Retrospectiva: Ceará fecha 2024 com conquista do Cearense e acesso à Série A

Alvinegro viveu imbróglios fora de campo, mas conseguiu finalizar 2024 com os dois maiores objetivos conquistados

10:32 | Dez. 30, 2024

Por: Iara Costa
Recalde comemora o gol da vitória do Ceará contra o Brusque (foto: MICHAEL DOUGLAS/W9 PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)

O ano de 2024 foi mágico para o Ceará. Em sua primeira competição do calendário, o Alvinegro de Porangabuçu alcançou o título do Campeonato Cearense após cinco anos, vencendo o Fortaleza nos pênaltis e impedindo um inédito hexa do rival. O ciclo anual se encerrou com o desejado retorno à Série A do Campeonato Brasileiro.

As duas conquistas foram alcançadas por um bom mercado feito pelo Vovô, mas principalmente pela resiliência do grupo em se manter focado nas metas do ano em meio a imbróglios jurídicos e políticos.

Com o "fico" de Vagner Mancini, ainda em dezembro de 2023, o clube começou uma reformulação que foi de fora para dentro de campo. Lucas Drubscky foi anunciado como executivo e Haroldo Martins como diretor de futebol e outros profissionais foram contratados para outros departamentos, como Isaque Silva que foi para a parte de análise.

Dentro de campo, as mudanças também foram executadas rapidamente. Chay, Caíque, Warley e Michel Macedo foram dispensados ainda em novembro e, no mês seguinte, o clube já anunciou a primeira contratação, que se provou certeira: Lourenço. Além dele, chegaram ao Vovô antes do primeiro jogo do Campeonato Cearense: Aylon, Fernando Miguel, Mugni, Ramon Menezes, Raí Ramos, Recalde, Matheus Felipe, Facundo Castro, Facundo Barceló e Bruninho.

Com um alto número de contratados, o Ceará resolveu apresentá-los em um treino aberto para a torcida. A atividade foi realizada no estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, e contou com a presença de 14 mil torcedores.

Na ocasião, alguns dos novos jogadores do Vovô se pronunciaram para os alvinegros, como o goleiro Fernando Miguel, que recém chegado após temporada no Fortaleza, ressaltou que seria "um atleta leal e comprometido".

Bom começo de temporada, mas com imbróglios

Apesar da boa energia com a torcida que compareceu em bom número ao treino aberto de pré-temporada, o Ceará viveu alguns infortúnios fora de campo. O primeiro e um dos mais arrastados foi a batalha judicial com Chrystian Barletta, ex-atleta do clube que acionou o time na Justiça por verbas em atraso. O caso terminou com acordo, e o Alvinegro pagando milhões para um atleta de time rival — o Sport-PE.

O presidente do Alvinegro, João Paulo Silva, confirmou dívidas ainda com o Floresta, jogadores dos elencos de 2022 e 2023 e R$ 46 milhões em pendências tributárias. Foram ainda três proibições de transferências durante a temporada.

Dentro de campo, entretanto, a caminhada alvinegra começou mais sossegada. Apesar do começo com um empate em 1 a 1 diante do Maracanã, duas vitórias — diante do Floresta e Atlético-CE — foram o suficiente para colocar o grupo na liderança do Grupo B do Estadual. Nesse meio tempo, o clube ainda anunciou as contratações de Jean Irmer e Rafael Ramos.

A caminhada até o título do Estadual

Nas duas últimas rodadas antes das semifinais, o Ceará protagonizou uma grande goleada diante do Caucaia, por 5 a 0, e fez o seu primeiro grande teste do ano: o primeiro Clássico-Rei diante do Fortaleza. Intensa, a partida terminou em 3 a 3, o que levou ambas as equipes direto para a semifinal.

Se de um lado o Fortaleza buscava o hexacampeonato, do outro o Ceará estava com sangue nos olhos para se provar ao torcedor e demonstrar que faria uma temporada diferente da frustração de 2023. A tarefa não foi fácil, uma vez que o clube não fazia boa Copa do Nordeste.

Dentro de campo, as falhas eram principalmente defensivas, com o time chegando a ser vazado sete vezes em três jogos e tendo apenas 22% de aproveitamento como mandante do certame nordestino, mas o clube superou o momento difícil principalmente com a dupla Erick Pulga e Aylon que, juntos, eram responsáveis por uma alta porcentagem dos gols alvinegros.

