbróglio, que poderia gerar problemas jurídicos ao clube.
“Se isso ocorre durante a minha gestão, eu teria sido linchado em praça pública”, alfinetou.
“Bicho” oferecido antes de decisão
O ex-presidente revelou que ofereceu premiação aos jogadores no valor de R$ 30 mil para servir de incentivo para o jogo contra o Volta Redonda, pela 18ª rodada da Série C, em partida que acabou culminando no rebaixamento do Ferroviário para a quarta divisão.
Segundo Newton, a atitude foi vista pelos atuais membros da cúpula do clube como uma forma de atrapalhar o time, mesmo estando fora da diretoria.
Ele afirma ter ligado para alguns jogadores, incluindo o capitão da partida, o atacante Edson Cariús, para oferecer a premiação. Conforme o ex-presidente, o “bicho” havia terminado após renunciar ao cargo.
Parcela de culpa no rebaixamento
Newton Filho reconhece a parcela de culpa no rebaixamento do Ferroviário. No entanto, aponta a instabilidade política do clube como o principal motivo do fracasso do time na terceira divisão.
O ex-mandatário disse que o caminho para reerguer o clube coral seria uma diretoria profissional e remunerada e que “se esse caminho for a SAF (clube-empresa), que seja a SAF”. Ele acredita que deve haver uma limpeza geral, uma vez que afirmou que o clube “tem seus donos”. “É quem está lá há 20 anos, e entra e sai presidente e os caras estão lá”, apontou.
Newton ainda contou que quis tratar o clube de maneira profissional, mas que foi impedido pelos membros da diretoria. “A partir do momento que eu quis tratar o clube como empresa, com uma gestão profissional que eu queria fazer, eu fui taxado de centralizador, eu fui taxado de autoritário, eu fui taxado de tudo. O Ferroviário é uma máquina de moer reputação”, lamentou.
Ferroviário em silêncio
O Esportes O POVO tentou entrar em contato com o Ferroviário a respeito das declarações do ex-presidente, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.
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