Barbalha vive crise com salários atrasados e ameaça de despejo; presidente avalia renúncia

Jogadores da Raposa têm valores de vencimentos e hospedagem em aberto e acionam Sindicato dos Atletas. Mandatário em exercício do clube pode deixar o cargo

16:29 | Mar. 01, 2021

Por: Afonso Ribeiro
Jogadores disputam a bola no jogo Barbalha x Atlético Cearense, no estádio Inaldão, pelo Campeonato Cearense Série A (foto: Antonio Josimar Segundo)

Na zona de rebaixamento do Campeonato Cearense após perder por 8 a 0 do Caucaia, o Barbalha convive com grave crise financeira em tempos de pandemia de Covid-19. A equipe do Cariri tem pendências salariais e relativas a moradia com os atletas, vê o clima interno se deteriorar, e o presidente em exercício Roberto Antônio de Castro Macedo considera renunciar ao cargo, apurou o Esportes O POVO.

Os problemas internos na Raposa dos Verdes Canaviais ganharam proporção na semana passada. Com jogo marcado para a última sexta-feira, 26, diante do Ferroviário, em Fortaleza, os jogadores procuraram o presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado (Safece), Marcos Gaúcho, para denunciar as dívidas do clube. 

Além do débito dos vencimentos, os valores da pousada que abriga atletas estavam em aberto, com ameaça de despejo. O Safece disponibilizou uma advogada, quitou o débito da hospedagem e costurou acordo para ser cumprido até a partida contra o Tubarão da Barra, mas sem sucesso — o time coral venceu por 5 a 2. O clube não deve sofrer punição desportiva, mas pode ser acionado na Justiça pelos jogadores.

"Quando nós soubemos dos problemas relacionados a salários atrasados no Barbalha, através de denúncia de alguns atletas que nos ligaram, nós contratamos a doutora Marilene (Gonçalves de Alencar), lá no Cariri. Ela é (advogada) trabalhista, tem experiência no esporte, inclusive já tem algumas ações contra alguns clubes da Região. E nós avisamos o capitão do time na ocasião, o Marinho, eles fizeram o contato, ela foi na pousada, conversou com os atletas, detectou que os jogadores estavam sendo despejados. Nós pagamos três diárias, de segunda até quinta-feira meio-dia, para evitar que isso ocorresse, e ela orientou todos na parte jurídica de direitos e deveres", disse Marcos Gaúcho ao Esportes O POVO.

"Eles vieram para jogar contra o Ferroviário, nós fomos no hotel. Havia um acordo a ser cumprido financeiramente e não foi cumprido, apenas parte do acordo, e nós, junto com eles, no próprio vestiário, chegamos à conclusão de que eles deveriam participar (do jogo), mesmo com o acordo não tendo sido completamente respeitado. Mas com os valores que eles haviam recebido, e isso foi tratado entre o capitão e o Gilson, que é diretor lá, entraram em campo, fizeram a partida e foram embora. Agora, dois jogadores que não viajaram fizeram a denúncia, com uma outra advogada, e é legítimo, eles podem procurar profissional liberal que eles quiserem. Mas nós mantemos nossa advogada atenta aos movimentos e todo atleta que precisar de apoio jurídico através do Sindicato, nós estamos à disposição", completou o presidente do Safece.

Em meio à crise, alguns jogadores já conseguiram rescisão contratual e deixaram a Raposa. O caso já é de conhecimento também da Federação Cearense de Futebol (FCF). A situação financeira agravada pela pandemia deixa o cenário indefinido, e o mandatário em exercício do clube avalia renunciar. do cargo. Roberto Antônio de Castro Macedo ocupa a presidência desde que Lúcio Barão foi afastado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e pela Comissão de Ética da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

"Nós temos o poder trabalhista, de cobrar na Justiça os direitos dos atletas. Eu conversei no domingo, quando eles foram jogar contra o Ferroviário, com o Gilson, não consegui conversar com o presidente. Ele ponderando com relação às dificuldades, fez todo o esforço possível para que pelo menos parte dos valores chegassem na conta dos atletas para que eles cumprissem contra o Ferroviário. Nenhum atleta fez contato comingo hoje (segunda-feira), não sei como está a preparação para o jogo, e vi na imprensa o ocorrido, inclusive envolvendo supostamente fraude de documentação. Aí, já transcende, já sai de uma área trabalhista para uma área policial, criminal. Se isso for comprovado, cada um vai ter que responder de acordo com a situação. Mas estamos à disposição, temos uma advogada lá, pagamos a pousada, colaboramos com os atletas, demos dinheiro para alguma emergência, enfim, fizemos um trabalho sindical bem forte", ponderou Gaúcho.

Apesar das pendências, o Barbalha entrou em campo diante do Caucaia, nesta segunda-feira, 1º, no Inaldão, pela quinta rodada da primeira fase do Estadual, sendo derrotado por 8 a 0. Com mais dois compromissos pela frente, até o próximo domingo, 7, parte do elenco deve permanecer para tentar evitar o rebaixamento e despertar interesse de outros clubes no mercado da bola.

"Alguns saíram, o próprio capitão já saiu, fez uma rescisão. E isso é muito individual. Às vezes eles têm um empresário ou advogado de confiança, alguns tentam pelo Sindicato. O que a gente pode fazer é oferecer o serviço e estar à disposição para orientar e tomar as decisões cabíveis juridicamente em caso de decisão do atleta. Porque a decisão é dele. Tem jogador que mesmo com dificuldade salarial quer jogar para fazer o DVD, jogar o jogo da televisão, sei lá quais são os motivoss. E tem jogador um pouco mais maduro que não quer saber disso, quer saber do salário dele. Então, isso é muito individual. A gente expõe no conjunto, mas as decisões são individuais, e a gente respeita a decisão que cada um pode tomar", justificou Marcos Gaúcho.

Procurado pelo Esportes O POVO, o presidente da Raposa, Roberto Antônio de Castro Macedo, não atendeu as ligações.