Foi com eles que o Vovô superou o Ferroviário nas semifinais, indo atrás do título do Campeonato Cearense diante do Fortaleza em duas grandes finais na Arena Castelão.

No primeiro jogo da decisão, com grande atuação de Richard, o Ceará conseguiu conter o mandante Fortaleza e segurou o empate em 0 a 0. Na partida de volta, a igualdade se repetiu, dessa vez em 1 a 1, e o título do Alvinegro de Porangabuçu foi decidido nos pênaltis, consagrando o Vovô campeão.

Copas abaixo do esperado e demissão de Mancini

O título do Campeonato Cearense não maquiou as má atuações que o Ceará por vezes apresentava e logo o baixo desempenho do Vovô foi ficando nítido ao torcedor para além dos números. Na Copa do Nordeste, o time chegou a ficar nas últimas colocações e passou por um jogo dramático para se classificar para as quartas de final, onde em seguida foi eliminado pelo Sport com um gol sofrido nos acréscimos.

Buscando não repetir os mesmos erros das temporadas anteriores, o Ceará voltou ao mercado contratando De Lucca e Maycon Cleiton, mas o time não conseguia qualquer destaque no início da Série B e preocupava a torcida.

Em meio ao certame nacional em busca pelo acesso, o Ceará ainda jogou a Copa do Brasil, onde foi eliminado pelo CRB na terceira fase. A saída do Vovô de um torneio que poderiam gerar renda ao clube levou o trabalho de Mancini a ainda mais questionamentos e fez até com que a torcida realizasse protestos contra elenco, diretoria e técnico. 

A pressão e mais oscilações tanto dentro quanto fora de casa anteciparam o adeus de Mancini ao clube. 

A chegada de Léo Condé e o acesso alcançado

A missão de Léo Condé era apenas uma, ainda que árdua: colocar o Ceará nos eixos dentro de campo. Com um time de postura mais reativa, o treinador chegado do Vitória já tinha em mãos um dos melhores ataques da Série B, mas tinha como missão tirar o time da lista de piores defesas.

Já em julho, ele Condé conseguiu fazer com que o clube se aproximasse do sonhado G-4. Em agosto, o Ceará chegou a marcar matematicamente somente 9,3% de chance de acesso, mas, com as vitórias e um forte fator casa, essa porcentagem foi aumentando. 

A três rodadas do fim da Série B, o Ceará contabilizava 26% de chance de acesso para Série A. A goleada diante do Botafogo-SP em noite inspirada de Saulo Mineiro e a vitória diante América-MG em um Castelão lotado, fizeram o time depender apenas de si.

O apoio da torcida, especialmente na reta final, foi um dos principais combustíveis para que, com um empate com o Guarani — somado a vitória do Goiás sobre o Novorizontino —, o Alvinegro de Porangabuçu carimbasse o retorno à Série A de 2025. 

Os imbróglios jurídicos

Se dentro de campo o Ceará viveu um 2024 agitado, fora dele o enredo não foi diferente. Desde o início do ano, o Vovô enfrentou transfers ban (três ao todo) e processos na Justiça. O primeiro caso após o início da batalha judicial com Barletta ocorreu com a equipe feminina, já que o Vovô optou pela dissolução do time, sem aviso prévio às jogadoras, e acabou sendo processado por algumas delas. 

O maior imbróglio ocorreu, no entanto, com transfers bans pelo atraso no pagamento ao Yokohama FC e ao Vissel Kobe por contratações de Wescley e Saulo Mineiro. 

Houve problema também com as patrocinadoras. Após romper com uma bet, o Ceará assinou com outra, que posteriormente foi investigada em esquema de lavagem de dinheiro, mas resguardado juridicamente, o clube conseguiu finalizar 2024 sem qualquer problema por conta da casa de aposta.

No aspecto político, também houve rusgas entre a diretoria executiva e o Conselho Deliberativo. De lados opostos, os dois viveram problemas, incluindo medidas e processos judiciais, por conta da votação do novo estatuto, que acabou por ser reprovado.

Posteriormente, o imbróglio entre as partes ocorreu pelas eleições da diretoria executiva, que viveu ainda votação ao final do ano com a reeleição do presidente João Paulo Silva.

Resultados por competição

Campeonato Cearense: campeão

Copa do Nordeste: eliminado nas quartas de final pelo Sport

Copa do Brasil: eliminado na terceira fase pelo CRB

Campeonato Brasileiro Série B: quarto colocado (subiu à Série A)